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As festas e o culto do Santo Cristo na religiosidade popular

A religiosidade popular, ao contrário do que se diz, não precisa de ser cristianizada, porque ela é cristianismo, em simesma. Cristianismo nos princípios, na expressão e naquilo que de mais profundo pode haver: o reconhecimento da divindade e, acima de tudo, a certeza de que o Deus a quem se dirigem, é um Deus próximo, humanado, rosto de sofrimento e compreensão para as horas difíceis da vida.
As festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres, em Ponta Delgada, são um dos pontos mais altos das manifestações de religiosidade popular em Portugal. Excluindo o fenómeno Fátima, nascido já neste século e que se tornou no maior ponto de convergência religiosa, este ano com meio milhão de peregrinos só no dia 13 de Maio, Ponta Delgada é, no quinto Domingo da Páscoa, aquilo que se pode chamar de verdadeira catedral de fé numa imagem com mais de cinco século, de história que ultrapassa o extraordinário valor escultural e se fixa no peso histórico da devoção e de todo o processo de crescimento do culto religioso que chegou aos nossos dias, eivado da mesma unção quase mística, próprias da Idade Média, ao lado do esplendor renascentista corporizado por Madre Teresa da Anunciada.
O culto do Santo Cristo é, acima de tudo, um culto humanizado e humanizante, feito da partilha da dor e das insuficiências de cada dia, ali levadas em súplicas e agradecimentos. Sem dogmatismo, sem ritualismo, apenas feito de mistério de recolhimento, ao sabor da dor e aflição, do agradecimento e glorificação.
Por se tratar de religiosidade popular, tornam-se quase vãs todas as tentativas de lhe conferir, de fora para dentro, qualquer outro sentido que não seja o da relação directa de cada devoto, à maneira de cada um, com os símbolos que a Imagem contém, seja a exteriorização, em massa, desta mesma religiosidade popular.
Num tempo em que proliferam as adjectivações ou denominações das Teologias, talvez se pudesse aplicar à fé no Santo Cristo a designação de “Teologia do sofrimento”. Ali se encerra a relação profunda da incapacidade humana, sem intermediários, Deus-Homem próximo do coração sofrido, sem ritos, sem receios, almas abertas ao agradecimento, mãos erguidas na súplica constante, Deus chamado na eterna esperança de quem “nunca falta se a fé não faltou”.
A religiosidade popular, ao contrário do que se diz, não precisa de ser cristianizada, porque ela é cristianismo, em si mesma. Cristianismo nos princípios, na expressão e naquilo que de mais profundo pode haver: o reconhecimento da divindade e, acima de tudo, a certeza de que o Deus a quem se dirigem, é um deus próximo, humanado, rosto de sofrimento e compreensão para as horas difíceis da vida.
E esta dimensão vertical da fé que se consubstancia no culto ao Santo Cristo.
Há muito detractores deste culto, com argumentos que vão desde aquilo que se diz serem “erros tradicionais no cumprimento de promessas”, até à falta e continuidade, na vida, do espírito que a própria imagem encarna, para não falar das dúvidas que se levantam quanto à materialização, em jóias e adornos, do cumprimento de votos.
O Evangelho neste aspecto é cheio de contrastes. Se tudo passa, em Cristo, pelo olhar para “os mais pequeninos, os pobres, os marginalizados”, o não acumular tesouros na terra, onde a traça os corrói também lá está o perfume derramado aos pés de Cristo, um desperdício no pensar dos discípulos, mas louvado pelo próprio homenageado. Portanto, daqui há que tirar ilações e perguntar que direito tem alguém de dar destino diferente ao que a fé das pessoas oferece. Isto sem polémicas, mas apenas com o respeito que nos devem merecer os gestos, compor tamentos e pensamentos dos outros, através da história de 5 séculos desta Imagem.
A religiosidade popular afirma-se de várias formas e por vezes, com alguns desvios Mas ela e a alavanca da exteriorização da fé que precisa de sinais, hoje cada vez mais escassos.
Na vertente da acção cristã, o testemunho na vida é importante, mas também deve imperar a norma evangélica de “não saiba a esquerda o que a direita faz”. Na religiosidade popular são os cami
nhos cruzados da fé e da vida que se encontram, numa simbiose perfeita entre a inteligência e o sentimento, na justa medida de equilíbrio entre o pensamento e a cultura e o sentir que há algo que nos transcende, que nos vivifica e que nos faz diferentes.
Para nós, oculto do Santo Cristo marca esta diferença e torna-se não a exaltação do sofrimento pelo sofrimento, mas a visão para além do que é passageiro, sabendo reconhecer os méritos do que está para além do presente.
E o Santo Cristo é mesmo este símbolo do que sendo de agora, não tem tempo, nem idade, nem lugar!

Diante de Ti, Senhor!

Na Tua Imagem Senhor,
Louvor e glória se encerra!
Rei e Mestre de Amor,
Deus do Céu descido à Terra.

Todos Te cantam vitória
Todos fixam Teu olhar…
Todos guardam na memória
Esta bondade sem par.

E por tudo de agradeço
Rei de paz e Deus da luz.
Sei que olhar-Te não mereço
Olha-me tu, ó Jesus!

No Teu trono és imenso
Revestido de mil flores,
Perfumado de incenso
E do olhar dos pecadores.

No Teu doce coração
Quando Surge a tempestade
Há sempre uma oração
Que nos traz felicidade!

Surge sempre esta lembrança
Nos combates desta vida…
Só em Ti, Deus de bonança
Tenho segura guarida!

És a Glória do teu povo
Santo Cristo desta terra
Faz do mundo um mundo novo
De Paz, de Amor e sem guerra!

Santos Narciso

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