Edit Template

Nadador-salvador e licenciatura em Turismo para viver na Islândia e Turquia: a história de trabalho e lazer do jovem Hugo Félix

Natural de São José, com 26 anos, Hugo Félix já percorreu vários países. Considera que fica “confortável com o desconforto” e é o responsável pelo grupo de açorianos que vive na Islândia – Filipe Costa, José Francisco Gamboa, Vítor Medeiros e o seu irmão, Vítor Félix. O jovem açoriano saiu recentemente da Islândia, um país com 236 mil habitantes, e foi para a Turquia, um país com mais de 85 milhões de pessoas, onde trabalha como supervisor do Beach Club do Bodrum Edition. Em entrevista ao Correio dos Açores, Hugo Félix explica como surgiu a oportunidade, o seu espírito de aventureiro e diz que ainda quer conhecer mais do mundo para que um dia, quando voltar aos Açores, poder partilhar com os conterrâneos algumas das experiências e cultura que adquiriu ao longo do seu percurso.

Correio dos Açores – Como surgiu a ideia de começar uma vida na Islândia? Porquê esse país?
Hugo Félix (Supervisor do Beach Club do Bodrum Edition) – Inicialmente, a ideia de viver para fora de Portugal surgiu pela minha forma de encarar a vida e por querer conhecer mais do mundo. A busca por trabalho em plataformas online foi incansável até que uma proposta que havia encontrado no Facebook, mudou-me o rumo de vida. Para ser sincero, nunca pensei encontrar um trabalho por esta rede social, mas como dizem: “Quem procura, sempre alcança”. A realidade portuguesa em termos de trabalho é a que conhecemos: pouca margem de progressão e não apresenta incentivos suficientes que me satisfaziam. Enviei currículos para todos os lugares do globo – EUA, Austrália, Europa, Canadá e até para a Ásia. Mas foi para a Islândia que o destino me levou, uma pequena vila chamada Seydisfjordour com cerca de 650 habitantes, muito movimentada durante o Verão pelo ferry que transporta não só passageiros, mas também automóveis de todo o tipo (caravanas, carros, motas) para a Dinamarca, a única ligação via marítima. E assim começou a minha aventura, num país desconhecido e com dinheiro suficiente para voltar caso as coisas dessem para o torto, mas lá no fundo sabia que ia dar certo.

Foi o primeiro do grupo de açorianos a viver na Islândia. Como foi a experiência? Como surgiu a oportunidade de acolher quatro pessoas?
Sim, quando me mudei para a Islândia tive um período de adaptação de três meses numa pequena vila. Após esta experiência mudei-me para Reiquejavique onde fiquei os restantes 2 anos e 9 meses. A adaptação inicial não foi fácil. A procura por alojamento na capital é muito alta, após um mês de procura posso dizer que tive sorte no apartamento. Fica a 15 minutos a pé do centro, uma caminhada que se faz com muito gosto, passa-se pelo lago de Reiquejavique que se encontra cheio de vida, mais concretamente patos, cisnes e algumas aves migratórias. No Inverno, quando o lago se encontra congelado é possível ver a população local desfrutar através do ice skating ou até mesmo apenas para atravessar de forma a chegar ao centro da cidade de uma forma diferente do habitual; não é todos os dias que podemos andar por cima de água.
Fazendo um pequeno contexto, sempre quis para os outros aquilo que de bom me acontecia e não é por acaso que consegui convencer não só o meu irmão, mas também meus amigos de coração, José, Filipe, Vítor e Bernardo. Tiveram a oportunidade de embarcar nesta aventura que se veio demonstrar benéfica também para eles. O Bernardo apenas teve a oportunidade de viver três meses, sabendo que depois iria embarcar no seu ramo de estudos, engenheiro em navios de cruzeiro. Após memórias inesquecíveis com todos eles, só posso dizer que sinto nada mais, nada menos do que orgulho e imensa saudade. Tenho a perfeita noção que a partir daqui serão pessoas mais capazes e felizes por termos vivido essa experiência juntos. Um abraço com muita saudade a todos eles.

Qual foi o seu percurso na Islândia? Como foi a experiência?
Como já mencionei, trabalhei nesta pequena vila num restaurante como server durante 3 meses. Já em Reiquejavique comecei a trabalhar no lobby bar do Reykjavik Edition como server de cocktails. Com o passar do tempo e com a acumulação de algum conhecimento algumas oportunidades foram me dadas como bartender. O gosto pela criação de cocktails desenvolveu-se de forma que actualmente é uma paixão. A partir daqui, decidi realizar um curso de bartender e de mixologia em Nova Iorque, onde durante 35 dias tivemos masterclasses, palestras e muita diversão. Não esquecer de mencionar que tive a oportunidade de visitar alguns dos melhores bares do mundo. Double Chicken Please, Mace, Amor y Amargo, The Dead Rabbit, entre muitos outros bares de grande qualidade. Após essa experiência e de volta ao trabalho na Islândia, surgiu a oportunidade de supervisionar o bar do lobby. Um desafio enorme só pelo simples facto de estar a gerir pessoas que até então eram meus colegas de trabalho, mas que agora teriam que seguir uma nova linha de comando. Um ano após, a oportunidade de trabalhar na Turquia incentivou-me a continuar a trabalhar nesta área.

Saiu recentemente da Islândia para viver na Turquia. Qual é o motivo para esta mudança?
Meramente profissional. Depois de quase 3 anos a viver e trabalhar na Islândia senti que precisava de uma nova experiência. Através do Edition, uma marca do segmento de luxo da cadeia hoteleira Marriott, conseguem-se muitas oportunidades pela sua diversidade a nível mundial. Sabia que o Bodrum Edition é o único hotel da marca Edition que abre de forma sazonal e através do networking adquirido ao longo dos anos foi-me possível ter conhecimento para esta mudança que já há algum tempo procurava.

E como tem sido a sua experiência na Turquia? Como tem sido a vida?
Cheguei à Turquia há cerca de uma semana, encontro-me na região de Yalikavak. Uma zona lindíssima não só pela sua beleza natural, mas também pela bondade e hospitalidade das pessoas, uma cultura bem diferente da nossa, nos Acores. Em relação à gastronomia ainda existem alguns pratos que estão na lista para experimentar, mas posso já adiantar que ninguém deveria morrer sem nunca experimentar Baklava, doce típico turco feito com diferentes frutos secos e Yala, uma sopa à base de iogurte, arroz e hortelã. Inicialmente torci o nariz para este prato mas está entre as cinco melhores sopas que já provei. Lahmacun, é uma espécie de pizza com carne moída, normalmente servida como entrada, é de chorar e pedir por mais, mas só não se pede mais porque de seguida vem o prato principal, o famoso Kebab, que escusa apresentações.

A linguagem foi um entrave nos dois países? Adaptou-se bem à língua islandesa? E como tem sido a adaptação à língua turca?
O islandês é uma língua de origem nórdica e considerada das mais inalteráveis pelo seu isolamento em relação aos restantes países nórdicos. O sindicato dos trabalhadores incentiva à aprendizagem, reembolsando 90% do valor do curso. Existem vários níveis de aprendizagem para os estrangeiros, apenas fiz o primeiro nível focando-me posteriormente para um nível de islandês relacionado com o trabalho. A minha palavra preferida em islandês é “gluggavedur” pelo seu significado, “tempo de janela”. Como sabemos, a Islândia é um país frio, mas nestes dias de frio em que o sol reflete nas janelas das casas é possível desfrutar do sol dentro de casa. Para nós, açorianos, pode até ser estranho uma vez que estamos habituados a temperaturas amenas durante todo o ano mas posso garantir que a sensação de desfrutar do sol desta forma é também muito prazerosa.
A língua turca ainda é recente para mim mas pelo que já ouvi e aprendi temos alguns sons parecidos e acredito que a aprendizagem desta língua será mais fácil do que o Islandês. Algumas das minhas palavras turcas preferidas até agora são Kolay Gelsin, Güle güle, Abi, que significam boa sorte, até amanhã, e irmão mais velho, respectivamente.

É licenciado em Gestão Turística, pela ESHTE, no Estoril. Antes disso, começou desde cedo a ajudar os pais no negócio familiar, foi nadador-salvador, árbitro de futebol, trabalhou na Decatlhon, foi distribuidor na Pizza Hut Cascais, estagiou no posto de turismo do aeroporto de Ponta Delgada, Cascais e Lisboa. Como aconteceu esta viragem na sua vida?
Ao longo da minha adolescência procurei sempre ser uma pessoa activa e a realização destes trabalhos foi sempre complementada com estudos, cursos e formações para o meu desenvolvimento pessoal. Desta forma, consegui desenvolver capacidades como a de relações interpessoais, trabalho em equipa e até mesmo a capacidade de fazer aquilo que não gostava. Acredito que esta forma de pensar levou-me ao ponto da vida onde me encontro hoje em dia. Desenvolvi também a capacidade de estar confortável com o desconforto, algo que recomendo ao mais jovens a dominar tendo em conta o mundo em que vivemos. Com o acumular de experiências, notei que a capacidade de lidar com o stress e a forma como vivo o dia-a-dia são fruto do conhecimento adquirido não só através do contexto de trabalho, mas também da leitura de livros de autoajuda. Desta forma, tiro ‘prazer’ até mesmo dos problemas que me surgem diariamente.
Quais são os planos para o futuro? Pretende viver muito tempo na Turquia?
A época no Bodrum Edition acaba em Outubro. Existe a possibilidade de ir como task force para qualquer outro hotel pertencente à cadeia da Marriott. Uma vez que acabei de chegar à Turquia e que o meu foco está totalmente na abertura do hotel e na realização de um bom trabalho esta época tento não pensar muito no futuro. Sei que existe a possibilidade de ir como task force para Singapura, Nova Iorque, Tóquio, Reykjavik, Barcelona, Madrid, México entre muitas outras cidades/países, um mar vasto de opções como costumamos dizer.

Há alguma mensagem que gostaria de deixar aos jovens açorianos que também pensam em sair dos Açores em busca de novas aventuras?
Sim, gostava de mencionar para que não tenham medo em começar algo novo, nem em cometer erros. O erro passou a fazer parte do meu dia-a-dia e vejo-o como uma oportunidade de crescimento.
Faço também um apelo aos jovens açorianos para que tenham alguma experiência de vida fora dos Açores. A nossa qualidade de vida é elevada, mas é sempre bom conhecer perspetivas, culturas e costumes diferentes e isto só é possível vivendo fora da nossa zona de residência. Que conheçam mais deste mundo que de início parece enorme, mas com o passar do tempo apercebes-te que não é assim tão grande. Por fim, gostaria de realçar para que nunca se esqueçam das nossas raízes, carregando consigo a bondade, alegria e boa disposição que tanto nos caracteriza.
São Miguel foi onde eu nasci e cresci, tenho uma ligação enorme não só por esta ilha como por todas as outras. Sempre que tenho a oportunidade mostro fotografias de onde vim, o meu orgulho pela nossa Região é notável. Penso sim, em voltar a este paraíso, um dia mais tarde. Até lá quero conhecer mais do mundo para um dia poder partilhar com os conterrâneos algumas das experiências e cultura que fui adquirindo ao longo das minhas aventuras.
Gostava de terminar a entrevista com duas passagens, uma de José Saramago onde refere a importância de sairmos do nosso conforto “É preciso sair da ilha para ver a ilha. Não nos vemos se não saímos de nós.” Referindo-se exactamente àquilo que referi anteriormente. Para além disso, gostava de salientar uma frase ensinada há mais de 19 séculos por Epiteto, filósofo romano. “Há um único caminho para a felicidade e esse caminho é deixarmos de nos preocupar com o que está além do poder da nossa vontade”. Trata-se de um assunto que há séculos os humanos tentam responder, a questão da felicidade. Acredito que em poucas palavras é possível demonstrar a possibilidade de sermos felizes sem nos preocuparmos em demasia.
Se puder falar um pouco do sentimento mais presente no meu quotidiano diria que é a Saudade. Não há que combater nenhum sentimento e a melhor forma que encontrei de suportá-lo é através da escrita. Despeço-me com uma das minhas escritas intituladas por “Será Saudade?”.

“Será Saudade?”

Será que algum dia deixe de sentir,
Esta dor que me impede de continuar
A sonhar acordado.

Será que algum dia ouça as ondas
do mar
Da janela do meu quarto.

Se é sonho…
Porque estou surdo?

Se é salgado que quero ouvir,
Se é paz que quero saborear,
Se é em maresia que quero assentar

Porquê sonhar mais alto do que
a saudade?

Filipe Torres

Edit Template
Notícias Recentes
Essentia Azorica apresenta óleos essenciaisna AçoresBIO-2024 mediante visitaà destilaria e à plantação biológica
GNR apreendeu 580 quilos de pescado na ilha do Pico
Homem detido na Maia por suspeita de incêndio em edifício
Açores têm feito esforços para “corresponder às expectativas” de quem escolhe a Região para viver, realça Paulo Estêvão
Primeira edição do ‘Azores Comedy Fest’ leva o melhor da comédia regional ao Teatro Angrense
Notícia Anterior
Proxima Notícia
Copyright 2023 Correio dos Açores