Na próxima quinta-feira passará mais um aniversário (o quadragésimo nono) sobre o 6 de Junho de 1975.
Embora alguns queiram distorcer a verdade dos factos sobre aquela data, o certo é que, se não tivesse acontecido naquele dia, em Ponta Delgada, a maior manifestação popular de que há memória e que culminou com a resignação do então Governador Civil, o qual foi substituído por uma Junta Governativa, a autonomia dos Açores, tal qual a conhecemos então (que pouco tem a ver com a actual) não teria acontecido .
É bom lembrar que, apesar de naquele dia não ter havido em Angra do Heroísmo e Horta qualquer manifestação com idênticas reclamações, aqueles ex-distritos também foram beneficiados. E porquê? Porque em Ponta Delgada se reclamava contra as injustiças de Lisboa para com todo o arquipélago e não só para com S. Miguel.
Daí, o então Governador Militar dos Açores, general Altino Pinto de Magalhães, ter substituído os três Governadores Civis pela supra citada Junta Governativa composta, maioritariamente, por militantes dos dois maiores partidos de então (e de agora também) o PSD e PS.
Reconheço todavia que, se não tivesse havido o 25 de Abril de 1974, que devolveu a liberdade ao povo português no seu todo, não teria sido possível haver a manifestação do 6 de Junho de 1975.
Também convém lembrar que, no chamado verão quente de 1975, Portugal vivia debaixo de um regime comunista, com acções de repressão a cidadãos civis, assaltos a bancos executados por um braço armado da extrema esquerda apelidado de FP-25, isto para além de uma divisão militar (a tristemente célebre 5ª. divisão) que fez imensos disparates ao abrigo do chamado PREC-Processo Revolucionário em Curso, por sua vez controlado pelo Conselho da Revolução daquela época.
Ou seja, naquele Verão quente de 1975, Portugal esteve à beira de se tornar uma Cuba da Europa, tal era a preponderância das forças de esquerda nos órgãos de decisão do país.
Todos estes acontecimentos, de modo especial os verificados antes de Junho daquele ano, foram “ingredientes” para o descontentamento quase geral que se vivia nos Açores todos, mas de modo especial em Ponta Delgada.
No debate dos presidentes que a RTP/Açores pôs no ar (e muito bem) a propósito do cinquentenário do 25 de Abril de 1974, Carlos César foi o único que reconheceu – embora de forma ligeira – a importância da manifestação do 6 de Junho, tendo afirmado até se ter envolvido em situações de conflito (as palavras são minhas) mas sem grandes consequências.
Eu próprio sou testemunha de tal facto, principalmente quando ele (ainda rapaz) rondava o Café Royal, considerado um “bastião” da FLA naquele tempo.
O propósito deste escrito é unicamente para repôr a verdade dos factos, tal qual eu os vivi, os presenciei e, em muitos deles, fiz parte.
Não escrevo porque me disseram ter acontecido isto ou aquilo, aqui ou ali; escrevo o que testemunhei e para que fique registado para memória futura.
Mas o chamado verão quente, acabou em Novembro daquele mesmo ano.
Com o rumo que o país estava a tomar, os militares moderados e verdadeiros democratas resolveram (em boa hora) alterar o rumo. Nomes como Melo Antunes, Ramalho Eanes, Jaime Neves, Vasco Lourenço, entre outros, organizaram o contra-golpe executado a 25 de Novembro de 1975 que veio restaurar a democracia no país.
Entretanto, os Açores que já tinham uma Junta Governativa liderada por Mota Amaral para orientar os seus destinos, começaram a trabalhar no sentido de se constituir um verdadeiro governo regional, com todas as valências necessárias à boa administração deste arquipélago que, entretanto, se convencionou chamar de Região.
O primeiro Governo Regional tomou posse a 8 de Setembro de 1976.
E tudo isto por causa do 6 de Junho de 1975.
Que fique bem claro!!!
Carlos Rezendes Cabral
P.S. Texto escrito pela
antiga grafia.
2JUNHO2024