1- É importante que no Dia da Região Autónoma dos Açores, que amanhã se comemora, se faça um exame de consciência quanto à evolução que houve nestes quarenta e oito anos em que somos autónomos, mas não independentes. Exame que deve ser feito, em primeiro lugar, pelos actuais detentores de cargos políticos, porque foram eles os escolhidos para serem procuradores dos eleitores que neles confiaram, e depois, pelos cidadãos que têm de ser os guardiões do regime democrático e da própria Autonomia.
2- Vamos começar por aquilo que somos, lembrando que os Açores são nove ilhas que erguem a fronteira da União Europeia com os Estados Unidos da América. Somos a porta de entrada nesse grande espaço, e a nossa localização no centro do Atlântico é decisiva para a defesa mundial, que hoje está em perigo pelas guerras que estão minando a paz entre povos e continentes.
3- Somos um importante activo que Portugal e a União Europeia têm de ter em conta, entre outros factores, pelo contributo que damos para a pacificação e segurança, e pela zona marítima que nos pertence e que nos torna num activo intangível pelo valor geoestratégico que representamos e por sermos, além disso, um activo tangível que nos vem do mar imenso que circunda as nossas ilhas, numa extensão de 953 633 km² .
4- E quem somos? Somos um povo feito a partir de colonos de várias origens que demandaram estas Ilhas. Somos resilientes, fortes perante os invasores, sofredores com as adversidades provocadas pelo isolamento e pelas catástrofes naturais, cientes da história que fomos construindo ao longo dos séculos, e da cultura própria que fomos compondo, bem como das tradições que soubemos cultivar e conservar. Somos 242.497 habitantes dispersos por nove Ilhas.
5- Como somos? Somos uma Região arquipelágica com problemas demográficos em sete das nove Ilhas, resultantes do envelhecimento da população e da deslocação dos jovens que procuram novas oportunidades profissionais.
6- É neste contexto que a acção política tem de se desdobrar, pensando no que somos e virada para quem somos. No âmago das opções políticas estão as pessoas que temos, e as que queremos ter no futuro, proporcionando um sistema de saúde que responda aos cidadãos, assim como o sistema de ensino que tenha em conta a qualidade dos alunos, combatendo o absentismo e o abandono escolar.
7- Precisamos de ter um ensino escolar com regras e complementado pelo ensino profissional, porque é fundamental que os jovens, ao terminarem a escola, tenham saber para garantir uma profissão de acordo com a sua vocação, e nesse desafio os professores que ministram o ensino têm um papel fundamental a desempenhar que deve ser escrutinado.
8- Numa Região que peca pelos fracos resultados escolares, pela falta de formação profissional, e por falta de vontade para o trabalho, o que resta é o ócio, a falta de ambição e o crescimento da pobreza, conforme revelam as estatísticas.
9- Estamos satisfeitos com os índices de pobreza e com os números quanto ao abandono escolar, que levam depois esses jovens para o caminho da droga e do furto? Não podemos estar!
10- Temos na Administração Pública muitos profissionais de sociologia e psicologia que poderão ser muito úteis na prestação de apoio às escolas e aos alunos. Tornar a realidade, apenas com a lamúria habitual, e deixar nos gabinetes os números e os demais indicadores, em vez de arregaçar as mangas é pormo-nos a caminho, agindo com convicção para mudar o que é preciso mudar, deixando a teoria que toma grande parte do tempo e, com garra, passar à acção.
11- Tanto a saúde como a educação constituem dois pilares que são fundamentais para o desenvolvimento e crescimento sustentável da Região. ancorado na diversidade que constituímos, combinando o ambiente, e os recursos próprios de cada Ilha com a população residente.
12- Mas, no Dia da Região, precisamos lembrar que há direitos constitucionais que estão a falhar, entre eles, um muito importante para os jovens, que é o acesso à habitação condigna. Aqui fica um “grito” que iremos repetir, lembrando que é preciso pôr mãos-à-obra para garantir o direito à habitação daqueles que precisam, e são muitos. Mesmo muitos!
Américo Natalino Viveiros