João Macedo, Presidente do Centro de Oncologia dos Açores, em entrevista fala sobre a incidência do cancro do ovário na Região e aponta como principais factores de risco a idade, a existência de antecedentes familiares, ou mesmo pessoais, de cancro, o facto de nunca se ter engravidado ou a terapêutica hormonal prolongada. Afirma, ainda, que adoptar um estilo de vida saudável, com hábitos alimentares equilibrados, praticar exercício físico regularmente, evitar o consumo excessivo de álcool e não fumar são factores que ajudam a reduzir o risco de desenvolver cancro do ovário.
Correio dos Açores – Qual a importância de assinalar o Dia Mundial do Cancro do Ovário?
João Macedo (Presidente do Centro de Oncologia dos Açores) – A importância de assinalar este dia 8 de Maio como o Dia Mundial do Cancro do Ovário prende-se, sobretudo, com o alerta e sensibilização para esta temática e para esta patologia, que é uma doença com alguma dificuldade de diagnóstico, e uma importante causa de morte femininas, sobretudo ao nível das patologias oncológicas.
Qual é a incidência de cancro do ovário nos Açores?
Apesar de ter alguma variação, a média anual de diagnósticos dos últimos cerca de 20 anos nos Açores é de aproximadamente 15 casos.
Quais são os principais factores de risco para o desenvolvimento do cancro do ovário?
Existem alguns factores de risco que podem aumentar a probabilidade de vir a desenvolver esta doença, desde logo a idade, uma vez que a maior parte dos diagnósticos são efectuados em mulheres com idade superior a 55 anos. Além desse, existem outros factores geralmente associados ao risco para cancro de ovário, como por exemplo a existência de antecedentes familiares, ou mesmo pessoais, de cancro, o facto de nunca se ter engravidado ou a terapêutica hormonal prolongada, entre outros.
A que sintomas comuns do cancro do ovário as mulheres devem estar atentas?
Esta patologia em estado inicial pode não revelar muitos sintomas, o que dificulta o diagnóstico. Deve referir-se que quaisquer sintomas devem ser comunicados ao médico pessoal, deve ser sempre a avaliação médica a orientar as pacientes, e qualquer sintoma não significa que seja indicador de cancro. Os sintomas que geralmente são mais identificados com esta patologia são pressão ou dor no abdómen, pélvis, costas ou pernas, abdómen inchado, náuseas, indigestão, gases, obstipação, diarreia ou sensação constante de grande cansaço por exemplo.
Por que motivo é crucial a detecção precoce do cancro do ovário e quais são os métodos de rastreio recomendados?
O diagnóstico precoce em qualquer patologia oncológica é crucial e tem um impacto muito grande no desfecho favorável dos tratamentos, e no cancro do ovário isso não é excepção, uma vez que o diagnóstico numa fase inicial tem uma taxa elevada de sucesso.
Actualmente, não existem recomendações para programas de rastreio organizado, ao contrário do que acontece, por exemplo, no cancro do colo do útero, por isso a vigilância deve ser feita com o acompanhamento médico regular.
Que medidas de prevenção podem as mulheres adoptar para reduzir o risco de desenvolver cancro do ovário?
A adopção de um estilo de vida saudável, hábitos alimentares equilibrados, exercício físico regular, evitar consumo excessivo de álcool e não fumar são factores que ajudam a reduzir o risco de desenvolver cancro do ovário. Deve também assegurar acompanhamento médico regular, sobretudo se possui antecedentes familiares com esta patologia.
Como podem as mulheres manter uma boa saúde após o diagnóstico e tratamento do cancro do ovário?
O seguimento e vigilância podem variar consoante a pessoa e mediante várias variáveis, que dependem do tipo e extensão do tratamento. Deverão seguir as recomendações do médico e manter hábitos saudáveis.
Quais os avanços recentes na investigação e tratamento do cancro do ovário que tiveram impacto na qualidade de vida das pacientes?
A investigação e inovação na área do cancro, felizmente, têm sido muito aceleradas, com grandes progressos que tornam o desfecho de um diagnóstico algo cada vez menos dramático. A evolução em termos de equipamentos e tecnologias de diagnóstico permite detectar estas patologias cada vez mais cedo e de forma cada vez menos invasiva, existem meios de tratamento com medicamentos inovadores e medicina de precisão cada vez mais eficaz, bem como tratamentos de quimioterapia e radioterapia com maior sucesso e menos efeitos secundários e que ajudam, não só a combater a doença, mas a minimizar o impacto dos tratamentos. No cancro do ovário esta inovação terapêutica é também uma realidade, quer na primeira linha quer na recidiva, apesar de ter de ultrapassar alguns mecanismos legais e burocráticos relativos aos mecanismos de comparticipação em vigor no nosso país, e existem também projectos em curso relativos a novos biomarcadores que permitam um diagnóstico através de meios pouco invasivos.
Que conselhos dá às mulheres para manterem uma saúde ovariana saudável ao longo da vida?
Não está recomendado um rastreio organizado de detecção precoce para a população geral para esta patologia, por isso deverão manter atenção aos sintomas de alerta, possuir acompanhamento médico regular e seguir as recomendações clínicas.
Que mensagem quer deixar neste dia?
Sendo um dia de sensibilização, gostaria de deixar à população uma mensagem de confiança nos serviços e profissionais de saúde e uma recomendação para que adoptem hábitos saudáveis e mantenham acompanhamento médico regular como forma de prevenir esta doença.
Daniela Canha