A coordenadora técnica do Comissa-riado dos Açores para a Infância, Carmen Ventura, afirmou ontem ao Correio dos Açores que é necessário perceber os motivos que levam a que um aluno se torne absentista, mas sem “imiscuir na vida da criança ou da família.”
“Porquê um aluno é absentista? É preciso conhecer o que está por trás. Não é para imiscuir na vida da criança ou da família, mas perceber porque somos produtos de várias circunstâncias e as crianças são as mais desprotegidas,” afirmou Carmen Ventura à margem da conferência da professora Dora Pereira, da Universidade da Madeira ‘Praticas Educativas Sensíveis à Vinculação com Participação.”
Esta palestra, que decorreu na Universidade dos Açores, foi realizada no âmbito o Dia Mundial da Criança, que será celebrado no dia 1 de Junho.
Este evento contou com a presença da Presidente do Comissariado dos Açores para a Infância, Ana Margarida Silva, a vogal do do Conselho Directivo do Instituto da Segurança Social dos Açores (ISSA), Tânia Fonseca, que esteve no evento em representação da Secretária Regional da Saúde e da Segurança Social, Mónica Seidi – estava em visita estatutária na ilha de São Jorge -, e da professora Dora Pereira na mesa da conferência.
CIA está comprometido
em contribuir com implementação
de boas práticas para as crianças
A Presidente do Comissariado dos Açores para a Infância, Ana Margarida Silva, salientou a importância do Dia Mundial da Criança e afirma que toda a sociedade tem o dever de “garantir às crianças a oportunidade de crescer num ambiente seguro.”
“O Dia Mundial da Criança é um dia dedicado à alegria, à inocência e à esperança que as crianças representam para o nosso futuro. É um dia para celebrar a vida, a criatividade e a imaginação das nossas crianças, e para refletir sobre a importância de proteger os seus direitos, garantindo que todas elas tenham a oportunidade de crescer e desenvolverem-se num ambiente seguro e saudável. As nossas crianças são a próxima geração de líderes, profissionais de diferentes áreas, pais e mães, cidadãos do mundo. É o nosso dever, como sociedade, garantir a oportunidade de crescer num ambiente seguro, saudável, com amor, e, assim, possam ser pessoas feliz!”, explicou Ana Margarida Silva, no início da conferência.
Ana Margarida Silva explicou ainda que o CAI pretende assegurar que todas as crianças tenham a oportunidade de viver uma vida plena: “o Comissariado está comprometido em contribuir para a implementação de boas práticas e políticas sociais que sirvam para melhorar o interesse das crianças na nossa Região. Vamos colaborar para assegurar que cada criança tenha a oportunidade de viver uma vida plena e significativa”
A coordenadora técnica do Comissa-riado dos Açores para a infância, Carmen Ventura, prestou declarações ao Correio dos Açores no âmbito desta conferência.
Carmen Ventura explicou que no decorrer deste trabalho, o CAI tem “estado a capacitar todas as 19 CPCJ (Comissões de Protecção de Crianças e Jovens) dos Açores para a importância da vinculação, para a importância das capacidades parentais e para a importância de um olhar”.
Sobre o trabalho do Comissariado, Carmen Ventura afirmou que o CAI trabalha directamente com as Comissões de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ), mas apenas é um “trabalho de orientação e de acompanhamento”, com as 19 CPCJ.
A coordenadora técnica do Comissa-riado dos Açores para a infância realçou que “a grande preocupação do Comissa-riado é, realmente, dar formação aos nossos técnicos abrindo sempre o leque ao nível dos Açores às escolas porque vamos a ver: o ensino, a saúde, a segurança social são as entidades de primeiras linhas que devem agir. Só ao não conseguirem resolver determinadas lacunas é que devem sinalizar para as CPCJ”, salientou.
Costumo dizer que a responsabilidade para cuidar das crianças é de todos. Não é apenas das CJCP. É dos pais e de toda a sociedade. Temos que estar todos unidos nesta batalha. Hoje a conferência é sobre as práticas educativas à vinculação que é um primeiro passo.”
Sobre eventos futuros do CAI, Carmen Ventura explica que se vai realizar o encontro anual das CPCJ dos Açores, a continuação de formações iniciais às CPCJ, às ECMIJ (Entidades com Competência em Matéria de Infância e Juventude), a participação em várias conferências, palestras e vai dar continuidade ao nosso trabalho de supervisão com as nossas CPCJ.
Destaque ao Projecto VINCA
Tânia Fonseca, vogal do Conselho Directivo do Instituto da Segurança Social dos Açroes (ISSA) destacou a importância do Projecto VINCA, que é um projecto para o desenvolvimento da vinculação afectiva, criado pelo Instituto de Segurança Social, o qual assume a visão de que crianças têm por base uma vinculação segura e reconhece a necessidade de prevenir o distanciamento afectivo das crianças das suas figuras parentais.
A vogal do Conselho Directivo do ISSA relembrou ainda a importância das afectivas no desenvolvimento infantil: “É nos primeiros anos de vinculação que se constroem as competências sociais e emocionais da criança constituída uma fase da vida onde se edificam os alicerces de toda a personalidade.”
Sobre o artigo n.º 28, na Convenção sobre os Direitos da Criança, o direito à educação, que dá o direito ao acesso em igualdade de oportunidades a apoios adequados às necessidades específicas de cada criança, Tânia Fonseca explicou que “a assumpção da criança enquanto sujeito de direitos é uma conquista civilização e que a promoção desses direitos é um imperativo constitucional”.
Tânia Fonseca agradeceu ainda à professora Dora Pereira pelo trabalho desenvolvido com o CAI ao longo dos últimos anos no sentido da capacitação dos profissionais da infância e da juventude dos Açores com vista a uma intervenção cada vez mais qualificada junto às crianças e suas famílias.
Estudo aprofundado
da professora Dora Pereira
A professora Dora Pereira abordou quatro pontos: os desafios à aprendizagem ou comportamentos desafiantes; a aprendizagem como um processo relacional: uma mudança de paradigma; o estudo exploratório na Madeira: Práticas Educativas Baseadas na Vinculação; e os desafios futuros.
A convidada da conferência explicou ainda que há uma grande importância nos três r’s (Relação Direcção-professor; relação professor-aluno e relação aluno-professor) para garantir a segurança, estabilidade e protecção dos alunos, que está associado aos melhores resultados desenvolvimentais e no processo de aprendizagem.
O estudo realizado pela professora Dora Pereira na Madeira tinha um objectivo específico (avaliar o impacto da metodologia Thinkspace) e quatro objectivos gerais: facilitar experiências relacionais securizantes às crianças e jovens que potenciem o processo de aprendizagem; aumentar a consciência dos professores acerca da sua capacidade de auto-regulação e do seu bem-estar e de como os mesmos influenciam a sua função educativa; promover a proximidade relacional e diminuir o conflito na relação pedagógica e diminuir os comportamentos desafiantes, assim percepcionados pelos docentes. Este estudo decorreu ao longo de um ano lectivo.
Alunos desafiantes…
A professora concluiu que, no estudo piloto, foi possível verificar mudanças significativas na percepção dos professores sobre as suas relações com os seus alunos desafiantes e sobre a qualidade do comportamento dos alunos; essas mudanças têm um grande impacto na forma como as crianças aprendem e se relacionam com a comunidade escolar, contribuindo para mudar a forma como muitos outros agentes escolares se relacionam com elas e apoiam o seu processo de aprendizagem e a adoção de práticas educativas sensíveis aos vínculos pode constituir uma mudança de paradigma na gestão dos comportamentos desafiantes: de uma abordagem comportamentalista para uma abordagem relacional e inclusiva.
Este evento destinou-se a todos os profissionais de infância e juventude, em particular aos docentes, psicólogos, assistentes sociais e outros técnicos superiores que desempenham funções em escolas, ATL e Centro de Desenvolvimento e Inclusão Juvenil.
Filipe Torres
