Madre Teresa da Anunciada, a chamada freira do Senhor Santo Cristo, faleceu no dia 16 de maio de 1738. Por isso, não podemos deixar passar esta ocasião sem que, em jeito de homenagem àquela grande figura açoriana, exaltemos nesta crónica alguns aspetos da mística e da sua intervenção direta na promoção do culto ao Senhor Santo Cristo dos Milagres. Foi batizada na Igreja de S. Pedro da Ribeira Seca, no dia 25 de novembro do 1658, dia dedicado a Santa Catarina, precisamente no próprio dia em que ela nasceu.
Teresa de Jesus Quintanilha era a mais nova dos treze filhos de Jerónimo Ledo Paiva e de Maria do Rego Quintanilha. Foi em Rabo de Peixe que os pais realizaram o seu casamento e onde nasceram os seus dez irmãos mais velhos.
A ligação a Rabo de Peixe adveio do facto de sua mãe, Maria do Rego Quintanilha, ter perdido os pais ainda muito nova e foi viver para casa do seu tio materno, o Pe. Francisco de Torres Quintanilha, que era o Vigário da Igreja do Senhor Bom Jesus, a partir de 1622, preenchendo a vaga pela morte do seu predecessor, Pe. Heitor da Cunha Vasconcelos, que falecera em 5 de novembro de 1621.
Era um sacerdote muito culto e respeitado e esteve à frente da Paróquia de Rabo de Peixe durante 21 anos, ao que parece no intuito de não se afastar da sobrinha Maria do Rego Quintanilha. A todos dava proteção do que necessitavam e todas as suas atitudes recomendam-no como cura de elevado sentimento humano, religioso e de muita dignidade.
Quando os avós de Madre Teresa faleceram, sua mãe foi recebida em Rabo de Peixe por seu tio que a trataram com todo o carinho e lhe imprimiram uma educação muito ao gosto da época, impregnada de moral religiosa.
O Pe. Francisco de Torres Quintanilha esteve presente nas cerimónias de batismo dos dez primeiros filhos de Maria do Rego Quintanilha e de Jerónimo Ledo Paiva, todos estes nascidos em Rabo de Peixe. No assento de casamento da Mãe de Madre Teresa exarado a folhas 22 do Livro do Tombo da Paróquia do Senhor Bom Jesus de Rabo de Peixe, referentes aos anos de 1622 a 1673, consta os dados relativos ao casamento ali realizado, tendo sido padrinhos Jerónimo Quintanilha e sua mulher Francisca Antunes e Melchior Afonso Paiva e a mulher Maria Gomes, tendo assinado o livro Mateus Nunes.
Daquele casamento nasceram em Rabo de Peixe os seguintes filhos: Francisco do Rego Quintanilha, batizado em 10 de Outubro de 1632 e casou com Leoa Ricardes do Continente Português; Mariana do Rego Quintanilha; Maria do Rego Quintanilha ou Maria de Torres, a 29 de Janeiro de 1635, casou com Lourenço Furado; Ana do Rego Quintanilha, a 12 de Fevereiro de 1637, casou com Manuel Fernandes Teixeira; Braz do Rego Quintanilha ou do Rego e Sá, a 9 de Fevereiro 1639 e casou três vezes; Simão do Rosário, a 13 de Janeiro de 1640; Manuel do Rego Quintanilha, a 18 de Março de 1643, escrivão dos órfãos: Isabel do Rego Quintanilha, a 7 de Agosto de 1645; António do rego Quintanilha, 22 de Novembro de 1947 foi alferes; Isabel de Torres Rego Quintanilha, 14 de Fevereiro de 1650. Todos os registos encontram-se no livro do Tombo da Paróquia do Bom Jesus de Rabo de Peixe, arquivado na Biblioteca Pública.
A família mudou-se para a Ribeira Seca, após o falecimento do Pe. Francisco de Torres Quintanilha, tendo nascido os restantes 3 filhos, a saber: Joana de Santo António, batizada a 2 de janeiro de 1653; Jerónimo do Rego Quintanilha, a 4 de dezembro de 1655 e por último Teresa de Jesus, a 25 de novembro de 1657.
Do livro de assentos consta: à margem Teresia Teve licença para noviciar em 19 de novembro de 1681, no Convento de Nossa Senhora da Esperança da cidade de Ponta Delgada. Entrou para o noviciado em 20 de junho de 1682 e professou a 23 de julho de 1683, tomando o nome de Teresa da Anunciada. Veio a falecer a 16 de maio de 1738, depois de ter exercido vários cargos na vida conventual, mas nunca aceitou ser a Superiora do Convento.
Madre Teresa da Anunciada, desde tenra idade, começou a venerar a paixão de Cristo perante a imagem do Senhor Santo Cristo dos Terceiros na Igreja dos Frades na cidade da Ribeira Grande e foi graças a ela que nestes dias celebramos uma das maiores festas religiosas do país, por indicação da sua irmã Joana de Santo António.
Volvidos todos estes anos, as multidões de fiéis manifestam de forma sentida a sua inabalável fé no Ecce Homo. Mesmo os que estão distantes da ilha voltam o seu coração para o Santuário do Santo Cristo e os olhos dirigem-se à Veneranda Imagem, que mostra Cristo na sua paixão e entrega total de amor, celebrando-se, assim, com muita alegria cada momento das grandiosas festividades, tudo isto graças à admirável obra de Madre Teresa da Anunciada, que o povo admira, respeita e estima.
António Pedro Costa