Não há males que venham por bem.
O mal é sempre destruidor de algum bem material ou moral.
Aconteceu na cidade de Ponta Delgada no passado Sábado quando se iniciavam as concorridas festas religiosas e populares em honra do Senhor Santo Cristo do Milagres. A coincidência só o ser humano poderá explicar.
O hospital de Ponta Delgada ardeu naquele dia pelas nove horas e com tal intensidade que todos os doentes tiveram de ser evacuados de imediato, operação que decorreu com notável prontidão e eficiência para bem de todos os pacientes e tranquilidade das famílias que nele recebiam tratamento.
Foi de imediato suspensa toda a sua atividade hospitalar por um período que se admite muito longo, mas ainda por delimitar.
Segundo se lê no seu “portal” a missão do hospital concentra-se essencialmente na prestação de cuidados de saúde diferenciados, aos quais a população tem acesso, em tempo útil e em articulação com os cuidados primários e continuados. É neste domínio que se podem esperar dificuldades.
No passado, o Governo Regional recebeu o hospital que se situava no “Campo de S. Francisco” em 1976. Dez anos depois foi nomeada uma “equipa de projeto de construção” do novo Hospital de Ponta Delgada. E cerca de dez anos depois, o hospital entraria progressivamente em funcionamento e receberia o nome de Hospital do Divino Espírito Santo (HDES).
Hoje, a questão que de imediato se coloca e deve ser analisada com profundidade e respeita naturalmente na sua quase globalidade aos termos e limites da reconstrução da unidade hospitalar atingida.
A reparação dos estragos deverá circunscrever-se apenas à mera substituição do edificado e do equipamento destruído? Ou ir mais longe e considerar necessário, oportuno e vantajoso projectar a construção dum novo hospital? Remendar ou desenvolver, eis a questão.
Quando o Governo Regional escolheu o nome do hospital atingido pelo incêndio fundamentou publicamente a sua decisão no facto dos serviços de saúde que prestaria se dirigiriam não só à ilha onde fora construído, mas a todo o Arquipélago.
Além deste particular que sublinha o princípio da inclusividade que as nove ilhas aprovam, deve adicionalmente, ponderar-se que os Açores são cada vez mais procurados por visitantes estrangeiros que necessitam confiar na capacidade e qualidade de serviços das unidades hospitalares existentes para qualquer tipo de enfermidade.
Já tempo houve em que se imaginou que a mais-valia geoestratégica dos Açores sustentaria uma oferta adequada de “turismo de saúde” em função do que teriam de dispor de unidades de saúde adequadas.
A própria Ministra da Saúde estando ou vindo aos Açores por ocasião do incêndio no Hospital HDES considerou a possibilidade de converter o projecto de reconstrução da unidade hospitalar num novo hospital. E com uma correcta visão do futuro.
Declarou nos Açores, expressamente, que a médio prazo seria necessário de em conjunto com o Governo Regional olhar para o plano de investimento do novo hospital. Evidenciou a verdade. Assegurou a este propósito a disponibilidade do governo da República para apoiar a reconstrução do hospital de Ponta Delgada como uma estrutura hospitalar necessária.
Parece-me, hoje, e depois do fogo destruidor, que a reconstrução do hospital de Ponta Delgada não deve ser dissociada da necessidade de construção de um novo hospital para os Açores que permita garantir aos açorianos e a quem os procura uma resposta médica, nas suas várias valências protectoras da vida humana, pronta e medicamente eficiente.
Álvaro Dâmaso