Como Português que cumpriu, como milhares de jovens da minha geração o serviço militar obrigatório durante cerca de cinco anos, dos quais dois anos e meio no Continente e aproximadamente o mesmo tempo em Moçambique, não direi que fiquei admirado, mas sim indignado e revoltado ao ouvir o Presidente Português e Comandante Chefe das Forças Armadas Portuguesas pedir desculpa aos Países de língua oficial Portuguesa pelos crimes cometidos por nós nessa guerra. Quero dizer-lhe com todas as letras que não sou nem fomos, nenhuns criminosos, mercenários e muito menos terroristas, nem nenhum dos jovens da minha geração o foram, o que fomos, foram jovens obrigados a participar nessa guerra por dever patriótico e não por prazer.
Uma guerra que se prolongou por 13 anos por culpa exclusiva dos políticos da época que por falta de visão não compreenderam o sentido dos ventos da história ou pior por fanatismo político, nunca aceitaram resolver o problema e pôr fim à mesma pela via diplomática.
Também lhe digo que não lhe dei nenhuma procuração para pedir desculpas minhas, como antigo combatente a esses países e estou certo que dificilmente terá essa procuração de algum de nós.
Também lhe quero dizer que corri os distritos do Niassa e Cabo Delgado numa companhia de intervenção de tropas Africanas e Milícias, como não podia deixar de ser também Africanos e o que senti nesses militares e milícias foi muito orgulho em serem Portugueses, e não desertaram como alguns ilustres portugueses que enquanto comeram e beberam do bom whisk, nas messes com ar condicionado, não desertaram, mas só o fizerem quando as suas vidas corriam ou iam correr risco, mas os Militares Africanos Portugueses com Maiúscula tiveram como recompensa a morte a tortura e até alguns enterrados ainda vivos, a esses peço as maiores desculpas e presto-lhes a minha homenagem.
Já agora aproveito a oportunidade para lhe recomendar que leia a história das Tropas Landins que heroicamente combateram em Macau, Timor, Índia, Angola e que no norte de Moçambique foram eles que combateram e venceram os Alemães. Na minha modesta opinião digo que foram eles os verdadeiros heróis do nosso império do Oriente.
Quanto ao seu patriotismo o que sei, é que quando estava em idade de prestar o serviço militar obrigatório, escapou-se ao serviço militar e como sabe era obrigatório, traindo Portugal o seu Pais e toda a juventude Portuguesa da sua geração, não por ser doente ou deficiente mas provavelmente por ser filho dum Ministro de Salazar e Governador-geral de Moçambique.
Mas antes de terminar queria dizer-lhe que há alguns factos que até hoje me marcaram e que são a prova de que não éramos mercenários pagos a peso de ouro para fazer a guerra;
Primeiro – O primeiro Açoreano a morrer em Angola foi um grande amigo meu Augusto Faria que morreu para não matar um inimigo.
Segundo – O Norberto Cardoso que morreu para salvar os seus camaradas, pois segundo me foi contado abafou o rebentamento de uma granada com o seu corpo que deve ter ficado em pedaços mas os camaradas que o rodeavam salvaram-se.
E quantos de nós teriam a coragem de fazer o que eles fizeram?
E fico por aqui, para não ser maçador e dizer-lhe mais algumas verdades que não seriam agradáveis para si e para mais alguns ilustres e muito honrados Portugueses, que se serviram da sua posição, depois do 25 de Abril, feito pelos Militares e não pelos Políticos que nunca tiveram coragem de tomar as medidas certas para pôr fim a essa guerra que tantos jovens matou e incapacitou outros para o resto da vida.
E finalmente, Senhor Presidente da República e Comandante Chefe das Forças Armadas, também tomei nota da sua ideia de indemnizar as ex – colónias pelos danos que causamos durante o período colonial e sobre tudo com a escravatura.
Mas com esse mesmo espírito de solidariedade pergunto-lhe, será que o Senhor pretende criar na Presidência da República ou propor ao Governo que crie no Ministério da Defesa um fundo que se destine a trazer para Portugal os restos mortais de milhares de militares que lá morreram dando a vida pela Pátria e que lá ficaram enterrados pura e simplesmente porque as suas famílias não tiveram dinheiro para pagar o transporte dos seus entes queridos para Portugal. Isto sim, é que deve de envergonhar Portugal os seus Governantes e o Senhor como Chefe Supremo das Forças Armadas têm a obrigação de a tomar, pois é da mais elementar justiça isso sim, o trazerem os restos mortais dos que lá ficaram.
António Viana