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O que é um Posto de Transformação Eléctrico?

A propósito do incêndio no PT do Hospital de Ponta Delgada

Muito se tem falado em instalações eléctricas, nomeadamente sobre postos de transformação, uma vez que, como é público, foi em equipamento eléctrico afecto ao Posto de Transformação que servia o Hospital de Ponta Delgada onde deflagrou um violento incêndio, no passado dia 4, com consequências muito gravosas, em especial, na prestação dos serviços de saúde na ilha de São Miguel.
Um posto de transformação é geralmente um posto de seccionamento e transformação (PST). É uma estrutura que transforma energia eléctrica de média tensão (10KV, 15KV, 30 KV ou mais) em energia eléctrica de utilização de baixa tensão (400/230V, 50Hz). Os PST podem ser públicos ou particulares. Os públicos alimentam, por exemplo, um loteamento, um bairro habitacional, e são explorados pelo concessionário de fornecimento de energia eléctrica (EDA no caso dos Açores). Os PST particulares alimentam, por exemplo, uma instalação fabril, um hotel, uma grande escola, ou um hospital.
A alimentação em média tensão é afecta a grandes consumidores nos quais, por razões técnicas ou económicas, não é viável o fornecimento em baixa tensão.
Focando a atenção num PST de serviço particular, o mesmo é alimentado por dois ramais de média tensão (em anel) que alimentam duas celas de entrada/saída e uma cela com função de interruptor/seccionador em média tensão. Esta cela, por sua vez, alimenta uma ou mais celas com função de protecção (disjuntores ou fusíveis) que, seguidamente, alimentam o correspondente transformador eléctrico (seco ou com isolamento a óleo), podendo ser mais do que um. As celas de protecção e as celas de transformação são propriedade privada e da responsabilidade única da entidade que explora o imóvel, enquanto as celas de entrada/saída e interruptor/seccionador são operadas pelo concessionário de fornecimento de energia eléctrica.
As saídas dos transformadores eléctricos, em baixa tensão, alimentam o denominado Quadro Geral de Baixa Tensão (QGBT). O QGBT é o principal quadro eléctrico da instalação de utilização em baixa tensão. Do QGBT derivam alimentações para uma rede de quadros eléctricos parciais principais, os quais, por sua vez, alimentam quadros eléctricos parciais de utilização. Estes últimos alimentam tomadas, iluminação e equipamentos. Do QGBT deriva, também, uma rede de alimentação dedicada a equipamentos especiais como, por exemplo: Ar Ventilado Ar Condicionado (AVAC), bombas hidropressoras (para fornecimento de água potável), elevadores, etc.
Dependendo do tipo e risco da utilização do imóvel, na totalidade ou em parte, através de inversor rede/grupo, o QGBT pode ser alimentado por um ou mais grupos geradores electrogéneos de socorro. O QGBT poderá possuir, ainda, um painel específico de emergência que, por um inversor rede/grupo, é alimentado por um grupo gerador de emergência. Este último irá fornecer energia a um conjunto de equipamentos de emergência como: iluminação eléctrica de emergência (blocos autónomos ou blocos com baterias centralizadas), bombas hidropressoras de incêndio, sistemas de detecção automática de incêndio, etc.
Ambos os tipos de grupos geradores (socorro e emergência) irão abastecer automaticamente as instalações eléctricas de baixa tensão no caso de falha ou anomalia no fornecimento da rede pública de média tensão, e são alimentados pelos respectivos tanques diários de gasóleo com capacidade máxima de 500 litros.
Em geral, o QGBT alimenta a Bateria de Correcção do Factor de Potência (CFP). Este equipamento é composto por um ou mais escalões de condensadores eléctricos e por órgãos de comando e controlo. O CFP destina-se a anular o consumo de energia reactiva, derivado de todo um conjunto de motores de elevadores, AVAC, computadores, etc e dos próprios transformadores MT/BT, permitindo a melhoria dos consumos eléctricos da instalação e uma optimização da concepção e exploração da mesma. A Bateria de Correcção do Factor de Potência requer uma atenção muito especial, principalmente quando se aproxima o seu fim de vida, em que não raras vezes apresenta um elevado risco de incêndio.
Alguns equipamentos da instalação de utilização, pela necessidade operacional dos mesmos, como equipamentos informáticos, podem ser alimentados por unidades de energia ininterrupta (UPS), que permitem assegurar a alimentação destes equipamentos por algum tempo, sem corte, mesmo na ausência da rede ou dos grupos geradores.
Os cabos da instalação eléctrica deverão ser do tipo ignífugos (isolamento não propagador de fogo) e de baixa emissão de fumos, podendo adicionalmente ser resistentes ao fogo, o que é obrigatório nas instalações de segurança.
Por lei os PST deverão respeitar vária legislação, nomeadamente: 1) Regulamento de Segurança de Subestações e Postos de Transformação e de Seccionamento, 2) Regras Técnicas das Instalações Eléctricas de Baixa Tensão, e 3) Regime Jurídico e o Regulamento Técnico de Segurança Contra Incêndio em Edifícios.
Os PST são projectados por Engenheiros Electrotécnicos ou Engenheiros Técnicos Electrotécnicos inscritos na respectiva Ordem Profissional. Os PST obrigatoriamente têm um Técnico Responsável de Instalações Eléctricas de Serviço Particular (TRIESP) que é, em geral, um Engenheiro, responsável pela exploração das instalações, devendo, no mínimo, anualmente, promover um conjunto de verificações e ensaios de que resulta um relatório de conformidade entregue na Direcção Regional de Energia e ao Proprietário/Explorador do imóvel. Este último tem, posteriormente, a responsabilidade de promover as rectificações e melhorias que o TRIESP indicou.
Os PST e os grupos geradores deverão ser alvo de um plano de manutenção preventiva periódica e de manutenção correctiva subsequente, de modo a não comprometer a segurança, os níveis de qualidade e a continuidade de serviço das instalações eléctricas.
Aquando da entrada em exploração, os PST e os grupos geradores são previamente vistoriados pela Direcção Regional de Energia, só podendo ser ligados à rede com autorização desta e com um termo de responsabilidade do TRIESP.
Os PST deverão ser providos de Sistema Automáticos de Detecção de Incêndio (SADI), com identificação do alarme, por exemplo, na portaria do imóvel, além de alarme sonoro, alarme visual e alarme por mensagem pré-gravada. As instalações deverão possuir meios portáteis de combate a incêndio (extintores).
Resultante de uma análise de risco em instalações críticas, ou por outras razões de gestão de risco, em todo ou em parte, adicionalmente, os PST podem ser dotados de sistemas automáticos de extinção de incêndio que, em caso de incêndio, promovem a redução do comburente oxigénio para níveis a não sustentar a combustão, consequentemente, eliminando o incêndio logo na fase inicial.
Em geral, os equipamentos de média tensão ficam instalados no mesmo compartimento. No entanto, podem ser duplicados, considerando uma análise de risco e a qualidade de serviço pretendida. O QGBT poderá ficar num compartimento dedicado, denominado sala dos quadros. Também a Bateria de Correcção do Factor de Potência poderá ficar instalada num compartimento próprio, o mesmo acontecendo aos grupos geradores. Estes últimos poderão ser duplicados, localizando-se o grupo gerador de emergência num compartimento específico.
Todos os compartimentos deverão ser dotados de portas e registos corta-fogo e todos os atravessamentos em paredes, tectos e pavimentos deverão ser dotados de selagens corta-fogo, com a resistência ao fogo adequada à utilização tipo e ao risco de incêndio do imóvel.
Os PST são locais de risco agravado pelos níveis muito elevados, quer de tensão, quer de correntes eléctricas em jogo, pelo que são de acesso restrito, só acessível a técnicos qualificados. Os PST são dotados de um conjunto de encravamentos mecânicos e eléctricos, de modo a evitar erros nas manobras de exploração que, caso venha a ocorrer, poderão ser fatais para os equipamentos e principalmente para o ser humano.
Mesmo com um plano de manutenção criteriosamente cumprido, ao fim de 20 anos de vida útil é aconselhável a substituição integral de todo o equipamento integrante dos PST. Por outro, por razões de segurança, para pessoas e bens, e para a continuidade operacional das instalações eléctricas, deverá ser empreendido um plano de investimentos anual de melhoria e actualização regulamentar dos equipamentos e das instalações eléctricas.
Por fim, e não menos importante, em função da dimensão e complexidade das instalações e dos equipamentos que servem o imóvel (hospital, escola, hotel, indústria, etc), é necessário que exista uma equipa de técnicos de manutenção, devidamente formada, actualizada, liderada por um Engenheiro, que poderá contar com outros colegas Engenheiros de diversas especialidades e de uma equipa de Técnicos de Manutenção.

Ponta Delgada,09 de Maio 2024

João Quental Mota Vieira

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