Duarte Viveiros é cirurgião-geral no HDES e no hospital CUF Açores. É também o Secretário-geral da Sociedade Portuguesa de Medicina Estética e Cosmética (SPMEC) e Presidente do 7º Congresso Nacional de Medicina Estética e 4º Congresso Ibero-Americano, que decorre no Sheraton Porto Hotel & Spa, hoje e amanhã. Na edição deste ano, prevê-se a participação de 300 médicos. Em debate, estará o tema do intrusismo médico e a criação da competência em Medicina Estética pela Ordem dos Médicos e, em destaque, as últimas actualizações em Medicina Estética, bem como de ginecoestética e medicina funcional. A Medicina Estética é uma área que sempre interessou a este médico açoriano, em particular desde os últimos anos da faculdade e durante o internato de cirurgia-geral, que cumpriu durante seis anos. Em 2020, fez uma pós-graduação no Porto e, a partir daí, o interesse foi crescendo. Confessa que lhe dá “muita satisfação ver os resultados e o modo como isso influencia a auto-estima das pessoas e contribui também, em muitos casos, para uma melhoria da saúde mental.” Descreve a Medicina Estética como “uma área de muita responsabilidade” e afirma que é notória a procura crescente desta área por parte dos médicos dos Açores.
Correio dos Açores – Qual é a importância do 7º Congresso Nacional de Medicina Estética e do 4º Congresso Ibero-Americano para a sociedade em geral e para a comunidade médica açoriana em particular?
Duarte Viveiros (Médico) – Este é o maior evento do género realizado no país. Contamos já com sete anos de experiência, temos crescido ao longo do tempo e este será o ano que teremos mais participantes. Vamos ter cerca de 300 participantes médicos e 30 stands da indústria.
Os Açores acabam por estar ainda um pouco atrasados na área da Medicina Estética. São poucas as pessoas que se dedicam a esta área na Região; maioritariamente, são colegas que vêm do continente aos Açores fazer procedimentos. No entanto, é uma área que está em crescimento, que tem muito potencial e uma procura crescente.
Há mais médicos açorianos a procurar formação especializada em Medicina Estética?
Enquanto Sociedade Portuguesa de Medicina Estética e Cosmética, contribuímos para a realização de duas pós-graduações e, nos últimos anos, temos tido uma crescente procura de médicos açorianos. Julgo que, na edição do ano passado, estiveram inscritos quatro médicos açorianos e na anterior cerca de três ou quatro médicos açorianos. Nota-se que há uma procura crescente desta área por parte dos médicos dos Açores.
Como tem evoluído a Medicina Estética nos Açores?
Inicialmente, numa primeira fase, muitos destes procedimentos não eram realizados por pessoas com formação. Eram realizados por pessoas não-médicas, o que acaba por trazer algum estigma por causa de procedimentos mal realizados e, consequentemente, de resultados que não correspondem às expectativas dos pacientes. Creio que isto poderá ter causado uma retracção inicial.
Actualmente, com a saída de pessoas com formação específica nesta área, com capacidade para diagnóstico e tratamento nestas situações, creio que se vai verificar um crescimento maior da Medicina Estética na Região.
A Medicina Estética e Cosmética deveria ter mais espaço na Região? Considera que os custos dos tratamentos são um entrave à procura?
A procura existe. Os tratamentos têm alguns custos, mas não são valores proibitivos. Efectivamente, creio que há um grande potencial para atrair pessoas de fora para realizar estes tratamentos na Região. Por exemplo, um botox ou um preenchimento com ácido hialurónico nos Estados Unidos custa três ou quatro vezes mais do que o que é cobrado nos Açores ou em Portugal continental. Como os Açores são uma região com uma situação geográfica de excelência, com grande proximidade aos Estados Unidos, poderíamos atrair clientes norte-americanos para virem realizar alguns procedimentos na Região.
A medicina em Portugal é de excelência. Temos especialistas que dão cartas em qualquer parte do mundo e, muitas vezes, isto não é percebido pelo público que tem tendência a menosprezar os médicos portugueses. Mas, o facto é que temos uma formação que inveja até colegas de outras partes do mundo.
Em média, quantos utentes tem nas suas consultas de Medicina Estética, por semana e por mês?
É muito variável. Ainda estou em processo de abertura de uma clínica própria, por isso o que faço é algo residual. Tenho três ou quatro doentes por semana nesta fase.
Um dos temas abordados no congresso é o intrusismo médico. Como afecta a prática da Medicina Estética?
Actualmente, temos um problema muito grande com o intrusismo médico nesta área. Vemos pessoas não qualificadas e não médicas a realizar procedimentos que podem trazer complicações muito graves. Esta é uma área que deve ser encarada com muito critério e responsabilidade. Quando os resultados são bons, toda a gente fica satisfeita mas existem também muitas complicações e é importante estar preparado para saber lidar com elas e até evitá-las. As complicações que podem surgir de um procedimento mal realizado ou do diagnóstico tardio de uma complicação são nefastas e podem até levar a cirurgias mutiladoras.
Como tenho formação na área cirúrgica, arrepia-me um bocado ver alguns procedimentos realizados por pessoas não-médicas que, a meu ver, não têm qualquer tipo de capacidade para gerir esse tipo de complicações. São pessoas que fazem cursos de dois ou de três dias e que se sentem aptas para realizar estes procedimentos. Além da minha formação de cirurgião-geral, fiz uma pós-graduação durante um ano, portanto, tenho alguma bagagem para gerir estes casos.
Infelizmente, o intrusismo médico é uma realidade que não é somente portuguesa. Vários países estão a trabalhar no desenvolvimento de legislação que proteja os pacientes, porque este é um problema de saúde pública.
Qual é a importância da criação da competência em Medicina Estética pela Ordem dos Médicos?
A Medicina Estética em Portugal tem tido uma grande evolução nos últimos anos e até recentemente não havia uma competência reconhecida pela Ordem dos Médicos. Felizmente, este ano já foi constituído um grupo de trabalho para a instalação da competência em Medicina Estética, o que, no meu entender, será um momento de viragem.
Nesta edição, temos o prazer de contar com a presença do Bastonário da Ordem dos Médicos na sessão de abertura do congresso, que irá falar precisamente da criação da competência e do intrusismo médico. Efectivamente, é muito importante criar legislação nesta área, de forma a evitar que os procedimentos do foro da Medicina Estética sejam realizados por pessoas que não estão minimamente habilitadas para tal.
A criação da competência em Medicina Estética pela Ordem dos Médicos é extremamente importante porque é o que nos vai permitir legislar e, de certo modo, visionar o trabalho dos médicos. Nenhum médico que acabe o curso de medicina está apto para realizar procedimentos de Medicina Estética; é necessário ter uma formação certificada pela Ordem dos Médicos para que se possam realizar este tipo de procedimentos com segurança. Não basta uma pessoa ter o curso de medicina para poder dedicar-se à Medicina Estética. Primeiro, é necessário e fundamental fazer formação, estar preparado, fazer diagnósticos correctos, e saber fazer os procedimentos com segurança.
O futuro da Medicina Estética em Portugal, a breve trecho, passará pela competência que nos irá permitir monitorizar e ajudar os colegas na sua formação para que possam ter bons resultados, garantindo sempre a segurança dos pacientes.
Qual a importância da integração da ginecoestética e da medicina funcional nos Açores?
Se a Medicina Estética é uma área que está a começar nos Açores, as medicinas ginecoestética e funcional estão numa fase ainda mais embrionária. Julgo que têm muito potencial, mas ainda têm pouca representação na Região. Julgo que, a breve trecho, também teremos nos Açores a abertura de espaços dedicados a essa área, inclusive na clínica que vou abrir.
Quais são os desafios que os profissionais da Medicina Estética enfrentam nos Açores?
As dificuldades são as mesmas que existem em Portugal continental. Existe, ainda, algum estigma associado à Medicina Estética, nomeadamente com resultados exagerados ou que não correspondem às expectativas. Considero que devemos almejar sempre procurar resultados o mais natural possível e é isso que depois irá combater o estigma que existe.
Julgo que, cada vez mais, as pessoas se preocupam com o seu bem-estar, físico e mental, e a Medicina Estética, com tudo que pode trazer em termos de harmonização corporal e facial, pode ter um impacto muito importante nesse aspecto.
Como açoriano e Secretário-geral da SPMEC, quais são os seus principais objectivos e prioridades, especialmente no que se refere aos Açores?
Organizei, há dois anos, um encontro de dois dias de formação introdutória na Região, o ‘Spring Meeting’, que teve bastante procura por parte dos médicos açorianos. Enquanto açoriano, pretendo fazer um evento grande para a Região, patrocinado pela SPMEC para que mais pessoas se interessem por esta área porque, de facto, penso que os Açores poderão ser um nicho de trabalho devido à nossa localização geográfica. Tenho todo o interesse que a Medicina Estética cresça em Portugal e em particular na minha Região, porque tenho muito orgulho em ser açoriano e em ver a Medicina Estética ser praticada nos Açores.
Como vê o futuro da Medicina Estética nos Açores? Quais são as suas previsões para os próximos 10 anos?
Julgo que teremos um crescimento exponencial da Medicina Estética nos Açores, que estará dependente da formação de mais colegas que se dediquem a esta área. Pela experiência que tenho tido e pelo que tenho visto das nossas pós-graduações, há uma crescente procura de médicos açorianos por esta área. Portanto, inevitavelmente, vamos ter um crescimento grande, com a abertura de novas clínicas e mesmo com a sensibilização da população que, muitas vezes, talvez, nem sabe que este tipo de tratamentos pode ser realizado na nossa Região.
Carlota Pimentel/F.T.