Pelas 18 horas de hoje comemoram-se 25 anos da histórica subida do Santa Clara à Primeira Divisão nacional, como na altura era chamada.
Até atingir a 34.ª jornada o Santa Clara travou uma luta próxima com o Desportivo das Aves e com o Felgueiras. Com uma fase final positiva, foi possível à equipa açoriana manter a terceira posição à entrada para a ronda final. A derrota (0-2) na 33.ª jornada no campo do Felgueiras não desanimou as hostes do Santa Clara, porque a equipa da Vila das Aves também perdera (0-1), mas em casa, com o União de Lamas.
Por isso, a 30 de Maio de 1999 o Santa Clara entrou para a última jornada do campeonato da Segunda Divisão de Honra (hoje Segunda Liga) com mais 1 ponto do que o Desportivo das Aves. O calendário proporcionou para o fim o jogo entre as duas equipas que procuravam fixar-se na posição que permitia na época de 1998/99 a subida de escalão. Gil Vicente e Belenenses entravam para esta ronda como primeiro e segundo classificados, respectivamente, estando definido o regresso de ambos à Primeira Divisão.
O entusiasmo em redor da equipa do Santa Clara não se resumiu ao jogo decisivo. Ao longo das 17 partidas no estádio de São Miguel o apoio foi prestado por muitos apoiantes. Na maioria dos jogos acorreram mais de 6 mil espectadores. Era diferente o entusiasmo comparado com o verificado nos últimos anos.
Nos dias que antecederam a partida com o Aves vivia-se na ilha de São Miguel um ambiente de euforia. Poucos ousavam pensar que a subida não se concretizaria. O tema Santa Clara na Primeira Liga era falado frequentemente.
Cercar de 25 mil espectadores
Chegou-se ao domingo, 30 de Maio de 1999. A romaria em direcção ao estádio de São Miguel começou cedo. De todos os recantos da ilha. Crianças, jovens, adultos, seniores e até pessoas com idade avançada. Não queriam perder um momento que poucos pensavam ser possível concretizar por um clube arquipelágico, com dificuldades e com problemas, longe dos centros do poder.
As bancadas do estádio não tinham cadeiras, permitindo mais acolhimento de público. Todos os recantos estavam ocupados. De pé e em cima dos muros. A estimativa é de 25 mil apoiantes. A maior assistência de sempre no campo que hoje acolhe 13 277 espectadores com a colocação das cadeiras. Nem aquando da inauguração a 18 de Abril de 1976 ou a 21, quando o Benfica-Sporting ali jogaram, teve tantas pessoas, isto porque a zona Norte não tinha bancadas e não albergava pessoas. Também a zona poente próxima dos balneários estava ainda com terra. Nem tribuna havia.
Euforia com o 3-0
A festa começou antes do jogo. O apoio à equipa foi ao rubro quando entrou em campo. O entusiasmo aumentou com o primeiro golo, aos 5 minutos, pelo húngaro Istvan Vincze, que aumentou para 2-0 aos 8 minutos. O êxtase surgiu aos 12m com o 3-0 do russo Prokopenko. A Primeira Divisão estava muito próxima. Nem o golo do Aves (1-3), aos 22m, por Rui Lima, preocupou a falange de apoio do Santa Clara.
Quando aos 4 minutos da segunda parte o Aves fez o 2-3, por Paulo Poejo, entrado ao intervalo, começou a sentir-se desconforto, que se acentuou com o 3-3, aos 78m, por Naddah.
O empate ainda servia ao Santa Clara porque mantinha 1 ponto de vantagem sobre a equipa do concelho de Santo Tirso, extinta em 2020 por graves problemas financeiros.
Contudo, o desânimo seria enorme caso o Aves marcasse.
Eis que ao minuto 85 houve uma falta a favorecer o Santa Clara perto da linha lateral no enfiamento da grande área. A bola foi batida, surgindo o defesa central Manuel Eurico a cabecear para o 4-3. A euforia do golo foi de tal ordem que Eurico viu o segundo cartão amarelo, não terminando o jogo.
Euforia Final
“O estádio vinha abaixo” como sói dizer-se. Houve invasão pacifica do campo. Após alguns minutos para retirar as pessoas do recinto de jogo, a grande maioria não regressou à bancada. Situou-se junto às linha final do lado Norte e da lateral poente.
Quando o árbitro setubalense Lucílio Batista apitou para o final do jogo, os elementos da equipa de arbitragem e do Aves procuraram fugir. A mesma pretensão dos do Santa Clara. Não tiveram hióteses. Foram “engolidos” pela multidão. Um cenário incrível, talvez jamais visto naquele ou noutros campos destas ilhas.
Terminava uma caminhada iniciada em 95/96 com a vitória na primeira edição da série Açores da Terceira Divisão, continuada com duas boas épocas no campeonato da antiga Segunda Divisão B, onde o Santa Clara foi campeão. Uma ascensão de quatro Divisões em cinco anos.
A festa foi duradoira e prolongou-se nas Portas da Cidade, que juntou um aglomerado de pessoas perto dos 4 milhares.
Foi há 25 anos. Os principais momentos foram aqui recordados.
No passado dia 19 de Maio o Santa Clara subiu novamente, agora à designada Primeira Liga. Foi a quarta promoção da equipa. Esta 25 anos depois da primeira, associada com o título de campeã da Segunda Liga em 2000/01.
Quem jogou há 25 anos
Árbitro: Lucílio Batista (AF Setúbal).
SANTA CLARA: Madureira; Nuno Portela, Cláudio Abreu, Manuel Eurico e Telmo Silva; Barrigana, Figueiredo e Sérgio Gameiro (Sérgio Pedro, aos 80m); Istvan Vincze (Vladimir aos 77m), Cuc (Sadjó, aos 67m) e Propokenko.
Cartões amarelos para Portela (36m), Telmo Silva (40m), Eurico (44 e 85m) e Sadjó (87m).
Treinador: Manuel Fernandes.
DESP. AVES: Tó Ferreira; Armando Santos, Pedro Barney, José António (Paulo Poejo, aos 45m) e José Vieira (Rui Alberto, aos 75m); Neves, Ricardo Nascimento (Octávio aos 45m) e Rui Lima; Jorge Duarte e Jorginho.
Cartões amarelos para Ricardo Nascimento (22m), Armando Santos (80m) e Rui Lima (82m).
Treinador: Professor Neca.
José Silva