No início do Sábado das festas em honra do Senhor Santo Cristo dos Milagres fomos todos surpreendidos pelo fogo que deflagrou no Hospital do Divino Espírito Santo (HDES) em Ponta Delgada.
Quem assistia, através da reportagem da RTP/A, ou de outros canais nacionais, custava a acreditar no que estava vendo, tal era o fumo intenso e as enormes labaredas de fogo que, apesar das constantes descargas de água dos bombeiros, não havia maneira de diminuir.
Devo dizer que as muitas equipas de socorro que acorreram ao local, nomeadamente as ambulâncias de toda a ilha e, ao que me informaram, bombeiros da Ribeira Grande e Vila Franca do Campo, fizeram um trabalho excelente, com especial relevo para os bombeiros de Ponta Delgada que tiveram alguns feridos ligeiros. A acrescentar a estes, foi também de relevo a colaboração do Exército e da Força Aérea Portuguesa no transporte de doentes e de material hospitalar.
Por outro lado, e em minha opinião, a administração do HDES também esteve muitíssimo bem na evacuação dos mais de 300 doentes que estavam internados, os quais foram distribuídos pelas mais diversas unidades de saúde, desde os centros de saúde aos hospitais, nomeadamente ao da CUF na Lagoa, aos hospitais de Angra do Heroísmo, Horta, Funchal e Machico na ilha da Madeira.
Perante este cenário de catástrofe, o Governo Regional reuniu de emergência e não esteve com meias medidas: declarou a Região em estado de calamidade pública.
Não podia estar mais de acordo, como aliás tive ocasião de manifestar, pessoalmente, ao senhor Presidente do Governo Regional, Dr. José Manuel Bolieiro.
As razões para esta tomada de posição são, em meu entender, mais do que muitas.
Em primeiro lugar temos os doentes que estão nos cuidados intensivos, os quais, e a meu ver, têm de ter cuidados especiais não só no transporte, mas também na continuidade do tratamento específico.
Depois aparecem-nos os doentes que necessitam de fazer hemodiálise quase diariamente e que tiveram de ser transferidos para hospitais fora da sua área de residência. Estas deslocações acarretam despesas de estadia para além das sessões de hemodiálise.
Por outro lado, e pelo que entendi, por falta de capacidade de internamento nesta ilha, algumas grávidas tiveram também de se deslocar para fora de S. Miguel.
Há ainda que ter em linha de conta os doentes oncológicos que estão impedidos de continuar os seus tratamentos como o faziam no HDES, naquele departamento a que chamam Hospital do Dia.
Em suma, eu diria que, como diz o nosso povo, existem mil e uma razões para decretar o estado de calamidade pública na Região. Isto para que os processos da reabilitação do maior hospital da Região se resolvam de imediato e o mais rapidamente possível.
Evidentemente que, o que aqui escrevo, não passa da opinião de um leigo em matéria de administração de saúde. Todavia, não podia deixar de manifestar, publicamente, a minha concordância com a decisão do actual Governo Regional.
Na sociedade, existem duas estruturas das quais não podemos dizer que nunca lá “cairemos”. Elas são: os hospitais e os estabelecimentos prisionais.
Assim, quanto mais depressa se resolver os concursos para reabilitação do HDES tanto melhor; não esquecendo que, uma vez com a “mão na massa”, se tome em linha de conta as necessidades que o HDES tinha antes do incêndio.
Quanto a mim, será mais uma medida acertada!
Carlos Rezendes Cabral
P.S. Texto escrito pela
antiga grafia.
6MAIO2024