Correio dos Açores – Qual o significado do Corpo de Deus?Padre André Resendes (Pároco da Povoação) – A solenidade do Corpo de Deus, teve o seu início no séc.XIII, e posteriormente, pela mão do então Papa Urbano IV, foi alargada e celebrada em muitas cidades europeias, e naturalmente, chegou até nós.O seu significado mais alto e profundo é a contemplação e adoração de Jesus, presente, real e totalmente, no mistério da Eucaristia, segundo o Seu mandato: “Fazei isto, em memória de Mim”.Qual o papel dos emblemáticos tapetes de flores para celebrar este dia no Conselho da Povoação?Foi no ano de 1905, que, por desejo do reverendo padre Ernesto Jacinto Raposo, que se iniciou a festividade em honra do Corpo de Deus. Cinco anos após a primeira procissão foi instituído o Feriado Municipal, por proposta do vereador Manuel Soares Brandão. Por Portaria de 26 de Junho de 1905 se declarou que “ficaria a cargo das câmaras municipais a festividade da procissão do Corpo de Deus”, compromisso que a autarquia povoacense jamais deixou de cumprir até aos nossos dias.As flores, também elas criadas por Deus, na sua multiplicidade de recortes e cores, são uma forma de doar ao Criador, e honrá-Lo, com as maravilhas que Ele nos dá!Qual o significado desta celebração para a comunidade? Para a comunidade, e no geral para todas as comunidades cristãs católicas, esta é a ocasião certa para demonstrar ao mundo e a nós próprios reconhecermos Aquele que por nós deu a Sua vida, e ficou “escondido sob as espécies eucaristias”, citando S. Francisco Marto, pastorinho, para permanecer connosco até ao fim dos tempos.Este é um tempo de muita emigração na Povoação. Qual a sua dimensão?Todos os anos, e este não é exceção, por esta altura, já circulam na nossa ilha, muitos turistas.Claro que, para quem vem de fora, das grandes cidades e países de culturas diferentes, fica admirado e radiante com o que se depara aqui, por esta ocasião. Esperamos sempre, que levem consigo este belíssimo cartão de visita, e também possam, os que creêm, se encontrar e estar com Jesus.Como vê a evolução destas tradições ao longo dos anos? Existem mudanças significativas que quer destacar? Diz-se que é fruto da pandemia… até poderia ser, mas creio que a pandemia só colocou a desnudo o que há muito, por muitas vozes, tendências, modas e ideologias, já se ia interiorizando. Mudanças são sempre sinal de desafios, e temos de saber encará-los à altura, fiéis a Jesus, mas actualizando linguagens e modos de ser e celebrar a fé. Além disso, esta é uma geração que vive, na sua maioria, e em vários aspectos da sua vida, alienada das realidades em que se insere, o que se nota pela forma de ser e estar.Quais são as suas expectativas para a participação da comunidade este ano?Não tenho muito por filosofia de vida, criar expectativas, para não me desiludir, até porque o futuro é matéria para Deus e não para um mortal como eu. Mas rezo sempre para que Jesus toque mais corações, faça morada em mais almas, e sobretudo possa ser encontrado e ter-nos como Companheiro de excelência, quais discípulos de Emaús!
Daniela Canha