Falar do jornalismo desportivo açoriano é também falar de Mário Cunha, que passou pela rádio, jornais e RTP-Açores, onde esteve durante 23 anos e foi ainda o primeiro correspondente de um jornal diário desportivo nacional nos Açores, mais concretamente, do jornal Record.
Mário José Cunha, de 74 anos de idade está prestes a comemorar mais um aniversário, no dia 10 de Maio.
Mário Cunha é natural de Luanda, Angola, onde nasceu em 1949 e foi lá na sua terra, que aos 18 anos iniciou a sua carreira de jornalista, mais concretamente na rádio. Depois dessa experiência passou pelo Jornal de Angola, que era a publicação de maior expansão naquele país, até que a 22 de Julho de 1976 veio para São Miguel, há 48 anos atrás.
A proclamação da independência de Angola dá-se no dia 11 de Novembro de 1975 e poucos meses depois vem para cá, após a célebre manifestação de 6 de Junho de 1975.
Mário Cunha, que sai de país extenso, que não tinha fronteiras veio para uma ilha e quase que sofreu “um impacto de claustrofobia. Estava agora numa terra rodeada por mar por todos os lados, não podia sair por lado nenhum e esse foi o meu grande primeiro choque, e “encontrei, naquela altura, uma sociedade micaelense muito fechada. Eram pessoas, que não estavam habituadas a abrirem-se, mas isso também era natural, porque a Região estava fechada, por culpa do império da capital”.
Com o passar do tempo, as pessoas começaram a conhecer melhor o nosso entrevistado e a partir daí, Mário Cunha foi angariando amizades e foi, inclusivamente ajudado por micaelenses. “A sociedade era fechada, mas as pessoas são aquelas, que hoje são, boas pessoas, só que na altura viviam fechadas dentro de si próprias”.
Processo de desenvolvimento
“Com a chegada da Universidade dos Açores”, que ocorre após a implantação do regime autonómico dos Açores, “os horizontes dessa sociedade fechada começaram a abrir-se, porque começou a haver um intercâmbio entre alunos das ilhas para o território nacional e vice-versa”.
Nesse processo de desenvolvimento, Mário Cunha fala ainda da importância “da participação do CD Santa Clara nos campeonatos nacionais”, para além de “um Governo que começou a rasgar estradas. Ainda sou do tempo, que a avenida de São Gonçalo era de terra. Fui sentido uma evolução, que a partir dos anos 80/90 disparou para aquilo que hoje em dia nós tempos, porque antigamente era impensável sequer dizermos, que iríamos ter uma via rápida Ponta Delgada – Nordeste. As grandes distâncias encurtaram-se e hoje em dia vamos a qualquer lado em 20 ou 30 minutos”.
Para além da Universidade dos Açores, “a abertura do espaço aéreo dos Açores foi também muito importante, com a chegada de outras companhias aéreas e o desenvolvimento é aquele que se vê, e que não sabemos aonde é que vai parar, porque também o turismo de massa, que não se pretendia está a acontecer, porque também já temos estruturas, que não tínhamos”.
Jornalismo em crescendo
Em São Miguel e no jornalismo, Mário Cunha começa a colaborar com o Clube Asas do Atlântico, que tinha uma delegação por cima das instalações do Correio dos Açores, na Rua da Misericórdia. Foi para lá trabalhar, a convite do Fernando Franco, onde esteve um ano, só que entretanto, recebe um convite do jornalista José Silva para fazer parte da equipa do Correio dos Açores, que não se concretizou, porque José Silva iniciou um projecto no Açoriano Oriental. Sobre José Silva, diz que foi o seu “grande mentor e o responsável por ter seguido a profissão de jornalista”.
Já no Açoriano Oriental, faz parte da equipa que levou para as bancas o Jornal do Desporto. “Foi um projecto muito interessante, que mobilizou muita gente e talvez tenha sido a maior redacção da Região”, que durou três anos, regressando mais tarde para um novo projecto de mais dois anos, mas estando sempre ligado à redacção do Açoriano Oriental.
Já na RTP-Açores, José Silva volta a chamar Mário Cunha, onde esteve 23 anos.
Referências
“Em todos os lados tive grandes momentos. Contudo, tanto a rádio como os jornais serviram-me de muita aprendizagem para a televisão, mas tive a sorte de ter grandes mestres, e não posso deixar passar a oportunidade de referir alguns nomes. Como mentor, como pessoa que é e que me levou para o jornalismo e para a televisão, o José Silva, que foi meu chefe de redacção no jornal e na televisão, e depois tenho referências, como o João de Brito Zeferino, que também foi chefe de redacção e passei para subchefe da redacção, o Carlos Alberto Alves, que hoje está no Brasil e também foi meu chefe de redacção, mas a pessoa que mais me impressionou como director de um jornal foi o Gustavo Moura, porque era difícil encontrar uma pessoa tão humana como ele. Nunca o vi levantar a voz, fosse para quem fosse, mesmo em momentos difíceis, que se passavam nas redacções e ele resolvia sempre os problemas chamando a pessoa ao seu gabinete e nunca, nunca mesmo, levantava a voz fosse para o que fosse. Como jornalista, quem sou eu para falar do Gustavo Moura, mas como homem foi das melhores pessoas que conheci. Também tenho de referir o nome do Osvaldo Cabral, que como Director da RTP-Açores foi também do melhor que já vi”.
“Não posso viver sem estar no desporto”
“Quase todos têm as suas preferências clubísticas, uns dizem de quem são e outros não dizem, mas não tenho problemas em dizer, que sou sportinguista desde que nasci e, então, fiz parte da direcção fundadora do Núcleo Sportinguista de São Miguel e de Santa Maria, que depois mais tarde, Santa Maria viria a constituir o seu núcleo, e nós passamos a Núcleo do Sporting Clube de Portugal da Ilha de São Miguel e já lá vão alguns anos”, onde neste momento é o Presidente do Conselho Fiscal, da Direcção de Carlos Melo.
Para além disso, Mário Cunha faz parte da Direcção da Associação de Voleibol de São Miguel como 2.º Secretário.
Deste modo diz: “o desporto não me larga e não largo o desporto porque não posso viver sem estar no desporto”.
Mário Cunha deu a sua contribuição para o jornalismo desportivo e para a visibilidade nacional do desporto nos Açores, porque foi durante 21 anos, o correspondente do jornal desportivo Record para nos Açores.
Mário Cunha é casado, a mulher é natural de Santo Tirso e a filha do casal é micaelense (nasceu em 1977), tal como o neto, que já tem 15 anos de idade.
“Já sou dos Açores há muitos anos, nunca sai de cá, nunca sairei e um dia partirei, mas não será para nenhum lado, que não seja os Açores”.
Marco Sousa