Com a solene concelebração litúrgica, em honra da Madre Teresa da Anunciada, presidida pelo Reitor do Santuário, Cónego Manuel Carlos, encerram-se hoje as grandiosas festividades deste ano do Senhor Santo Cristo dos Milagres.
Como tal, importa de discorrer sobre esta ilustre figura açoriana, que tantas vezes é secundarizada nos anais da nossa história coletiva. Hoje, recordamos a grande mística e a mulher eucarística que entregou a sua vida pela promoção do culto à paixão de Cristo no seu passo do Ecce Homo proferido por Pilatos, perante a legião romana e o povo judeu.
Os micaelenses anseiam sentir que a causa da sua beatificação não está nas gavetas do esquecimento e que haja um decisivo empenho dos nossos “embaixadores açorianos” na cidade eterna, para bergar a mola, já que por cá se vagueia em busca de destino incerto.
Decorria o ano de 1992, quando um grupo de cidadãos micaelenses resolveu fazer circular uma petição para ser enviada ao Papa João Paulo II, de saudosa memória, pedindo a concessão do “nihil obstat” para a organização do Processo de Beatificação de Madre Teresa da Anunciada, a fim de ser elevada à honra dos altares.
Esta foi uma das demais iniciativas, tendo em vista a que o processo da beatificação daquela clarissa, que morreu com fama de santidade, não seja esquecido. Por esta ocasião das festas o assunto volta sempre à baila na imprensa regional, mas esvai-se de seguida, sem que o devido seguimento lhe seja dado, havendo mesmo quem sugira que se deixe Madre Teresa em paz e não se fale dela…
Convém recordar o teor da petição: “O povo dos Açores tem um grande amor e devoção ao Senhor Santo Cristo dos Milagres. Amor e devoção que ultrapassaram em muito as fronteiras da Região, porquanto em todos os países da diáspora açoriana se celebram festas em honra do Senhor Santo Cristo e são muitos milhares os que, de quase todo o mundo, se deslocam todos os anos em peregrinação de súplica ou ação de graças ao Senhor.
Tudo começou com uma Religiosa Clarissa, Madre Teresa da Anunciada que, no silêncio do convento, recebeu um apelo especial para honrar e desagravar o Senhor na Sua Flagelação representado na Imagem do Ecce Homo.
A partir, sobretudo de 1700, o culto ao Senhor Santo Cristo dos Milagres tomou tal grandeza que, desde então, nunca mais esfriou. As graças e os milagres têm sido uma constante. Madre Teresa da Anunciada foi um instrumento para ajudar a recordar aos homens que Deus é solidário com o Seu povo.
Monja de vida austera e intrépida na sua fé, pela oração intensa, pelo seu amor a Jesus e à Eucaristia e pela sua devoção a Maria Santíssima, é tida como modelo de santidade e considerada a grande intercessora junto do Senhor que tanto amou.
Por isso, junto a minha voz à de muitos sacerdotes e fiéis, implorando a Vossa Santidade seja concedido o “nihil obstat” para a organização do Processo de Beatificação da Serva de Deus a fim de ser elevada à honra dos altares, assim o espero”.
Hoje, neste tempo de homenagem a Madre Teresa da Anunciada, trago desta vez a público mais um encantador pormenor que gosto de recordar, que diz respeito ao resplendor do Senhor Santo Cristo, que aqui mostro aquele que serviu de molde para a imagem do Ecce Homo. Como sabemos, Madre Teresa da Anunciada ganhou uma grande devoção à paixão de Cristo, através da imagem do Senhor Santo Cristo dos Terceiros, que se venera na Igreja dos Frades da cidade da Ribeira Grande, visto que desde tenra idade ela aprendeu a venerá-la na companhia de sua mãe, Dona Maria do Rego Quintanilha.
Já dentro da clausura do convento da Esperança e após ter concluído a ingente obra da construção da capela do coro baixo, empreitada para a qual foi incumbida pelo Senhor Santo Cristo que concluiu com grande esplendor, outra colossal tarefa foi-lhe aturadamente instada a cumprir e diz respeito ao fabrico de um resplendor. Nas suas memórias, Madre Teresa relata que ouvia uma voz que lhe dizia: “Teresa, Eu quero um resplendor”. A serva de Deus respondia: “Vós Senhor bem sabeis o empenho com que fiquei da obra da vossa capela e que não tenho posses para o fazer; mas se Vós quiserdes, nada me faltará”.
Para tal, mandou um religioso que lhe fizesse um molde para o novo resplendor, conforme o do Senhor Santo Cristo dos Terceiros, que ela tão bem conhecia desde criança, por forma a ver se ficava proporcionado à Santa Imagem, tendo as outras religiosas ficado espantadas com a beleza e assustadas com o custo daquele resplendor de prata. Avisaram de imediato Madre Teresa que ela não teria capacidade para conseguir um de igual beleza e qualidade, pelo que a repreendiam pela sua pretensão. A serva de Deus, para apaziguar a cólera das outras monjas, dizia-lhes que o mandou buscar apenas para experimentar se aquele poderia servir de molde ao que se tivesse de fabricar num tempo futuro. Desta forma sossegou o ardor das religiosas do Convento da Esperança, mas não o ânimo da Madre Teresa, pois continuava a ouvir, com grande frequência aquela voz: “Teresa, o meu resplendor”.
De forma prodigiosa, a imagem do Senhor Santo Cristo, não ficou com um resplendor com aquela qualidade, mas de um outro que veio a constituir a mais bela jóia que ostenta a Veneranda Imagem. No próximo dia 16 de maio, será lembrado o 286º aniversário do falecimento de Madre Teresa da Anunciada e oxalá seja uma oportunidade para se saber de notícias sobre a causa da sua beatificação.
António Pedro Costa