Rui Sebastião mandou restaurar o barco ‘Gazela’ que lhe foi oferecido por Margarida Jácome Correia Hintze Ribeiro Oliveira Rodrigues e que encontrava na casa dos barcos na Lagoa das Furnas.
O ‘Gazela’ foi mandado construir em Inglaterra, por volta de 1860, por José do Canto, para oferecer à sua filha Maria Guilhermina Brum do Canto para ela navegar com ele na Lagoa das Furnas.
O ‘Gazela’ foi mais tarde oferecido por Maria Guilhermina, que não tinha filhos, a Susana do Canto Brum de Noronha Pimentel, que era sua afilhada. Esta levou-o para a Lagoa do Congro, que lhe pertencia. Aí ficou até a propriedade ter passado para o Governo Regional dos Açores.
Depois da morte do marido, em 1980, o barco ‘Gazela’ regressou à família voltando assim a casa e à Lagoa das Furnas.
Rui Sebastião, de 40 anos de idade é empresário do sector do turismo e disse à nossa reportagem, que “inicialmente existiam dois barcos, o ‘Gazela’ e o ‘Pico’, mas este último já não existe há muito tempo. O ‘Gazela’ tem 164 anos e curiosamente tem praticamente a idade da conclusão das obras da Capela de Nossa Senhora das Vitórias, considerada como um dos mais ricos e originais templos do arquipélago.
A ermida foi levantada ainda em vida de José do Canto, do que resultou que a mesma ficasse a constituir uma pequena maravilha artística, em estilo neogótico, imitando as grandes catedrais europeias.
Barco com enorme significado
para Rui Sebastião
O barco ‘Gazela’ tem um enorme significado para Rui Sebastião, uma vez que o seu pai, que tinha um barco de duplo casco e uma vela foi dar um passeio na Lagoa das Furnas, mas o barco virou e o seu pai ficou a boiar durante horas sem ser visto, porque entretanto estava muito nevoeiro. Não tinha colete de salvação e lutava pela vida, acabando por ser salvo por um filho de Margarida Jácome Correia Hintze Ribeiro Oliveira Rodrigues, que o foi buscar no ‘Gazela’.
O barco estava muitas vezes encorado em frente à Ermida e Rui Sebastião tinha um carisma especial por aquela embarcação.
Mais tarde, em 2023 Rui Sebastião voltou a reencontrar o barco ‘Gazela’, que estava degradado admitindo junto do caseiro, que gostaria de voltar a ver aquela embarcação a navegar, podendo ajudar nesse sentido, até por uma questão sentimental, por ter estado no envolvimento do resgate do seu pai.
Mais tarde, Rui Sebastião foi contactado por Margarida Jácome Correia Hintze Ribeiro Oliveira Rodrigues, que tinha ficado a saber da história por detrás do interesse em querer restaurar a embarcação, acabando por lhe oferecer o ‘Gazela’.
Rui Sebastião contactou o estaleiro naval de Rabo de Peixe, nomeadamente os mestres José Vieira e Mário Andrade. Pediu-lhes que fossem ver o barco, que estava em muito mau estado e antes de ser transportado houve a necessidade de se fazer uma maquete para se iniciar a sua reconstrução, e assim aconteceu.
Rui Sebastião vai, por agora, guardar o barco que voltou a estar novo, havendo no entanto interesses de privados e organismos públicos em poderem solicitar o Gazela para exposição.
“O barco estava muito danificado”
Mestre José Vieira relatou-nos que o barco chegou-lhe “em muito mau estado, estava danificado no seu interior e exterior.”
“Começamos por fazer a reparação no seu interior, porque o orçamento inicial era só para o interior, só que quando chegamos ao exterior estava, de igual forma, muito danificado. Tivemos de encontrar a madeira de origem, cedro branco no exterior e pinho no interior. Não é fácil de encontrar cedro branco, mas acabamos por encontrar e conseguimos reparar a embarcação”.
A reparação demorou mais tempo do que o previsto. “Tivemos seis meses sem poder fazer nada, porque tínhamos de encontrar as madeiras de origem, o que não foi fácil”.
Mestre José Vieira relatou ainda, que “para se fazer um barco daqueles, faz-se num mês e uma semana, aproximadamente, mas como não havia a madeira pretendida demorou mais tempo. Pensávamos, que o exterior era de criptoméria, mas acabamos por verificar que era cedro branco”.
Quanto ao barco propriamente dito, “é muitas vezes apelidado de canoa, mas não, porque já é considerado barco, devido às dimensões”.
O ‘Gazela’ foi reparado no estaleiro naval Jsalvador, em Rabo de Peixe. “Já fazemos barcos há 22 anos”, revelou, e neste momento foi iniciada a construção de um atuneiro.
O chamado esqueleto do barco é a primeira fase de construção de qualquer embarcação com o redobrado profissionalismo e marca do seu construtor, neste caso em particular, José Vieira e Mário Andrade.
Em média, fazem-se entre quatro a cinco embarcações de grandes dimensões, mas já se forem embarcações mais pequenas, poderão ser feitas sete ou oito.
Marco Sousa