Ao fim de sete meses como reitor do Santuário do Senhor Santo Cristo, o cónego Manuel Carlos Alves já recebeu mais de 1.200 cartas a agradecer ao Senhor as graças obtidas ao longo da vida.
“Este sentido de gratidão está muito presente nas cartas que recebo e nas conversas que tenho com os peregrinos”, refere o cónego Manuel Carlos Alves.
“A porta de entrada no sagrado e transcendente, quando há uma aflição envolvendo algum açoriano é o Senhor Santo Cristo” refere o reitor lembrando que há uma ligação “muito forte” entre as pessoas e o Senhor Santo Cristo.
“A vida vai passando por várias fases, e por vezes prega-nos partidas. Nessas alturas, normalmente, as pessoas recolhem-se à sombra do divino e o Senhor Santo Cristo é a porta em que todos, especialmente os açorianos, vão atravessando desde pequenos e por isso quando têm uma necessidade maior é a Ele que recorrem”, afirma.
Nesta altura do ano, às portas da festa, é habitual ver inúmeras filas de peregrinos na Roda e nos Círios, mas durante todo o ano há movimento no Santuário, “umas vezes presencial outras por carta”.
“Já respondi a mais de 1.200 cartas desde que sou reitor”, referindo ainda o reitor que procura não se atrasar na resposta ao “correio do Senhor Santo Cristo”.
“Geralmente procuro dar resposta em poucos dias” afirmou, reconhecendo, no entanto, que as pessoas também o procuram pessoalmente.
“Tudo acontece mas a maior parte das pessoas vem manifestar a gratidão pelas graças obtidas ao longo do tempo”, esclarece.
O correio do Senhor Santo Cristo é uma das dimensões deste culto que por estes dias, especialmente, se celebra em Ponta Delgada, onde decorrem as festas até dia 9 de Maio.
As celebrações deste ano serão presidida pelo Bispo de Stockton, D. Myron Cotta.
Entretanto, no segundo dia de pregação do tríduo preparatório da festa religiosa do Senhor Santo Cristo dos Milagres, o padre José Frazão Correia disse que a fé “não é uma adesão a uma doutrina” ou o cumprimento de rituais mas um encontro com Jesus, que toca a intimidade de cada um.
“Muitas vezes colocamos a fé ao lado da vida, por cima ou para além dela; não a conseguimos trazer para a vida porque temos dificuldade em fazer casar a fé com a vida”, disse o pregador deste tríduo que centrou a sua reflexão na narração do Evangelho de Lucas do caminho de Emaús.
“Este episódio bíblico coloca a fé no eixo da vida porque no encontro com Jesus os discípulos são confrontados com a sua realidade concreta” afirmou destacando que tal como os discípulos os cristãos devem fazer esse caminho,“ deixando-se tocar nas suas circunstâncias, boas ou más, na verdade da vida de cada um, não a desejada ou suposta mas a vida concreta”, referiu.
“Esta é a lacuna da nossa fé. Por vezes não sabemos testemunhar aos mais pequenos, aos mais jovens que há uma vida que nos é dada a viver; que o Senhor está no caminho qualquer que ele seja e que a fé tem de ver com a vida”, esclareceu ainda o pregador às cerca de 200 pessoas que enchiam por completo a Igreja de Nossa Senhora da Esperança, agora que se aproximam a passos largos os dias principais da festa.
I.A.