Qualquer sociedade, escritório de comércio, oficina, cabeleireiro ou, digamos, até um simples vendedor de fruta numa qualquer quitanda, obrigatoriamente, tem de possuir e fornecer de imediato aos clientes “descontentes”, quando este o solicitam, o célebre livro de reclamações (conhecido na gíria pelo livro de capa vermelha). Arredados desta prática estão os advogados porquanto existe uma lei que desobriga esta classe de profissionais de o possuírem.Quando um pobre indígena ousar solicitar quaisquer serviços desta classe e depois de assinar a devida procuração, automaticamente e sem o saber, põe à disposição do seu interlocutor o conteúdo do recheio da sua carteira.Foi o que quase me ia acontecendo quando entrei à fala com uma advogada para me tratar de um caso de partilhas (de lana caprina). Note-se que quando o assunto se relaciona com “herdanças” os advogados espevitam as antenas e arreganham as unhas. Esta primeiro adiantou-me que, se eu estivesse de acordo, ela receberia o pagamento dos seus serviços à comissão. De imediato disse-lhe não concordar porquanto esta prática era terminantemente contra a lei e então ficou de me enviar um email a informar-me dos honorários que praticava. Quando o recebi, informou-me que o caso ia demorar cerca de um ano até ir a Tribunal. Comprometia-se a enviar-me uma fatura todos os meses relativamente a serviços prestados, cujo valor variava entre 90 a 120 euros/horas atendendo à complexidade do processo, conforme com o estabelecido no estatuto da Ordem dos Advogados. Fiquei boquiaberto porquanto julguei porventura que estávamos a discutir valores de um mercenário para prestar um serviço da especialidade na guerra da Ucrânia.Ora, como é sabido, os advogados são as pessoas que mais vivem no mundo, tal o número de horas que debitam aos seus clientes.Reza o ditado: “Antes que o mal cresça, corta-se-lhe a cabeça”, pelo que logo à partida dei o caso por encerrado. De uma coisa tenho a certeza, pelo menos ela não me suga as economias até ao tutano. Atendendo já existirem quatro herdeiros, não via a necessidade de incluir mais outra e esta última fora d’horas. É que eu, felizmente, conheço todos os filhos que a minha Mãe trouxe ao mundo, se bem que alguns bem podiam ter ficado pelo caminho.
Jaime Neves