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150 anos da Festa da Bandeira da Caridade de Rabo de Peixe

No dia 31 de Maio, perfez precisamente 150 anos que saiu pela primeira vez à rua, no ano de 1874, a Bandeira da Caridadee que foi instituída pelo Morgado Maurício Arruda, conjuntamente com os vizinhos os Padres Manuel Tavares Resendes e José Orlandão.
O Morgado fez então uma festa com grande pompa em louvor da Santíssima Trindade, voltando ele próprio a ser Mordomo no ano seguinte, mais precisamente no dia 23 de Maio de 1875, num modelo mais simples, para mostrar que se podia promover esta festividade, sem o esplendor do ano anterior, mas sempre com grande dignidade.
Seguiram-se na ordem sucessora como Mordomos, o Pe. Manuel Tavares Resendes, no dia 18 de junho de 1876; José Caetano Pereira, no dia 3 de junho de 1877; José Caetano da Maia, no dia 26 de maio de 1878; José Gonçalves Fonseca, no dia 15 de junho de 1879 e em 1880 o Pe. Jacinto Galvão, no dia 30 de maio daquele ano.
Desde então, foi possível registar até aos dias de hoje, em manuscrito, os nomes e datas de todos os mordomos da festa da Santíssima Trindade, salvo durante 7 anos, ou seja, no período entre 1886 e 1893, pois desconhecem-se quem foram os promotores, apenas sabendo-se os dias precisos em que a Bandeira da Caridade foi levada até à Igreja do Bom Jesus em solene cortejo celebrativo. Graças ao comerciante de Rabo de Peixe, José de Sousa Faria, quando tinha apenas 7 anos de idade, começou a anotar todos os pormenores que envolvia a festa, bem como o nome dos mordomos e os dias em que elas se celebravam, um trabalho louvável que permitiu a que atualmente se pudesse reconstituir toda a história da Bandeira da Caridade.
A casa de onde saiu pela primeira vez a Bandeira foi a moradia solarenga,que está acoplada à ermida de S. Sebastião, no Cabo do Lugar, residênciad do Morgado Maurício Arruda. O lindíssimo Hino da Caridade foi estreado pela primeira vez no dia 26 de maio de 1878, sendo a música do Maestro Monteiro d’Almeia e a letra do Dr. José Nunes da Ponte. No seu estandarte encontram-se uma singela pomba ao centro com um olho de rubi, representação do Espírito Santo e circundada de estrelas, numa alusão aos Planetas então conhecidos, com a inscrição bordada da palavra Caridade, numa oferta do primeiro mordomo o Morgado Maurício.
Por isso, falar da história da Bandeira da Caridade é também falar do espírito de pioneirismo de gente ilustre, como foi o Morgado Maurício Arruda, que foi Presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande, como existem muitos outros, desde o mais humilde colaborador ou apenas Irmão da Santíssima Trindade, que sempre souberam, desinteressadamente dignificar o nome de Rabo de Peixe, quer no campo religioso, social, cultural, empresarial ou desportivo.
Falar desta história da festa da Santíssima Trindade é acompanhar também a par e passo, as etapas, por vezes esgotantes e sacrificadas, que são empreendidas pelos mordomos e pela Irmandade, em ordem a se realizarem umas festas com tanta dignidade e elevado esplendor religioso e identitário, que mostra a tão grande devoção pelo Espírito Santo, em particular naquelavila.
Cada ano e cada mordomo faz jus aos que primeiramente iniciarem em 1874 as Festas da Caridade, que são Alvoradas de Luz, como diz o seu hino e numa alusão direta aos objetivos da sua criação que condensa, num contributo muito significativo o cumprimento do objetivo sagrado de fazer “esmolas”, para que no dia da Santíssima Trindade, pobres e ricos tivessem naquele domingo, uma mesa farta, com pão, carne, vinho e massa sovada, coisa rara na altura, num movimento que dá a conhecer a solidariedade ativa de todo um povo vincadamente fraterno, que se diferencia do de outras localidades e passaram a constituir aspetos tão importantes da história coletiva de Rabo de Peixe.
A alegria envolta nestas festas impressiona quem visita Rabo de Peixe, como em 1918,Luís Bernardo Leite de Ataíde que, perplexo com o frenesim da euforia, interpela o povo por tal entusiasmo. A reposta que recebe é concludente: saiba vossa vossoria que cá neste dia tudo é alegria porque muitos miserávlesteim as casinhas cheias é o casante desta alegria toda, porque a gente veim a casa cheia o que inté parece um milagre no meio de tanta pobreza.
A realização das festas visa igualmente fazer uma aproximação ao cerne do enigmático culto do Divino Espírito Santo, por meio das Bandeiras, onde se prescinde das habituais coroas, tão costumadas em todas as outras paragens açorianas ou na diáspora onde se celebra o Pentecostes e a Santíssima Trindade, mas que são uma realidade distinta em Rabo de Peixe.
Esta festa tornou-se numa forma concreta da identidade cultural do lugar, pois ali se celebra o Paráclito sob o símbolo da Bandeira, quer seja da Beneficência, quer seja da Caridade, estando o porquê do uso daquele emblema desvendado, pois foi a forma dos seus pioneiros as diferenciarem dos impérios das coroas que se continuam a realizar-se nas diferentes zonas de Rabo de Peixe. Fazer parte daquela Irmandade centenária não é apenas uma honra, como é uma expressão concreta do espírito cristão de caridade e solidariedade, refletindo os valores fundamentais da partilha e do apoio comunitário. Como tal, as Festas da Bandeira da Caridade foram constituídas visando ser uma oportunidade para a comunidade se reunir, reforçar laços sociais e apoiar aqueles que mais necessitavam. Assim, este evento religioso não só preserva as tradições culturais e religiosas de Rabo de Peixe, como também promove a solidariedade e a ajuda mútua, essenciais para uma sociedade mais justa e humana. A organização destas festividades reveste-se de uma enorme complexidade tão genuína e tão singelas, onde ressaltam os mitologemas suscetíveis de atribuírem sentido ao percurso cultural e religioso dos habitantes de Rabo de Peixe. As Festas da Bandeira da Caridade são um exemplo concreto de como o espírito cristão de caridade pode ser vivido e celebrado de forma comunitária. Através da partilha de alimentos, das celebrações religiosas e do fortalecimento dos laços sociais, festividades que pretendem manter viva a tradição do apoio ao próximo, refletindo os valores centrais da fé cristã do seu povo.
Até aos dias de hoje, cumpre-se o compromisso de solenizar estas celebrações, que atingem um invulgar brilhantismo, graças ao empenho de cada Mordomo, como também da Comissão de Festas, bem como de toda Irmandade. Felizmente que todos os anos se regista o habitual fulgor de que estas festividades estão envoltas e que muito têm dignificado Rabo de Peixe, tendo o seu ponto alto o domingo da Santíssima Trindade com o imponente cortejo processional, concelebração eucarística e entrega da Bandeira ao novo Mordomo.
Celebrando os 150 anos de história, estas festas não só relembram o passado, mas também afirmam o compromisso contínuo com a fé, a caridade e a solidariedade comunitária.

António Pedro Costa

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