Com 20 anos, natural dos Arrifes, Margarida Ponte Silva é aluna na licenciatura em Jornalismo e é Directora-geral da ESCS Magazine, um núcleo de revista que conta com aproximadamente 100 alunos da Escola Superior de Comunicação Social (ESCS), do Instituto Politécnico de Lisboa (IPL). Em entrevista ao Correio dos Açores, Margarida Silva explica como surgiu o seu gosto pelo jornalismo, a oportunidade de liderar o núcleo de revista da ESCS e as dificuldades nos primeiros tempos em Lisboa.
Correio dos Açores – Ser aspirante a jornalista é…
Margarida Ponte Silva (Directora-geral da ‘ESCS Magazine’) – Tentar procurar e tentar aprender o máximo que consegues com as pessoas que estão à tua volta, sejam eles professores que são jornalistas, sejam eles professores de outras áreas, sejam os colegas, sejam os amigos e conseguir o máximo de informação que conseguimos. Procurar sempre experiências enriquecedoras e que possa ajudar de alguma a entrar no mercado de trabalho, principalmente o currículo. E acima de tudo, é perceber que é um mercado difícil, mas para quem gosta e quem se destaca entre os melhores, vai ser sempre possível. É preciso ter muita vontade, curiosidade, atenção, capacidade de síntese, boa capacidade de comunicação oral e escrita, criatividade, mesmo que muitas pessoas talvez acham que seja uma coisa muito objectiva, e versatilidade, pois, hoje em dia, há muitos jornalistas que escolhem ser freelancers e têm de fazer quatro ou cinco trabalhos ao mesmo tempo.
Como surgiu o gosto pelo jornalis-mo?
Acho que surgiu de forma indirecta no início, porque gostava de escrever e quando era criança já tinha noção de que era difícil viver somente como escritora. Na escola, tive uma professora que me disse que havia muitos escritores e poucos jornalistas. Depois disso, acabei por perceber mais o que fazia um jornalista e fiquei com essa ideia de querer ser jornalista. Após ter começado a licenciatura, comecei a ganhar um gosto pelo resto da área, como rádio, televisão e os outros formatos jornalísticos.
Como apareceu a oportunidade de liderar o núcleo ESCS Magazine?
Entrei para a ESCS Magazine logo quando ingressei na Escola Superior de Comunicação Social (ESCS). Os núcleos eram apresentados na recepção ao caloiro, no dia das matrículas, e a ESCS Magazine, tendo em conta que estava a entrar num curso mais pela vertente escrita, claro que me interessou logo. Acabei por entrar para a editoria ‘Grande Reportagem e Entrevista’ como redactora, e assim fiquei durante o primeiro semestre do primeiro ano. Durante a pausa entre o primeiro e segundo semestre, acabei por ser convidada a ser editora dessa editoria. Esta oportunidade apareceu por causa da falta de pessoal e da acumulação de cargos que a editora-executiva tinha como editora da ‘Grande Reportagem e Entrevista’. Então, fui convidada a ser editora daquela editoria, sendo que continuei no cargo durante o segundo semestre do primeiro ano e todo o segundo ano. No final do segundo ano, as antigas directoras convidaram-me para ser Directora-geral da ESCS Magazine, e aceitei logo o cargo, porque tenho um gosto muito grande por este núcleo, acompanhou-me desde o início da licenciatura e fazia todo o sentido para mim.
Qual é a importância da ESCS Magazine na Escola Superior de Comuni-cação Social?
Acho que todos os núcleos têm a sua importância e são um grande factor atractivo da ESCS, porque os cursos têm uma vertente prática por ser um politécnico e a ESCS é muito conhecida por isso mesmo. Os núcleos permitem aos alunos experimentar fora das suas áreas, por exemplo, um aluno de Audiovisual e Multimédia ou de Publicidade e Marketing poderá ingressar na ESCS Magazine como redactor, ou alguém de Jornalismo poderá ser entrar no departamento de comunicação, algo que acontece, também, nos outros núcleos.
Acredito realmente que a ESCS Magazine tem a vertente de ser um núcleo bom para as pessoas se calhar mais envergonhadas, que não gostam de falar à frente do microfone, ou de estar à frente das câmaras, ou de não gostar de organizar eventos – há núcleos dedicados a esses aspectos. Acho que é um bom espaço e seguro para quem gosta de estar, mais ou menos, na sua zona de conforto, a crescer ao seu ritmo e de acordo com os seus gostos, visto que há várias editorias e departamentos. Estes são os pontos fortes da ESCS Magazine, que é núcleo que tem crescido nos últimos anos.
Como tem sido a experiência de liderar uma equipa com aproximadamente de 100 alunos, sem a ajuda de professores?
A ESCS Magazine é uma equipa constituída por alunos e, também, dá-mos a hipótese aos alumni (antigos alunos) de continuar no núcleo, caso queiram, depois de acabar o curso.
Em muitas ocasiões, não sinto que lidero uma equipa de 100 membros, porque temos uma direcção bastante composta, além de mim e da vice-directora, Mariana Louro, que me ajuda imenso, digo mesmo que é o meu braço direito e é como se tivéssemos no mesmo cargo, temos directoras de comunicação, de redes sociais, de multimédia, de correctora linguística, de recursos humanos, a editora-executiva da redacção e ainda os editores de cada editoria da redacção. É uma escala muito em dominó, que não há um contacto directo com toda a gente e cada pessoa faz a sua função e o seu papel. Portanto, não sinto que lidero uma equipa de 100 pessoas, mas sim coordeno uma Direcção e cada director e directora coordena os seus membros.
A licenciatura tem correspondido às suas expectativas? Porquê?
Está a corresponder bastante às minhas expectativas, sendo que ficou acima em alguns aspectos. Claro que há sempre aquelas cadeiras de que não gostamos, por serem mais teóricas ou por fugir à realidade actual, vamos dizer assim, mas no geral não tenho muito para me queixar. No início da licenciatura, era muito teórico, mas há conhecimentos básicos que são importante adquirir. No entanto, depois temos a experiência de estar em estúdios de rádio, de televisão, com bons equipamentos e temos trabalhos que vão preencher bem o nosso currículo. Portanto, concretiza verdadeiramente aquilo que idealizava.
Está no ensino politécnico, acredita que ainda há uma desvalorização perante o ensino universitário?
Não sinto que isso aconteça, porque falei com alguns antigos alunos e eles disseram-me que a ESCS tem uma boa reputação. Acho que os alunos têm de saber aproveitar a ESCS, ou seja, acho que é um bocado desperdício somente ir às aulas, não ir aos núcleos e não procurar algo além das unidades curriculares. Os alunos daqui quando saem da licenciatura ou do mestrado já sabem fazer muita coisa, e, às vezes, há cursos altamente teóricos em que alunos saem a precisar de muito apoio nos primeiros tempos, porque não estão habituados a por as mãos na massa.
Saiu dos Açores em 2021 para ingressar a licenciatura em Jornalismo na ESCS. Como foi a experiência de começar uma “nova vida” em Lisboa?
Já estava mentalizada de que isto ia acontecer, pois há muito tempo queria jornalismo e estava de olho na ESCS – digamos assim. Portanto, sabia que ia sair dos Açores, porque nem há um curso de comunicação social na Universidade dos Açores. Claro que a mudança não foi fácil, mesmo que a ESCS fosse a minha primeira opção e estava a gostar de morar em Lisboa – felizmente adaptei-me facilmente. Nos primeiros tempos, senti, sobretudo, saudades da minha família, não foi fácil não tendo propriamente fortes ligações, apesar de ter feito amizades com os novos colegas, ainda estava tudo muito fresco. Não era fácil sentir saudades de casa e não saber, por exemplo, com quem poderia desabafar. Era complicado estar feliz por ter entrado na primeira opção e saber que muita gente poderá ter tentado e não ter conseguido. Por outro lado, era diferente, tinha 18 anos, era muito novinha, ainda sou, mas na altura era mais. Não tinha nenhum familiar em Lisboa, apenas tinha um amigo do secundário que estuda em Lisboa, mas estava noutra faculdade. É uma adaptação que é preciso persuadir e estar mentalizada, custou-me um bocado, mas acho que não me custou tanto, porque estava muito feliz.
Acredita que a actual situação do jornalismo melhorará no futuro? Porquê?
Espero que em termos de dar mais credibilidade e das pessoas perceber a importância do jornalismo e começarem a apoiar mais, espero que melhore, porque o jornalismo é importantíssimo para a sociedade, são os jornalistas que dão a informação e mostram o que se passa, com toda a transparência, ou assim é que deveria ser, para nós sermos cidadãos informados, e cidadãos informados são cidadãos livres. Por outro lado, daquilo que ouvi de alguns professores que são jornalistas, sempre houve um bocado de precariedade nesta área, não se muda de um momento para outro. Acho que o primeiro passo é as pessoas começarem a apoiar mais, ao subscrever a assinaturas digitais, e acreditar mais nos conteúdos jornalísticos do que o que veem numa página nas redes sociais.
Filipe Torres