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Jonas Negalha, o açoriano que resistia no Brasil à ditadura de Salazar em livro

Vou falar sobre o livro, sobretudo, porque é um projecto já antigo. Há cerca de 20 anos, encontrei-me com o doutor Carlos Melo Bento por razoes profissionais e quando soube o meu nome lembrou-se se eu tinha a ver com algo com uma pessoa de que já tinha ouvido falar, que era o Jonas Negalha. Eu disse que era sobrinho. Na altura prontificou-se logo a procurar nos seus ficheiros textos sobre o meu tio.
O meu tio partiu para o Brasil muito cedo. Nasci em 1962 e ele partiu para lá em 1961. Guardei estes poemas com a ideia de os publicar. Várias ideias foram surgindo e pensei que, com a proximidade do 25 de Abril, seria uma óptima altura para ser lançado.
São poemas um bocado sofridos. Não sabia se as pessoas iam aderir ou se alguma editora iria querer pegar nisto. Então lembrei-me que conhecia a minha colega, a Alexandra, e pensei que seria a pessoa indicada para este projecto.
Enquadra-se nos 50 anos do 25 de Abril porque há uns Açores antes e uns Açores depois do 25 de Abril. Este livro retrata os Açores antes. Hoje já ninguém se lembra do que eram os Açores antes.
Meu tio era uma pessoa que gritava pela liberdade e que acusa o fechamento e falta de possibilidade de falar e de se lançar no mundo. De conhecer. Formou-se na Escola Antero Quental. A biblioteca da escola era o espaço de liberdade. A ilha para ele era para onde mandavam quem era contra o regime e contra o sistema. Tudo o que era incómodo vinha para aqui. Não estamos só a falar no período salazarista, mas também na Primeira República e até no período monárquico. Isto era um desterro e para onde mandavam os indesejados. Ele sentia isto.
Estão alguns poemas dele publicados na internet no álbum de Luís Cilia, que é um cantor de intervenção, que em França vai musicar alguns poemas.
Quando partiu para o Brasil continuou numa luta, e agora, sim, declaradamente, contra o regime. Depois, a PIDE até deu ordem de captura sobre ele porque era uma personagem incómoda. Juntou-se a um grupo de portugueses que estavam no Brasil a fazer resistência ao regime em Portugal. Será o próximo livro.
É um livro intergeracional. Está aqui uma diferença de 60 anos. Tem uma visão dos Açores de há 60 anos atrás, em contraste com a actual. Hoje podemos sair da ilha quando queremos.
Naquela altura, levavam três dias de barco e era uma exorbitância. Para os jovens que tinham dinheiro era uma folia pegada mas para quem veio da Lomba da Maia e não tinha dinheiro para se sustentar no continente e fazer um curso superior, era uma grande limitação. O grande sentimento de revolta do meu tio era mesmo esse: O estar preso na ilha quando precisava de sair, de partir para fora.

Francisco Negalha, professor de Historia
e sobrinho de Jonas Negalha (autor do livro)

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