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Dos 6 meses aos 6 anos: o que não oferecer

Provavelmente já ouviram dizer que é proibido oferecer kiwi, morango, pêssego, frutos vermelhos, espinafres, marisco, frutos gordos, soja ou sementes no primeiro ano de vida do bebé. Quase aposto que, no entanto, lhe disseram que podia oferecer bolacha do tipo Maria ou papas com adição de açúcar durante a introdução alimentar. Poderia ainda apostar que, a partir do momento em que o seu filho fez 12 meses lhe disseram que agora já pode comer de tudo. E se lhe disser que nada disto é verdade?
Venha descobrir neste artigo o que não podemos oferecer a bebés e crianças entre os 6 meses e os 6 anos e o porquê destas recomendações.

Dos 6 aos 12 meses

  • Açúcar adicionado, seja ele adicionado ao cozinhar ou em produtos que contenham “açúcar” na lista de ingredientes mesmo que disfarçadamente (ex.: açúcar, glicose, frutose, sacarose, lactose, maltose, dextrose, maltodextrina, mel, geleia, melaço, xarope de (…), sumo de (…), concentrado de (…), sumo concentrado de (…), extrato de malte, amido modificado, amido invertido, amido de milho, farinha de trigo hidrolisada, farinha de trigo extensamente hidrolisada…).
    Isto inclui também sumos de fruta (mesmo que 100% naturais, espremidos em casa), bebidas ou iogurtes açucarados (ex.: iogurtes de aromas, sumos, refrigerantes, águas com sabores, bebidas vegetais com adição de açúcar) ou alimentos ricos em açúcar usados normalmente para adoçar receitas (ex.: tâmaras, sumo de fruta).
    Esta recomendação não se prende apenas com a glicose em si e com a probabilidade de aumentar o risco do bebé vir a desenvolver cáries dentárias ou diabetes, mas também com a reeducação do seu paladar e das suas preferências alimentares. Como os bebés nascem com uma preferência natural pelo sabor doce para que aceitem o leite materno, temos de ter o cuidado de lhe ensinar a gostar da comida o menos doce possível, para que, idealmente, esta preferência se mantenha para o resto da vida, diminuindo assim a probabilidade de vir a desenvolver insulinorresistência, diabetes, excesso de peso, obesidade e doenças cardiovasculares mais tarde na vida.
    Desta forma, mesmo que um produto não tenha açúcar adicionado mas sim adoçantes (artificiais ou naturais) ou tenha um paladar muito doce (ex.: tâmaras, diospiros maduros), não vamos querer oferecê-lo ao bebé.
  • Sal adicionado, seja ao cozinhar, em produtos que contenham “sal” na lista de ingredientes (ex.: pão, queijo, bacon, salsicha, chouriço, alheira, linguiça, morcela, enlatados) ou alimentos/produtos ricos em sal (ex.: caldos industriais, molhos e temperos prontos).
    Tal como o açúcar, a questão não se prende apenas com o teor de sódio e com a probabilidade de aumentar o risco de o bebé vir a desenvolver hipertensão arterial, mas também com a reeducação do seu paladar e das suas preferências alimentares. Como os bebés nascem com uma preferência natural pelo sabor salgado, temos que ter o cuidado de lhe ensinar a gostar da comida o menos salgada possível, para que, idealmente, esta preferência se mantenha para o resto da vida, diminuindo assim a probabilidade de vir a desenvolver problemas renais e cardíacos mais tarde na vida.
  • Alimentos ultraprocessados (ex.: bolachas, snacks, cereais) que não fazem parte da Roda da Alimentação Mediterrânica Portuguesa. Mesmo que não contenham açúcar ou sal na lista de ingredientes, estes produtos têm normalmente texturas muito crocantes que, além de poderem implicar um maior risco de asfixia, podem diminuir a aceitação de alimentos nutricionalmente mais interessantes (ex.: frutas, vegetais, iogurte natural, panquecas caseiras) por terem uma textura altamente viciante.
  • Gorduras saturadas estão normalmente presentes em alimentos ultraprocessados (ex.: panados pré-fritos, bolos, bolachas, algumas papas industriais) e são prejudiciais à saúde do bebé. Por esse motivo, evite oferecer produtos com adição de nata (ex.: iogurtes gregos, queijos mascarpone) ou manteiga (ex.: croissants, bolo lêvedo, pão de leite, massa sovada, pão de deus) na lista de ingredientes, não utilize manteiga, natas ou óleo para cozinhar nem ofereça alimentos fritos.
  • Mel, não apenas por ser uma fonte de açúcar mas por poder conter a bactéria clostridium botulinum que pode produzir toxinas no intestino do bebé e causar botulismo infantil.
  • Alimentos com substâncias potencialmente cancerígenas como as carnes processadas (ex.: salsicha, fiambre), os fumados (ex.: salmão fumado, fiambre fumado), alimentos com elevado teor de arsénio inorgânico (ex.: bebida de arroz, arroz integral, produtos à base de farinha de arroz integral), alimentos com aminas aromáticas heterocíclicas, nitrosaminas e/ou acrilamida (ex.: gorduras visíveis dos alimentos, fritos e churrasco, partes queimadas dos alimentos).
  • Peixes com elevados teores de metilmercúrio (ex.: espadarte, cação, enguia, peixe-espada, raia, salmonete, tamboril, tintureira, atum fresco, bonito, corvina, alabote-do-atlântico, caranguejo, lagosta, ostras, fígado de peixe) por poder afetar o neurodesenvolvimento do bebé. Para não correr riscos, ofereça peixe no máximo 3 vezes por semana ao bebé.
  • Alimentos com substâncias estimulantes como os chás, café, chocolate ou produtos achocolatados não devem ser oferecidos nesta fase por poderem interferir no adequado desenvolvimento neurológico e no sono do bebé.
  • Alimentos com elevado risco de intoxicação alimentar como ovos crus ou malcozinhados (ex.: com a gema crua, em receitas à brás, em mousses, maioneses caseiras) devido ao risco de contaminação por salmonella, carne, peixe ou marisco crus ou malcozinhados, fígado ou carne de caça, carnes cruas (ex.: mortadela, salame, paio), lacticínios não pasteurizados (ex.: leite, iogurte, queijo) ou queijos de pasta mole (ex.: brie, camembert, roquefort) devido ao risco de contaminação por listeria.
  • Alimentos com elevado teor proteico como o leite de vaca ou iogurtes skyr. Sim, o leite de vaca pode ser usado em pequenas quantidades para algumas receitas (ex.: 1 colher de sopa para preparar umas panquecas caseiras), mas nunca deve ser oferecido como bebida antes dos 12 meses por ter o triplo da quantidade de proteína do leite materno ou da fórmula infantil. Qual o problema da proteína em excesso nesta fase? Não só podemos entrar em situações de sobrecarga renal ou sangramento intestinal como aumentamos bastante a probabilidade deste bebé ter um pulo de crescimento e desenvolver excesso de peso ou obesidade.
  • Alimentos com elevado risco de engasgo como pedaços de carne rija, de queijo ou salsicha, peixe com espinhas, frutos/vegetais duros ou crus (ex.: maçã, cenoura, pêra), frutos redondos inteiros (ex.: uvas, cerejas, mirtilos), frutos gordos inteiros ou em manteigas com pedaços, sementes oleaginosas inteiras, pipocas e pastilhas elásticas.
    Dos 12 aos 24 meses

Nesta fase mantêm-se todas as proibições aplicadas no primeiro ano de vida, apenas com duas exceções:

  • Podemos passar a oferecer leite de vaca como bebida, desde que este seja pasteurizado, idealmente gordo (mediante avaliação individual poderá ser considerada a oferta de leite meio-gordo) e que não excedam os 500mL de lacticínios (incluindo o leite de vaca, iogurtes e queijos) por dia (24h).
  • Podemos passar a oferecer alguns alimentos com sal adicionado (ex.: pão, queijo pasteurizado de textura macia) ou cozinhar com muito pouco sal. No entanto, até aos 3 anos não devem ser ingeridos mais do que 1,28g de sal por dia, pelo que, sendo esta quantidade tão facilmente ultrapassável, acho preferível continuarem, se possível, a oferecer comida sem sal adicionado à criança até completar os 3 anos.

Dos 2 aos 4 anos

  • Alimentos com adição de açúcar ou mel podem passar a ser oferecidos ocasionalmente. No entanto, não devemos esquecer que até aos 4 anos a quantidade máxima de açúcar a ingerir por dia é de 16g. E eu sei que olhando apenas para este número pode parecer difícil de o ultrapassar, mas se eu vos disser que com apenas um pacotinho de leite achocolatado ou um iogurte de aromas já ultrapassaram muitas vezes as 18g, talvez consigam perceber o porquê de eu continuar a recomendar evitar produtos açucarados. E se acham que estou a exagerar ou têm dificuldade em acreditar que isto possa ser verdade, desafio-vos a ler a lista de ingredientes e a declaração nutricional de produtos direcionados para crianças, especialmente aqueles cheios de bonequinhos na embalagem. Tenho quase a certeza que nunca irão olhar para eles da mesma forma.
  • Alimentos com substâncias potencialmente cancerígenas, com elevados teores de metilmercúrio, com substâncias estimulantes, com elevado risco de intoxicação alimentar ou com elevado risco de engasgo devem continuar a ser evitados nesta fase.

Dos 4 aos 6 anos

  • Podem passar a oferecer alimentos com elevado risco de engasgo como uvas inteiras, maçã crua, cenoura crua, cerejas ou mirtilos inteiros, frutos gordos inteiros ou em manteigas com pedaços, sementes oleaginosas inteiras.
  • Continuem a limitar a oferta de alimentos ricos em sal uma vez que a quantidade máxima permitida por dia é de apenas 1,8g, passando para 3,06g apenas aos 7 anos. Da mesma forma, continuem a evitar oferecer alimentos ricos em açúcar uma vez que a quantidade máxima permitida por dia até aos 7 anos é de apenas 20g, passando depois para 23g até aos 10 anos.
  • Continua a ser recomendado evitar oferecer alimentos com substâncias potencialmente cancerígenas, com elevados teores de metilmercúrio, com substâncias estimulantes ou com elevado risco de intoxicação alimentar.

Ficou com dúvidas? Precisa de ajuda? Mande-me um email (crescercomsabor@gmail.com) ou uma mensagem através das redes sociais (@crescercomsabor), ou marque uma consulta de nutrição comigo na Crescer com Sabor (Rua Padre José Joaquim Rebelo, 4C 9500-782).

Lia Correia

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