Foi com alguma surpresa, mas com muita alegria, que Júlia Ponte e Lara Medeiros, alunas do sexto ano da Escola Básica Integrada de Arrifes receberam a notícia de que tinham sido seleccionadas para a fazer final do concurso ‘Desafio D’Artes’. Para os professores Elsa Mendes e Pedro Basílio foi o culminar de muitas horas de trabalho e de dedicação. Ao Correio dos Açores, explicam o que os levou a concorrer e a importância de participarem nestes concursos.
Como chegaram até ao concurso?
Júlia Ponte – Acho que não tínhamos conseguido chegar ao concurso sem a ajuda dos nossos professores. Não íamos conseguir sozinhas chegar lá.
Lara Medeiros – Partilho a opinião da Júlia. Gostaria de dizer que também sem algumas pessoas aqui da escola não seria possível termos participado. Ajudaram-nos com a viagem e com as outras coisas que eram precisas.
O que vos levou a participar?
Júlia Ponte – No início foi mais a curiosidade. Não tinha muitas esperanças em relação ao concurso. Mas depois vi que o desenho estava a ficar mais composto, mais bonito e foi assim.
Lara Medeiros – Achei que seria interessante participar. Em casa também faço desenhos e pinturas. Concorri mais pela experiência, não pensei que fosse ganhar nada.
Como se sentiram ao saber que tinham sido escolhidas para fazer parte dos finalistas?
Júlia Ponte – Senti-me muito feliz. No início pensava que seria algo muito difícil de acontecer, visto que concorreram milhares de alunos.
Lara Medeiros – Fiquei muito surpreendida. Não estava à espera. Na minha opinião, havia trabalhos melhores, mesmo na nossa sala. Então eu não estava mesmo nada à espera de ser seleccionada.
A experiência dos professores na edição anterior contribuiu para chegarem à final?
Júlia Ponte – Acho que sim. Os professores iam-nos dizendo de como seriam as coisas. Explicavam como era a gala, o que tínhamos de ir fazendo.
Qual foi a vossa inspiração para criarem as vossas obras?
Júlia Ponte – eu inspirei-me nas portas da cidade. Emília Possoz foi a artista em que me inspirei e o quadro “O livro da areia”. Eu tinha desenhado outro quadro sobre a mesma artista, mas depois decidi mudar e fazer outro. Escolhi mudar porque, na minha opinião, este segundo quadro adapta-se mais às Portas da Cidade.
Lara Medeiros – A minha inspiração foi José Malhoa e a obra foi ‘O fado’. Fiz por sugestão do meu professor. Quando vi o quadro original achei que era muito interessante e bonito. Depois, decidi colocar a montanha do Pico e fiquei muito feliz com o resultado final.
Foi a primeira viagem que fizeram?
Júlia Ponte – Já tinha viajado antes, inclusive para Lisboa. Também já fui a Londres, Braga e Alentejo. Dos Açores já fui a Santa Maria e à Terceira.
Lara Medeiros – Foi a primeira vez que eu viajei.
Como te sentiste ao sair de São Miguel pela primeira vez?
Lara Medeiros – Foi muito diferente. Senti algo diferente porque estava a fazer algo pela primeira vez. Foi a primeira vez que fiquei longe dos meus pais.
Como é que as vossas famílias reagiram ao saber que foram seleccionadas?
Júlia Ponte – A minha mãe ficou tranquila. Disse para dar o meu melhor.
Lara Medeiros – A minha mãe ficou com um pouco de receio, já que nunca tinha viajado. Como eles não iam comigo, havia este receio. Mas sempre me apoiaram.
Qual foi o sentimento que sentiram ao ver um grande numero de pessoas a admirarem as vossas obras?
Júlia Ponte – Foi muito feliz. Víamos as pessoas a comentar as nossas obras e a dizer o que acham delas.
Lara Medeiros – Parecia que estava num sonho.
Como se sentiram ao receber a menção honrosa?
Júlia Ponte – Não estava à espera. Mas fiquei muito feliz e orgulhosa.
Lara Medeiros – Fiquei muito feliz e orgulhosa do meu trabalho. Acho que já foi muito bom termos recebido esta menção.
O que mais gostaram desta experiência?
Júlia Ponte – Foi uma experiência única. Espero que possamos concorrer mais vezes. Fomos na Sexta-feira e voltamos no Sábado. Quando chegamos fomos deixar as nossas coisas no hotel e depois fomos comer.
Fomos ver a Torre de Belém, o Padrão dos Descobrimentos e o Mosteiro dos Jerónimos.
No dia a seguir fomos ao Centro Cultural de Belém ver a Colecção Berardo, até à gala começar.
Lara Medeiros – Eu gostei de tudo. Foi algo incrível e será algo de que nunca me vou esquecer. Gostava de ir participar mais vezes e se possível ser mais vezes finalista.
Fomos ver a expressão imersiva de Dali. Também vimos os sonhos de Dali através de óculos de realidade virtual. Fomos também ao museu Vieira da Silva que tinha obras muito interessantes e bonitas. Parte da exposição também era interactiva e muito interessante.
Quais foram as diferenças entre esta edição e a do ano passado?
Pedro Basílio (Professor de EVT) – A primeira cingia-se apenas a movimentos artístico e a pintores artísticos desses movimentos. Este ano, para além disto, tentaram introduzir algo que representasse a nossa cultura e do sitio onde estamos envolvidos.
No ano passado foram a única escola dos Açores presente na final. Este ano estiveram três. É importante as escolas dos Açores participarem nestes concursos?
Pedro Basílio – é importante sim. Este projecto tem dois anos e eles entrarem com muita força através da Associação de Professores de EVT com as parcerias, neste caso, com a IBEREX que tem a Faber-Castell. Começaram a chamar-lhe de maior concurso de pinturas de escola a nível nacional, e é capaz de o ser, tanto pela dimensão adquirida na primeira edição, como pelo que fizeram agora, na segunda. E são capazes mesmo de ser o maior concurso. Acho que isto vai ser uma bola de neve, quanto mais se falar, mais pessoas irão participar.
É interessante trazer este tipo de motivação para os alunos para eles perceberem que o trabalho deles, dentro destas áreas, pode ter frutos também.
Elsa Mendes (Professora de EVT) – Este ano fomos seleccionados juntamente com a escola Gaspar Frutuoso e a Escola das Capelas. A selecção é muito rigorosa. As alunas ouviram, através do júri, de como é feita a selecção e da dificuldade que os mesmos têm em fazer a mesma.
Não deve ser fácil escolher entre 40.000 alunos…
Pedro Basílio – Este universo dos 40.000 alunos é da participação de uma turma inteira. Da nossa turma toda a gente participou e depois, eles escolheram seis trabalhos, segundo o regulamento era este o número de trabalhos que uma turma poderia enviar, que podíamos enviar.
É importante fomentar a criatividade dos alunos numa época dominada pela tecnologia?
Elsa Mendes – É fundamental. Cada vez mais vemos jovens agarrados às tecnologias. Explorar a parte criativa através das artes plásticas, musicais, etc, é fundamental para a saúde mental das crianças. Para o bem-estar físico e mental deles. Para além de que a expressão plástica é muito abrangente e com esta conquista podemos verificar, indo a Lisboa, a parte histórica da nossa capital.
A forma como elas encararam aquela realidade foi fantástica. Houve uma riqueza muito superior que foi ganha a partir do ganho delas. Antes elas tiveram de estudar um pouco de cada corrente artística que exploraram, das técnicas e dos materiais a serem usados. Quando elas estão focadas no trabalho artístico, esquecem-se de tudo o resto.
É reconhecerem as obras e os autores, reconhecerem todo o trabalho que tinham feito antes.
Pedro Basílio – Isto vê-se claramente. Quando estão concentrados no que estão a fazer, nota-se que estão a gostar daquela aprendizagem. O maior ganho que poderiam ter tido, e que eu tenho enquanto professor destas áreas, para além das destrezas que possam adquirir, é entrarmos no Centro Cultural de Belém e elas dizerem que está ali um quadro de Lourdes de Castro. Este ganho cultural é fantástico para elas e é isto que me faz para o ano participar outra vez.
Em vossa opinião, esta participação foi importante para fomentar relações com pessoas de outras realidades?
Pedro Basílio – Todo o país estava lá representado. Uma das actividades que a gala proporciona são workshops com artistas residentes, e a maior parte pertencia ao júri. Elas participaram com outros alunos de outros colégios. Por exemplo uma das coisas que mais lhes fascinou foi o facto de os alunos do colégio militar estarem fardados.
Existe a expectativa de terem mais trabalhos seleccionados para o ano?
Elsa Mendes – Há pelo menos esta ambição. Queremos concorrer com mais turmas e com mais trabalhos.
Já conseguimos dois anos seguidos. Qual é a probabilidade de conseguirmos um terceiro? Não sei, mas alguma coisa estamos a fazer bem. Fomos a única escola, creio eu, que repetiu a presença nas duas edições.
Elas receberam material físico, enquanto menção honrosa, que depois vai contribuir para o seu desenvolvimento futuro. São mesmo bons materiais que duram. Esta conquista já e uma ajuda para manterem a motivação na área das artes plásticas, da expressão artística.
É importante que o facto destas alunas terem conseguido a nossa representação lá fora na gala, no Museu da Carris e que tragam a mensagem e vai ser um elemento motivador para a restante comunidade estudantil. Para os alunos perceberem que é possível, se tivermos alguma ambição, persistência e trabalho, alcançar resultados. Elas tiveram muito trabalho, muita persistência e muita insistência. Trabalharam durante muitas horas, para além das horas de tempo lectivo.
Os alunos, desta e de outras escolas, têm de perceber que tudo é possível alcançar, deste que se foquem e tenham uma visão de que vai ser possível. Mas é preciso persistência, trabalho e tenacidade para o conseguir. Elas conseguiram e é brilhante. Claro que foi uma surpresa maravilhosa para nós, quando percebemos que tínhamos estas duas alunas a representar-nos lá fora.
Lembro-me de dizer à Lara que ela estava lá porque tinha razão para estar lá. Não foi um acaso e foi fruto de muito trabalho e de tempo.
A partilha que elas estão a fazer e que a turma também já esta a fazer e depois será feita com outros alunos é um elemento motivador para eles querem fazer acontecer. Para terem a oportunidade que elas tiveram. A gente não sabe o futuro, mas quem sabe senão vamos com mais no futuro.
Pedro Basílio – Queremos concorrer com mais colegas nossos, com outras turmas. Vamos tentar alargar o número de participantes.
Uma coisa que se ouviu muito na gala foi que os professores deveriam de estar a fazer algo de bem para, cada vez mais, haver mais participantes nestes concursos. E apesar dos prémios serem apelativos, o primeiro lugar era uma viagem de três dias ao Guggenheim em Bilbao e material no valor de 500 euros, não é isso que motiva os participantes. A motivação é mesmo a aprendizagem.
Temos claramente a ambição de participar. A professora Elsa estava bem mais optimista que eu, e eu já tinha lá estado na primeira edição. O interesse é em participar e depois vemos para onde o trabalho se encaminha.
Elas vieram ter connosco muitas vezes, fora de horas, para trabalhar. Tivemos sempre com elas a ajudar, mesmo fora do nosso horário.
Hoje em dia as pessoas esperam os resultados no imediato, no agora, e este é um trabalho que leva muito tempo a ser realizado. Às vezes é necessário darem-se muitos passos atrás para podermos atingir o nosso objectivo.
Tem mais algo a acrescentar?
Elsa Mendes – Queria só acrescentar que os trabalhos delas agora vão fazer um percurso pelas FNAC’s de todo o país.
Pedro Basílio – Estivemos em contacto com a pessoa responsável pela promoção do concurso e ainda está a decorrer este ano a digressão do ano passado. Irá decorrer até Agosto e só depois a exposição deste ano começará a sua digressão.
Embora São Miguel não tenha nenhuma FNAC, tentamos perceber junto do responsável se existe a hipótese da exposição vir cá. O ano passado isto tinha ficado em aberto mas, infelizmente, não foi possível. Este ano estavam com mais força para trazerem a exposição para cá. Queremos deixar um agradecimento quer à Direcção, quer à Secretaria da escola. Foram eles que proporcionaram esta experiência para elas e para nós.
Frederico Figueiredo