Correio dos AÇores – Como é que descobriu o interesse pela cozinha?
Sónia Melo – Sem a influência directa de chefs ou de uma tradição culinária familiar, comecei a explorar receitas e técnicas por iniciativa própria, experimentando e aprendendo com cada prato que preparava. Assim, a cozinha tornou-se o meu laboratório e a paixão foi crescendo a cada nova descoberta.
Alguma vez pensou em trabalhar noutra área que não fosse esta?
Embora tenha considerado outras áreas, nenhuma delas conseguiu captar o meu entusiasmo da mesma forma que a culinária. A satisfação de criar algo delicioso e único feito pelas minhas próprias mãos e a alegria de ver as pessoas a degustarem as minhas criações são sentimentos que confirmam diariamente que fiz a escolha certa.
Que caminho teve de percorrer para chegar onde está hoje?
O caminho até me tornar uma private chef foi uma viagem de dedicação e aprendizagem constante. Comecei como autodidacta, mas senti a necessidade de aprofundar os meus conhecimentos e técnicas. Foi então que decidi inscrever-me na Escola Profissional Master, aonde completei um curso intensivo de cozinha de dois anos. Essa formação foi crucial, pois proporcionou-me uma base sólida de técnicas culinárias e expôs-me a diferentes estilos e cozinhas do mundo. Estas experiências, aliadas à minha paixão inata pela culinária, permitiram-me desenvolver um estilo muito próprio e a confiança necessária para iniciar o meu próprio serviço de private chef.
Quais foram os momentos mais marcantes da sua carreira?
Ao longo da minha carreira, tive a sorte de vivenciar muitos momentos marcantes, cada um contribuindo de maneira única para o meu crescimento profissional e pessoal. Não tive momentos negativos. Um dos momentos mais especiais foi, sem dúvida, a minha formação do curso de cozinha, pois representou a concretização de um sonho e o reconhecimento do meu esforço e dedicação à arte culinária. Também posso dizer que cada jantar que preparo é um momento marcante por si só. Gosto de ver a satisfação e a alegria nos rostos dos meus clientes; é uma recompensa imensurável.
A Chez Sónia conta com 18 anos de existência. Pode-nos falar um pouco sobre a história desta marca?
A marca Chez Sónia nasceu como brincadeira, sendo food blogger. Foi a partir da paixão pela culinária e pela vontade de mostrar aos outros o que fazia em casa, e como era simples cozinhar refeições práticas, económicas e cheias de sabor. Tudo começou com showcookings, workshops e jantares para amigos e familiares. Com o tempo, e graças ao “passar a palavra” a marca foi crescendo e desenvolvendo-se. Cada situação era uma oportunidade de aprender, inovar e aperfeiçoar a minha arte. Entretanto, nasce este conceito do private chef, que se destaca pela personalização. E cada menu é preparado com ingredientes frescos e de alta qualidade. Ao longo dos anos, tive o privilégio de cozinhar para uma variedade de clientes, desde jantares íntimos até grandes celebrações. Hoje, estou extremamente orgulhosa do caminho que percorremos. E, acima de tudo, é uma história que continua a ser escrita, um prato de cada vez, com o mesmo amor e entusiasmo que marcaram o início dessa jornada.
Quando é que surge o ‘azoresprivatechef’?
Acredito que a comida tem o poder de reunir as pessoas e criar momentos inesquecíveis, e como chef privada, tenho a liberdade de focar nos detalhes e nas necessidades e desejos específicos de cada cliente. Assim sendo, o ‘azoresprivatechef’ surgiu em 2017, como uma extensão natural dessa paixão. Viver nos Açores inspirou-me a levar a minha culinária para um novo patamar. Queria partilhar os sabores locais de uma maneira mais íntima e exclusiva, proporcionando aos meus clientes não apenas uma refeição, mas uma verdadeira experiência gastronómica. Ser uma chef privada permite-me criar conexões únicas através da comida e o ‘azoresprivatechef’ é a realização deste sonho. Isto é, oferecer uma experiência culinária autêntica e memorável no Arquipélago.
Quem são os clientes que a procuram?
Os clientes que procuram os nossos serviços são principalmente turistas que valorizam não apenas a comida, mas também a cultura e a tradição local. Eles procuram mais do que uma refeição; querem sentir-se em casa mesmo longe e desfrutar de uma experiência gastronómica com a essência açoriana. No fundo, procuram algo que vá além do convencional. Além dos turistas, também atendemos clientes locais que querem celebrar ocasiões especiais de uma maneira mais intimista.
Como se processa a logística de preparação para um jantar de private chef?
Temos uma consulta inicial, onde escolho com o cliente as suas preferências e restrições alimentares, número de convidados e detalhes específicos do evento. Em conjunto escolhemos o menu, que pode incluir entradas, pratos principais, sobremesas e opções de bebidas. Valorizo muito os ingredientes locais e sazonais e tento utilizar os que são produzidos regionalmente, sempre que possível. Para a confecção das refeições, utilizamos a cozinha do cliente ou outro local, com uma prévia fiscalização. Cozinhamos tudo no momento e durante o serviço mantenho uma comunicação aberta com o cliente para garantir que as suas expectativas sejam atendidas. Damos por finalizado o nosso serviço após a limpeza e organização da cozinha. O objectivo é garantir que os clientes possam desfrutar da experiência sem se preocupar com nenhum aspecto logístico.
De que forma é que a cozinha dos Açores influencia as suas criações culinárias?
A cozinha dos Açores tem uma influência profunda nas minhas criações culinárias. Prefiro realçar os sabores naturais dos alimentos, evitando condimentos desnecessários e valorizando a pureza e a autenticidade de cada prato. Acho que a cozinha dos Açores é uma fonte constante de inspiração e de orgulho para quem cozinha como eu e procuro honrar esta herança culinária em todas as criações que faço.
Quais são os maiores desafios para uma chef privada nos Açores?
Ser uma chef privada nos Açores apresenta uma série de desafios, mas também oportunidades únicas. Um dos maiores desafios é a sazonalidade dos ingredientes. Devido ao nosso clima, nem sempre é fácil encontrar certos ingredientes durante todo o ano. Isso requer uma grande flexibilidade e criatividade na elaboração de menus, adaptando-os aos produtos disponíveis em cada estação e explorando ingredientes locais que sejam menos convencionais. Outro desafio é a logística, especialmente para jantares em áreas mais distantes ou de difícil acesso. Isso porque é necessário garantir que todos os ingredientes, equipamentos e utensílios estejam disponíveis no local, o que pode exigir um planeamento cuidadoso. Além disso, a sazonalidade do turismo nos Açores pode influenciar os serviços de um chef. Durante os meses de época alta, a solicitação por jantares privados é maior, enquanto na época baixa temos de diversificar os serviços oferecidos ou até mesmo procurar outras fontes de rendimento. Contudo, posso dizer que se uma pessoa se adaptar aos desafios e aproveitar as oportunidades, claro que é possível construir uma carreira de sucesso como chef privada nos Açores.
A Chez Sónia venceu o Prémio Cinco Estrelas Regiões 2024. O que significa para si receber esta distinção?
Receber o Prémio Cinco Estrelas Regiões 2024 é uma honra incrível. Esta distinção representa o reconhecimento do compromisso com a excelência e a qualidade em tudo o que fazemos. Significa que o nosso trabalho árduo, dedicação e paixão pela culinária foram reconhecidos e valorizados pelos nossos clientes e pela comunidade em geral. É a confirmação de que estamos no caminho certo e isso motiva-nos a continuar a trabalhar e garantir a continuidade de um padrão de qualidade e inovação na nossa cozinha. Além disso, é uma oportunidade para celebrar e partilhar esta conquista com todos aqueles que contribuíram para o nosso sucesso. É um momento de gratidão e reconhecimento. Estamos extremamente orgulhosos de fazer parte da elite de estabelecimentos reconhecidos por esta distinção. É um estímulo para continuaremos com a mesma paixão, dedicação e amor pela culinária que nos trouxe até aqui. Estamos profundamente gratos por este reconhecimento e comprometidos em manter a nossa marca como uma referência de excelência gastronómica nos Açores e além-fronteiras.
Quais são os planos para o futuro da marca? Abrir um restaurante é uma possibilidade?
Bom, tudo na vida é possível. Embora continuemos comprometidos em oferecer serviços de private chef de alta qualidade e experiências gastronómicas personalizadas, estamos sempre à procura de outras formas para expandir e diversificar a nossa oferta. Abrir um restaurante seria uma oportunidade de levar a nossa culinária para um público mais amplo e oferecer uma experiência gastronómica contínua e acessível aos nossos clientes e de partilhar a nossa paixão pela comida e pela cultura dos Açores. Posso dizer que o nosso objectivo é o de continuar a crescer e a evoluir, mantendo sempre os valores e a essência que tornam a nossa marca única e especial. Independentemente dos planos específicos para o futuro, estamos animados para ver o que o mesmo nos reserva e para continuar a dividir com todos a nossa paixão pela comida.
D.C. 