A empresa Silviaçores – Silvicultura, Lda. tem a sua sede no concelho de Ponta Delgada, mais concretamente na Rua da Carreira, na freguesia da Fajã de Cima, com escritório na Rua Padre José Joaquim Rebelo.
A empresa exerce actividade de silvicultura e outras actividades florestais, entre elas, projectos florestais, aconselhamento florestal, planos de gestão florestal, gestão de recursos florestais, avaliações e inventário florestal, plantações e manutenções florestais, agrimensura/medições de superfícies e serviços de engenharia florestal.
Eugénio Câmara foi o nosso interlocutor, que foi quem fundou a empresa em 1998. Este engenheiro florestal sustentou, que “a Silviaçores – Silvicultura, Lda. dedica-se à gestão das propriedades privadas, através da planificação dos povoamentos, ou seja, fazem-se planos de gestão para cumprir com as obrigações que existem das portarias com áreas com mais de cinco hectares, que têm que ter planos de gestão e depois vendemos os lotes às empresas de corte, dos empreiteiros florestais e não são só as serrações que têm equipas de cortes, porque temos também uma equipa de homens, que realiza as rearborizações, que são as novas plantações após o corte”.
A obrigatoriedade da rearborização
após o corte
Ou seja, em termos práticos, os madeireiros cortam as árvores e a empresa Silviaçores – Silvicultura, Lda., replanta as áreas cortadas. “Fazemos os projectos para os privados para se candidatarem aos fundos comunitários de ajuda que existem para a rearborização, porque na Região Autónoma dos Açores é obrigatória a rearborização após o corte, legislação que é única no país. Então, para assegurarmos a sustentabilidade das matas garantimos aos proprietários, que temos mão-de-obra específica para esse tipo de trabalho”.
A Silviaçores – Silvicultura, Lda., tem 16 funcionários, entre eles, dois técnicos florestais, um deles é Marcelino Botelho, para além de Eugénio Câmara, no nosso entrevistado.
“Temos uma área significativa de gestão de propriedades privadas, e para lhe dar um exemplo, nas Sete Cidades são 600 hectares, mas no total, sob a nossa gestão deveremos ter à volta de 4.000 hectares. Esta empresa foi fundada em 1998, portanto, o ano passado fez 25 anos, pelo que tentamos fazer a melhor possível nas matas, que estão sob a nossa responsabilidade”, acrescentou.
Procura pela madeira
de criptoméria cresce
A criptoméria é a espécie florestal mais importante do arquipélago dos Açores, mas com maior representatividade em São Miguel. “Quando rearborizamos matas, estão lá criptomérias com 40, 50 ou 60 anos e já estão na idade de corte e a idade mínima são 30 anos, e portanto vamos fazendo a gestão dos povoamentos da espécie das propriedades”.
A procura pela madeira da criptoméria tem crescido, nomeadamente na “construção civil, por ser leve e resistente”. Na carpintaria é frequentemente empregada “na fabricação de móveis, revestimentos e elementos de construção”.
Essa procura pela criptoméria tem aumentado, inclusivamente ao nível do território de Portugal continental, porque são também utilizadas, por exemplo, no fabrico de colmeias, instrumentos musicais, embalagens de madeira ou painéis decorativos.
“Por vezes temos que seguir planos de gestão, em que nas linhas das águas ou nas zonas mais sensíveis temos, que rearborizar uma percentagem com outras espécies tipo endémicas ou então filhosas, como os carvalhos ou com castanheiros. Depende dos planos e das bacias hidrográficas, caso das Sete Cidades, onde está estipulado, que tem de haver uma percentagem de endémicas ou de filhosas, nas zonas mais sensíveis”.
Outras mais-valias
Algumas espécies acabam por ficar definitivo “como zonas de protecção”. Para isso, há um apoio comunitário de 200 euros por hectare, como se essas zonas fossem perdas de rendimentos”.
A Silviaçores – Silvicultura., Lda. só actua nas áreas da sua gestão e só pontualmente faz outras intervenções, como a plantação que houve na Lagoa das Furnas, já que a empresa ganhou o concurso público internacional, onde se rearborizou a zona das Achada das Furnas, mas, essencialmente, trabalha com áreas que a própria empresa gere.
Eugénio Câmara reforça, que “a criptoméria adapta-se muito facilmente ao nosso clima, por causa da humidade e ao tipo de solo, por isso tem um bom crescimento. A empresa faz ainda “operações de beneficiação, para que a madeira possa ter uma qualidade superior, por exemplo, sem nós”.
A empresa já conhece o historial das matas que gere, mas para além disso, há um instrumento, que é uma espécie de broca especial, que depois de obter uma amostra estima a idade total das árvores.
Os próprios registos florestais têm essa documentação e é tudo controlado. O plantio é fornecido pelos Serviços Florestais, a empresa tem a autorização do corte, rearboriza, faz podas e desbaste, e há todo o seguimento de um trabalho que é benéfico para o repovoamento.
Em termos de perspectivas para o futuro, este engenheiro florestal diz, que “as pessoas estão à espera do próximo quadro comunitário, porque existem propriedades que já se cortou uma primeira porção de terreno e teoricamente, para se cortar a segunda porção tem que se cortar a primeira, pelo que as pessoas estão em stand by para avançar. Depois também há uma medida, que deverá ter um bom impacto, que é a reconversão das pastagens para matas e também existe um apoio para a rearborização dessas áreas”.
Eugénio Câmara nasceu no Porto, mas veio para os Açores quando ainda era criança. Em São Miguel estagiou nos Serviços Florestais, onde realizou cursos de exploração florestal, que foi a sua tese. Depois de leccionar durante algum tempo, fundou a empresa Silviaçores – Silvicultura, Lda., porque começou a ver, que havia muita área abandonada: “Naquela altura, os madeireiros cortavam as árvores, mas replantavam mal as áreas, e não serve de nada repovoar sem manutenção, o que hoje em dia está a voltar a acontecer, porque a conteira abafa o plantio e a planta morre”.
Marco Sousa