Os oceanos enfrentam vários desafios resultantes das atividades humanas e das pressões ambientais. Entre os mais significativos incluem-se a poluição, as alterações climáticas, a destruição dos habitats, a pesca insustentável, a introdução de espécies invasoras e a exploração de recursos no solo e subsolo. Combater estes enormes desafios, para promover a conservação marinha, requer a consciencialização da humanidade sobre os seus impactos e a conceção e implementação coordenada de respostas adequadas, exequíveis e aceitáveis aos níveis local, nacional e internacional, envolvendo diversos atores.
A poluição marinha, originada por plásticos, produtos químicos, petróleo, e esgotos urbanos e industriais, representa uma grave ameaça aos ecossistemas, devido à sua capacidade para prejudicar a vida selvagem e degradar os seus habitats. Os plásticos são ingeridos por muitas espécies, levando a obstruções digestivas, à asfixia e à morte. Os produtos químicos, industriais e agrícolas, contaminam a água, afetando a saúde dos organismos e as suas interações ecológicas. Os derrames de petróleo podem provocar o envenenamento e a sufocação dos animais, além de contaminarem os habitats e interromperem as cadeias alimentares. Os esgotos urbanos e industriais, ao introduzirem nutrientes em excesso no mar, promovem a proliferação de algas tóxicas e causam zonas mortas, onde o oxigénio é escasso, o que perturba os ecossistemas, sobretudo os costeiros.
As alterações climáticas afetam a biodiversidade e os ecossistemas marinhos de várias maneiras relevantes, nomeadamente através do aumento da temperatura da água, da acidificação e da subida do nível do mar. O aquecimento da água causa o branqueamento dos recifes de coral e a migração de espécies para áreas mais frias. A acidificação dos oceanos prejudica os corais, os moluscos e o plâncton, o que perturba as cadeias alimentares. A subida do nível do mar prejudica os habitats costeiros, em especial a faixa entre marés e os estuários, que são locais essenciais para a reprodução e alimentação de muitas espécies.
Os recifes de coral, a faixa entre marés e os estuários são ecossistemas que fornecem habitats vitais e serviços de grande valia. Porém, a urbanização costeira, a expansão dos portos e das estâncias turísticas, a dragagem para construção e navegação, bem como a exploração descontrolada de recursos naturais, nomeadamente a pesca intensiva e a extração de areia, são algumas das principais causas da destruição dos habitats marinhos, diminuindo a biodiversidade, prejudicando a reprodução e a migração de espécies, e aumentando a vulnerabilidade dos ecossistemas a eventos extremos, como as tempestades e a subida do nível do mar.
A pesca insustentável representa um constrangimento sério para várias populações de peixes e outros organismos marinhos, na medida em que, ao provocar a diminuição drástica dos seus stocks, desequilibra os ecossistemas, em virtude de muitas espécies desempenharem funções fundamentais na cadeia alimentar e na saúde dos habitats. Além disso, a sobrepesca pode originar a extinção local ou global de espécies, causando impactos irreversíveis na biodiversidade marinha. Por isso, as comunidades que dependem da pesca para a sua subsistência poderão enfrentar consequências económicas e sociais devastadoras, incluindo a perda de fontes de alimento e de rendimento, aumentando a pobreza e a insegurança alimentar nas áreas costeiras.
A introdução de espécies invasoras nos ecossistemas marinhos pode causar danos expressivos na biodiversidade nativa, bem como nos próprios ecossistemas, porque ao competirem por recursos, nomeadamente alimentos e espaço, levam à diminuição das populações locais. Além disso, algumas espécies invasoras podem tornar-se predadoras dominantes, colocando em risco a sobrevivência das espécies nativas. A alteração dos habitats é outro impacto grave, na medida que as espécies invasoras podem modificar as características do ambiente, nomeadamente a estrutura dos recifes de coral ou a composição do leito marinho, prejudicando a capacidade de os ecossistemas sustentarem a vida nativa.
A exploração de petróleo, gás natural e minerais no solo e subsolo dos oceanos pode originar impactos ambientais muito adversos. A perfuração offshore e o transporte de petróleo aumentam o risco de fugas e derrames, que provocam danos significativos, complexos e duráveis nos ecossistemas marinhos, por contaminarem a água, afetarem a vida selvagem e prejudicarem os habitats. Além disso, as operações de mineração perturbam áreas sensíveis, como os recifes de coral e o leito do mar, impactando negativamente na biodiversidade e nos serviços ecossistémicos prestados pelos oceanos.
Nas circunstâncias descritas, para promover a conservação marinha, é necessário combater os grandes desafios resultantes das atividades humanas e das pressões ambientais, fomentando a consciencialização da humanidade sobre os impactos desses desafios, e estimulando a conceção e implementação coordenada de respostas eficazes.
A consciencialização da humanidade sobre os impactos dos desafios permitirá a redução progressiva das práticas destrutivas a eles associadas. Para isso, importa educar as pessoas sobre a valia dos ecossistemas marinhos e da sua biodiversidade, bem como motivar e mobilizar o apoio público de múltiplos atores para as políticas e iniciativas de conservação marinha.
A conceção e implementação coordenada de respostas eficazes aos desafios permitirá obter o máximo benefício de esforços comuns, realizados por intervenientes distintos, com naturezas diferentes e que operam em áreas separadas. Esta coordenação é particularmente relevante no âmbito da cooperação entre governos, organizações não governamentais, comunidades locais e o setor privado, de forma a implementar medidas de proteção dos habitats, que garantam a resiliência dos ecossistemas e a conservação da biodiversidade marinha.
Em síntese, só com uma forte consciencialização sobre os desafios resultantes das atividades humanas e das pressões ambientais nos oceanos, e com uma hábil conceção e implementação coordenada de respostas adequadas, exequíveis e aceitáveis aos níveis local, nacional e internacional, envolvendo diversos atores, é possível inspirar e realizar ações que promovam a conservação marinha, garantindo a saúde e a resiliência dos ecossistemas marinhos e a manutenção dos serviços ambientais que eles fornecem à humanidade.
Almirante António Silva Ribeiro