Para o comum cidadão que acompanha o que se passa à sua volta, a horrenda catástrofe que ocorreu no passado dia quatro de maio, no Hospital do Divino Espírito Santo, em Ponta Delgada, só surpreendeu pela sua enorme dimensão.
Quem, por razões de saúde frequenta aquela unidade hospitalar é testemunha da sobrecarga de trabalho que era exigida aos equipamentos, ao pessoal, desde o porteiro até ao Diretor Clínico, só superado pelo profissionalismo e persistência do pessoal médico e de enfermagem.
Sim, não é fácil gerir uma sala cheia de utentes e o sistema sem funcionar atrasando uma consulta de quinze minutos para uma hora, o aparelho “x” ou “y” que avariou com a sala repleta de utentes. Os desabafos que se ouviam do pessoal entre si, revoltados por não terem, em muitos casos, as condições necessárias para o desempenho da sua função com segurança e dignidade!
Era visível a carga de exigência a um hospital com vinte e cinco anos de vida, já ultrapassado há muito, na sua estrutura física e equipamentos de diagnóstico, que levavam, por vezes, a duvidar dos seus resultados!
Era, e é, visível o abandono a que a classe política dotou este hospital, desvalorizando a sua importância na saúde dos Micaelenses e dos Açorianos!
Fiquei, sim, surpreendido com o anúncio do senhor Presidente do Governo a garantir, após este incidente, que irá haver um “plano anual de manutenção” para todas as unidades de saúde da Região. Então, antes não havia manutenção!?
Infelizmente, este caso leva-nos a meditar no abandono a que S. Miguel está devotado pelo Governo Regional. Não haja dúvidas de que para qualquer governo, independentemente, da sua cor ou ideologia, abandonar S. Miguel é um erro tremendo que afeta os Micaelenses e os Açores, em geral. É em S. Miguel que está a maioria da população residente nos Açores, é aqui o motor da economia, o pulsar das finanças e, até, os problemas destas nove ilhas.
O garrote financeiro com a falta de pagamento em “tempo” às empresas de pequena, média e grande dimensão, sitiadas nesta ilha, e que são os maiores fornecedores do governo regional de bens e serviços, é um problema grave e de grande importância em toda a ilha, criando muitas e sérias dificuldades à economia local.
Está abandonado o Estádio de S. Miguel, o porto de Ponta Delgada, nem estudo existe para definir o seu futuro, o aeroporto João Paulo II, que em muitas situações é terceiro mundista, as estradas regionais, que em muitas centenas de quilómetros não vêm asfalto novo há muito tempo, pondo em risco a circulação de pessoas e bens, as suas bermas que eram um postal de referência desta ilha estão cheias de ervas daninhas.
O miradouro da Vista do Rei – Sete Cidades, que sofreu há pouco tempo uma remodelação, que não resultou por pouco ambiciosa para a sua afluência, continua constrangido o seu acesso para apreciar toda aquela “Maravilha da Mãe Natureza”, até os lavabos que lá foram construídos estão há muito fechados, levando o turista a recorrer às arvores em redor para aquela necessidade de última hora.
As Sete Cidades, uma das “Sete Maravilhas de Portugal”! Dá dó circular na orla das lagoas abandonadas, as suas margens alagadas porque a descarga de águas não pode ser feita no caudal adequado, para garantir a segurança na ribeira que aguarda, há anos, requalificação. Louvor se reconheça à Câmara Municipal de Ponta Delgada os trabalhos executados, atempadamente, na parte que lhe competia, dentro da freguesia dos Mosteiros.
A pobreza, o álcool, a toxicodependência, a indigência geram à sua volta nesta ilha a insegurança e muitos receios junto da população, em especial, em Ponta Delgada. Nada se faz e que seja visível, para além dos estudos anunciados. Curiosamente, sendo o álcool um dos problemas de Ponta Delgada, promove-se, no Centro Histórico, uma feira de vinhos. Neste mesmo local, numa feira de natal para crianças, promove-se a venda de cerveja.
O trânsito em horas de ponta e dias de chuva é caótico em Ponta Delgada. A avenida Infante D. Henrique voltou aos tempos da década de setenta do século passado, que obrigou ao seu prolongamento para nascente, soterrando, infelizmente, um rico património natural e histórico, tendo vindo a descongestionar o trânsito nesta artéria. Recuamos no tempo!
Os cabos submarinos de grande importância para os Açores, já tema de muita tinta neste jornal, continua nos segredos dos deuses o local de amarração.
Recordo com saudade, os Secretários de então, nomeados por competência e pela sua visão Açores, rodeavam-se de pessoas com saber e conhecimento para garantir o crescimento de cada ilha à sua dimensão e num todo Açores! Hoje, sabem tudo e privilegiam a politiquice em prol dos Açores, dá nisto!
Falhou e continua a falhar a escola como pilar base do saber e do conhecimento. Abrem-se cursos de formação profissional de costas voltadas para o mercado de trabalho!
Perdemos o ADN dos nossos antepassados do século XIX e XX que lutaram contra tudo e todos por esta Autonomia, desenvolveram S. Miguel olhando os Açores, é exemplo os transportes aéreos, marítimos e o turismo!
Até a RTP/Açores em S. Miguel apagou!
Carlos A. C. César