1- Pode dizer-se que o primeiro semestre de 2024 ficará registado como o ano eleitoral, que começou a 4 de Fevereiro pelos Açores, a 10 de Março com as eleições para a Assembleia da República, a 26 de Maio com as eleições para a Assembleia Legislativa da Madeira, e a 9 de Junho, serão as eleições para o Parlamento Europeu, que irá depois determinar os novos Presidentes para a Comissão e para o Conselho Europeu.
2- Recentemente, Ursula von der Leyen, numa intervenção que fez no Parlamento Europeu, disse que a Europa não está segura, porque durante anos a defesa foi um domínio de pouca visibilidade em Bruxelas, até à invasão da Ucrânia lançada pela Rússia e, a partir desse momento, os países europeus foram obrigados a reconhecer as falhas que têm e as fragilidades que delas resultam.
3- Por isso, Ursula von der Leyen entende, embora tarde, que a Europa está em perigo pela falta de uma política da União que tenha convergido, incentivado e apostado na indústria militar, para servir os países da União e garantir a sua segurança, em vez de dependerem da indústria militar dos países que estão sempre à porta da guerra.
4- À falta de uma indústria militar que preencha o vazio actual da União Europeia acresce as incertezas quanto à política norte-americana para com os compromissos europeus, que se tornou mais preocupante depois dos comentários de Donald Trump que, apesar de terem desencadeado uma furiosa reacção dos líderes ocidentais, fomentaram receios quanto à viabilidade da Aliança Atlântica a longo prazo.
5- A conjuntura actual obriga todos os países da Europa a fazerem o possível e o impossível para garantir a segurança e a protecção da democracia que corre grandes riscos, desde o crescimento galopante à desinformação, passando pelas falsificações e conteúdos ilegítimos.
6- Isto é, a Europa perdeu as certezas que eram tidas como adquiridas e elas vão desde a política em geral, à segurança e à economia. A situação é tão delicada que é a própria Presidente da Comissão Europeia que coloca em mora as políticas de investimento que marcaram o mandato que agora termina e que tinham como pano de fundo a transição energética, a aposta na digitalização e nas alterações climáticas, para vir agora conclamar que: “Temos de gastar mais. Temos de gastar mais e melhor. E penso que temos de gastar mais na Europa para consolidar a nossa base industrial de defesa”.
7- Onde estiveram até agora os “Magos” da União Europeia para não se aperceberem, a tempo, dos verdadeiros perigos da União Europeia e procurar políticas assertivas para os debelar?
8- Mas não é apenas a União Europeia que tem responsabilidades quanto à conjuntura que atravessamos, porquanto os partidos políticos que concorrem às eleições europeias, andam pelas ruas a falar de coisas caseiras, insultando-se uns aos outros, sem falar daquilo que vai na Europa e diz respeito a todos os cidadãos da União. Alguns dos candidatos, à falta de melhor vão até aos currais onde pastam os burritos fazendo-lhes carícias para a televisão.
9- A verdade é que nos debates que tem havido na comunicação social, designadamente nas televisões, onde os comentadores falam de tudo, menos daquilo que deveras atormenta a União Europeia e com ela todos os europeus, deixando o caminho aberto para os lóbies continuarem a pontificar no futuro dando opinião sobre os negócios que têm em carteira e que certamente não se enquadram nas necessidades que a União Europeia tem e que só agora vieram à tona de água.
10- As eleições para o Parlamento Europeu são importantes, mas não se vê os candidatos, nem os partidos políticos que as elas concorrem, discutirem a segurança no futuro incluindo os problemas da imigração, assim como a desburocratização do sistema europeu e a aposta em políticas sociais que dêem resposta aos jovens e aos sem abrigo, mediante uma política de apoio à habitação.
11- Na esperança que os dois candidatos dos Açores ao Parlamento Europeu sejam eleitos no dia 9 de Junho, espera-se que eles sejam os porta-vozes das políticas que respondam às necessidades da Região.
12- Os Açores precisam da União Europeia, mas a Europa também precisa dos Açores, pela segurança que ela oferece à Europa.
Américo Natalino Viveiros