Eduarda Pimenta Presidente da Junta de Freguesia das Furnas há precisamente 2 anos e 8 meses, afirma que a freguesia das Furnas, “como o maior contribuinte líquido do concelho, exige um maior volume de investimento público na freguesia.” Aponta como principais desafios “a falta de habitação para jovens, a gestão controlada da entrada de viaturas, principalmente nos meses de Verão, e a repavimentação das vias no interior da freguesia” e e como prioridades para os próximos anos, a par da construção do complexo de piscinas. Outras prioridades: dar continuidade à implementação de políticas que incentivem à fixação da população; a preservação do património natural, bem como o fomento e valorização da cultura local, através do apoio a iniciativas culturais, eventos e actividades que preservem e celebrem a identidade e tradições da freguesia.”
Correio dos Açores – Que retrato faz da freguesia das Furnas?
Eduarda Pimenta (Presidente da Junta de Freguesia das Furnas) – A freguesia das Furnas é uma freguesia semi-urbana, com características únicas e ímpares. É a jóia da coroa de quem visita a ilha de São Miguel, com as suas águas e piscinas termais, belezas naturais e gastronomia. É uma freguesia que merece respeito, de todos os quadrantes políticos. A freguesia das Furnas, como o maior contribuinte líquido do concelho, exige um maior volume de investimento público na freguesia.
Quais são as principais dificuldades que a freguesia enfrenta actualmente?
Não diria que sejam dificuldades, mas sim desafios que se querem resolvidos num curto espaço de tempo, tais como: a falta de habitação para jovens, a gestão controlada da entrada de viaturas, principalmente nos meses de Verão, e a repavimentação das vias no interior da freguesia.
Em sua opinião, o que se poderia fazer para solucionar estes problemas?
Actualmente, é inegável a importância do papel dos autarcas de freguesia, visto terem uma relação directa com a sua população que ultrapassa as questões ideológicas e partidárias. A delegação/descentralização de competências, acompanhadas do respectivo e adequado envelope financeiro, seria um bom caminho na resolução de certos desafios. Além disso, pelo facto de nós, presidentes de Junta de Freguesia, sermos quem está mais próximo e quem melhor conhece a sua freguesia deveríamos de ter uma maior autonomia económica e governativa para conseguir responder aos problemas do dia-a-dia dos cidadãos.
Qual a dimensão da carência de habitações nas Furnas? Há uma fuga de jovens da freguesia devido ao elevado preço das habitações como consequência do turismo? De que forma se pode contrariar essa tendência?
Antes de iniciar uma abordagem concreta relativamente à freguesia das Furnas, creio que é fundamental salientar que os problemas da habitação são transversais à Região, ao país e até à Europa. Relativamente à fuga dos jovens devido ao elevado preço das habitações, estamos a falar de uma questão complexa e multifacetada, que são o reflexo de uma série de factores económicos e sociais que impactam a freguesia. Além do turismo, é importante considerar outros elementos que influenciam esta dinâmica, como as oportunidades de emprego, serviços públicos e as políticas de urbanismo.
Uma abordagem abrangente para fortalecer a freguesia pode incluir o desenvolvimento de políticas que promovam um parque habitacional que responda não só aos mais carenciados, mas também a toda a classe média, em especial aos mais jovens.
Para a freguesia das Furnas, e no âmbito da Estratégia Local de Habitação do Município da Povoação, estão previstas a construção e reabilitação de algumas habitações.
No início do nosso mandato, solicitamos a intervenção da Direcção Regional da Habitação, para a possibilidade de aquisição de um terreno para dar continuidade ao Loteamento do Caminho Novo. Contudo, esta Direcção Regional, entendeu que, antes de requerer a declaração de utilidade publica, irá diligenciar no sentido de adquirir o imóvel por via do direito privado. Resultado? Estamos a aguardar o andamento do processo.
Na sua opinião, existem demasiados alojamentos locais nas Furnas?
De acordo com os dados da Direcção Regional do Turismo, dos 184 Alojamentos Locais, licenciados no concelho da Povoação, 116 são nas Furnas. Neste panorama, a questão de se existem demasiados alojamentos locais nas Furnas é um tópico que suscita várias opiniões e depende de diversas perspectivas. Alguns argumentam que o número actual é apropriado, dado o impacto positivo que o turismo tem na economia local; outros, entretanto, olham para o aumento dos preços das habitações e a pressão sobre as infra-estruturas como pontos de preocupação.
O essencial é reconhecer que tanto os benefícios quanto os desafios precisam de ser considerados para formar uma opinião informada e que essa é uma discussão contínua que envolve diferentes interesses e visões sobre o futuro das Furnas.
Teme que, dentro de 10 ou 15 anos, o aumento do número de alojamentos locais se torne um problema grave? Acredita que deveria existir uma restrição à abertura de novos espaços deste tipo?
Sem um estudo específico sobre a nossa freguesia, torna-se difícil responder com objectividade à questão. Contudo, é importante reiterar que diversos factores contribuem para a subida dos preços das casas e não podemos apontar um único responsável. Além disso, muitos imóveis que foram reabilitados recentemente trouxeram benefícios significativos para a comunidade, evitando externalidades negativas associadas à degradação do parque habitacional.
Aproxima-se a época alta e as Furnas são um local de paragem obrigatória para a maioria dos turistas. Considera importante restringir o acesso de veículos ou controlar o número de visitantes, à semelhança do que está a ser implementado em algumas cidades? Os moradores da freguesia queixam-se do trânsito, falta de estacionamento e de muita gente a circular pela freguesia…
Os moradores da freguesia frequentemente expressam as suas preocupações relativamente ao aumento do trânsito, à falta de estacionamento e ao grande número de pessoas a circular pelas Furnas. Para alterar esta situação, é essencial considerar um conjunto de medidas que promovam um equilíbrio entre o desenvolvimento turístico e a qualidade de vida dos residentes. A nossa solução passa pela construção de um parque de estacionamento de grandes dimensões numa das entradas da freguesia (Sul ou Norte). Deste modo, ocorrerá a redução do número de veículos a circular dentro das Furnas, mas mantém-se o fluxo de pessoas, essencial para a economia local, através da criação de um shuttle bus service. Tal como já referi em outras situações, continuamos o esforço perante as entidades competentes para o avanço.
Qual o ponto de situação do complexo das piscinas junto ao Jardim da Alameda?
O projecto de arquitectura está praticamente concluído. As especificidades do local, os requisitos de estacionamento, dos pareceres das diversas secretarias regionais e a própria água que irá abastecer as piscinas termais são variáveis que são necessárias de se ter em conta. Esperamos, em breve, a apresentação pública final do projecto.
A concessão da Poça da Dona Beija termina quando? Admitiu na última entrevista ao Correio dos Açores que foi por muito tempo…
O contrato de exploração da Poça D. Beija foi concessionado por 25 anos com término em 2035.
A freguesia tem potencial para crescer em termos habitacionais e de comércio? Em que direcções?
É uma freguesia dinâmica, com um enorme potencial de crescimento em termos habitacionais e comerciais. O Plano Director Municipal, actualmente em fase de revisão, irá ser a matriz de referência, em termos habitacionais, para os próximos anos. Esperamos que venha corresponder às necessidades e às novas ambições da freguesia das Furnas.
Quais são as principais prioridades de desenvolvimento nos próximos anos?
As principais prioridades de desenvolvimento para as Furnas nos próximos anos incluem a construção do complexo de piscinas, de forma a criar postos de trabalho e incentivar a criação de novos negócios. Dar continuidade à implementação de políticas que incentivem à fixação da população, garantindo condições favoráveis para que os nossos residentes escolham permanecer na freguesia. A preservação do nosso rico património natural, assegurando a sustentabilidade ambiental e a qualidade de vida das futuras gerações. Fomentar e valorizar a cultura local, apoiando iniciativas culturais, eventos e actividades que preservem e celebrem a nossa identidade e tradições, enriquecendo a vida comunitária e atraindo visitantes interessados no património cultural das Furnas.
Carlota Pimentel