Por definição, a distância hiperfocal é a distância para além da qual todos os objetos se encontram dentro de uma focagem “aceitável” para uma determinada abertura e distância focal. Está intimamente relacionada com a fotografia de paisagem. É um processo no qual se pretende aumentar ao máximo a profundidade de campo garantindo que a imagem final se encontre totalmente focada, desde o primeiro plano até ao “infinito”. A profundidade de campo não muda de focado para desfocado de uma forma abrupta, ela acontece gradualmente imediatamente a seguir ou antes do ponto de foco. Como não há uma zona crítica onde essa transição seja percetível, usa-se o termo “círculo de confusão”.
Mas então o que é a distância hiperfocal, para que serve e de que forma se relaciona com a abertura do diafragma?
Uma das definições de distância hiperfocal é: Quando o ponto de foco estiver no “infinito”, a distância hiperfocal é a distância entre o sensor da câmara e o ponto em foco mais próximo. Isto significa que quando focarmos no “infinito”, a profundidade de campo estende-se da distância hiperfocal até o “infinito”, consequentemente qualquer elemento situado entre a distância hiperfocal e o “infinito” ficará perfeitamente focado na fotografia.
A distância hiperfocal de uma objetiva pode ser calculada através de uma combinação matemática da distância focal, abertura (ou f-stop) e círculo de confusão. É uma ferramenta que os fotógrafos usam para maximizar a profundidade de campo de forma a poderem capturar primeiros planos próximos e fundos distantes com nitidez aceitável. Muitos fotógrafos de paisagem desejam o máximo possível de foco no primeiro plano e no fundo para que possam, por exemplo, tirar uma fotografia de flores em frente a uma cordilheira e ter as flores e as montanhas bastante nítidas. Reduzir muito a abertura para aumentar a profundidade de campo pode causar suavidade na imagem devido à difração. Por outro lado, fotografar com foco no infinito pode não fornecer a profundidade de campo suficiente para manter o primeiro plano nítido.
A distância hiperfocal é obtida através da fórmula:
H=F^2/(NxCx1000), (i)
onde H é a distância hiperfocal (m), F é a distância focal (mm), N é o valor da abertura do diafragma (f/stop) e C é o valor do círculo de confusão (mm).
i) (F) Distância focal (zoom)
Traduzida em mm, a distância focal é a distância entre o centro ótico (ponto de convergência da luz no interior da objetiva) e o sensor ou filme das máquinas fotográficas onde a imagem será projetada. Quanto menor o valor da distância focal maior o ângulo de visão. Por exemplo, uma objetiva de 20 mm oferece um ângulo de visão muito superior a uma de 200 mm.
ii) (N) f/stop (abertura do diafragma)
O diafragma é considerado a íris das câmaras e encontra-se dentro da objetiva. Ele tem, entre outros, um dos papéis fundamentais para a fotografia: controlar a profundidade de campo. O diafragma pode ser aberto e fechado, permitindo uma passagem maior, ou menor, de luz para o sensor. Quanto maior a abertura, mais luz é captada e menor a profundidade de campo. A abertura do diafragma é medida em números f, que são escritos da forma: f/2.1, f/5.6, f/22, etc.
iii) (C) Círculo de confusão
O termo círculo de confusão foi criado na ótica para estabelecer uma definição objetiva do que é a nitidez focal. O valor numérico do círculo de confusão está definido em mm e representa o diâmetro do menor círculo que é visualizado como um ponto. O olho humano tem uma habilidade finita de ver detalhes minuciosos. Numa distância de leitura normal, o menor objeto que alguém com uma visão perfeita, em condições ideais, pode ver tem cerca de 1/16=0,0625 mm de tamanho. Se colocarmos dois pontos menores do que esta dimensão, um ao lado do outro, eles aparentam ser um único ponto. Detalhes e imperfeições são geralmente mais percetíveis em imagens de alto contraste, apresentando linhas bem definidas de transição entre tons claros e escuros. Assim entende-se que estas imagens requerem um círculo de confusão menor, enquanto círculos de confusão maiores podem ser aceitáveis em imagens de baixo contraste. Iluminação é outro fator a ser considerado. É mais difícil para o olho humano identificar detalhes numa imagem quando ela está pouco iluminada. Uma fotografia impressa colocada num ambiente escuro poderá apresentar uma nitidez menor do que se ela estiver colocada num ambiente bem iluminado. Portanto, quando menor a intensidade da iluminação, maior será o círculo de confusão aceitável. A distância à qual a fotografia é observada e a dimensão da imagem são fatores críticos para o círculo de confusão. A relação é simples: quanto maior a imagem e quanto mais próximo o observador estiver dela, mais fácil será observar detalhes e, por isso, menor deverá ser o valor do círculo de confusão. Muitos dos valores do círculo de confusão, citados na literatura especializada, têm origem na fórmula de Zeiss moderna, que considera que o círculo de confusão depende da dimensão da diagonal (d) do sensor da câmara. A fórmula de Zeiss diz que o círculo de confusão é 1/1500 da medida da diagonal do sensor da câmara. Atendendo a que o sensor é um retângulo, por aplicação do Teorema de Pitágoras, facilmente obtemos o valor da diagonal e só temos de dividir este valor por 1500. Por exemplo numa câmara full-frame, o sensor mede aproximadamente 36×24 mm, logo o valor da diagonal é 43,27 mm e o do círculo de confusão é aproximadamente 0,029 mm. Um círculo de confusão é baseado na perceção – não é algo que possa ser calculado com precisão. Alguns fabricantes, nomeadamente a Canon para alguns modelos de câmaras full-frame, optam por 0,03 mm. Neste caso a fórmula i) traduz-se apenas por:
H=F^2/30N.
Passemos então a um exemplo prático: Suponhamos que o leitor vai fazer uma fotografia de paisagem com uma Canon 6D, que sendo uma câmara full-frame considera-se para valor do círculo de confusão 0,03 mm, define uma abertura f/16, devido à difração das ondas de luz, para não perder nitidez na fotografia e utiliza uma distância focal de 20 mm. A distância hiperfocal que obterá é H=20^2/30×16, que é aproximadamente igual a 0,9 m. Desta forma, focando no infinito, todos os objetos situados a uma distância superior a noventa centímetros da câmara ficarão totalmente focados. Se quiser aumentar a profundidade de campo, terá de focar num objeto que se encontre a 0,9 m da câmara e aí todos os objetos que se encontrem a 0,45 m (metade da distância hiperfocal) de si ficarão em área de foco (ver tabela).
Poderá perguntar-me se, todas as vezes que for fotografar, será necessário levar um papel, caneta e calculadora… não necessariamente. Existem tabelas com estes valores que se podem encontrar facilmente na Internet (ver imagens) e até aplicações para Android. Uma fita métrica sim, poderá ser bastante útil.
Paulo Medeiros