Pela primeira vez na história do Parlamento Europeu, os Açores vão ter três deputados, com a eleição de André Franqueira Rodrigues, quinto lugar da lista do Partido Socialista (PS); Paulo do Nascimento Cabral, sétimo lugar da lista da Aliança Democrática (AD), e Ana Martins, segundo candidato da lista da Iniciativa Liberal (IL).
O PS, que tinha Marta Temido como cabeça-de-lista, venceu as eleições para o Parlamento Europeu a nível nacional, com 32.1% dos votos, ficando com apenas mais um ponto percentual face à AD, que tinha Sebastião Bugalho como cabeça-de-lista (31.1% dos votos).
Dos 21 eurodeputados eleitos em Portugal nas eleições realizadas a 9 de Junho, o PS elegeu oito; a AD elegeu sete; o CHEGA e Iniciativa Liberal (IL) elegeram dois; enquanto Bloco de Esquerda (BE) e Coligação Democrática Unitária (CDU) elegeram um, cada.
Estas foram as eleições europeias com maior percentagem de votos registados em Portugal (36.48%) desde 2009 (36.78%), ultrapassando os números registados na última década – 2014 (33.84%) e 2019 (31.01%). A taxa de abstenção foi de cerca de 63.5% dos votos.
Nos Açores, a AD foi o partido mais votado, com 21.361 votos (38.4% do total na região). De seguida, seguiu-se o PS, com 17.991 votos (32.3%); o CHEGA, com 4.484 votos (8.1%); a IL, com 3.412 votos (6.1%); o Bloco de Esquerda (BE), com 3.412 votos (3.7%); o Livre, com 1.356 votos (2.4%); a CDU, com 924 votos (1.7%); a Alternativa Democrática Nacional (ADN), com 827 votos; e o Pessoas-Ambiente-Natureza (PAN), com 735 votos (1.3%).
André Franqueira Rodrigues:
“Os Açores que hoje somos
resulta na integração da UE”
O eurodeputado açoriano eleito pelo PS, André Franqueira Rodrigues, foi o primeiro dos Açores a saber que seria eleito nestas eleições europeias.
Numa entrevista ao Correio dos Açores, a 6 de Junho, André Franqueira Rodrigues realçava a importância destas eleições para a Região: “Estas eleições europeias são muito importantes para o futuro dos Açores. Isto porque, das instâncias comunitárias, do Parlamento Europeu emana 80% da legislação que depois sai do Parlamento Nacional e do Parlamento Regional, sobretudo, em áreas que são tão importantes para os Açores como a agricultura, as pescas, o ambiente, a sustentabilidade, as acessibilidades. Tudo isto, hoje em dia, tem uma primeira conformação jurídica no Parlamento Europeu. Por isso, estas eleições têm que ser vistas do ponto de vista da necessidade de apelarmos, em primeiro lugar, à participação dos açorianos. Os Açores que hoje somos e, sobretudo, os Açores que queremos ser, resultam muito dessa nossa integração europeia em 1986. Nem tudo resultou como desejaríamos, nem tudo funcionou como nós gostaríamos, dos sucessivos governos de diferentes partidos. Não tenho hoje dúvidas em afirmar que os Açores são uma região substancialmente diferente do que aquela que existia antes da nossa integração europeia”, afirmou.
Após a eleição, o novo eurodeputado socialista afirmou que pretende convidar Paulo do Nascimento Cabral e Ana Martins para se encontrarem “plataformas de entendimento para defender os Açores no Parlamento Europeu” e “fazer jus ao compromisso de defender o futuro dos Açores na Europa”.
André Rodrigues lembrou, ainda, o último eurodeputado açoriano do PS, André Bradford, que faleceu quase dois meses após ter sido eleito: “É uma grande responsabilidade e um grande orgulho defender a minha terra e seguir a esteira daqueles que representaram no passado o PS. Aproveito este momento para homenagear o André Bradford, que foi eleito há cinco anos e que, por razões que todos conhecem, não pude continuar o mandato.”, relembrou.
Paulo do Nascimento Cabral:
“Tem de prevalecer nos Açores
um espírito de europeísmo convicto”
Paulo do Nascimento Cabral foi o último dos sete eurodeputados eleitos pela AD, coligação entre o Partido Social Democrata (PSD), Centro Democrático Social – Partido Popular (CDS-PP) e Partido Popular Monárquico (PPM), por via da sua colocação na lista candidata.
Em entrevista ao ‘Correio dos Açores’, publicada a 7 de Junho, Paulo Nascimento Cabral destacava que os Açores são a Europa: “Consideramos sempre que a Europa é longe, é Bruxelas e os países à volta de Bruxelas. De facto, há uma série de condições que são dadas aos países lá à volta a que não temos acessibilidade. Por exemplo, há um grande financiamento para a ferrovia. Como não temos ferrovia para ligar a Europa e temos de transformar isso para a questão dos transportes aéreos e marítimos que é o que nos preocupa. Nós somos a Europa. Cada vez mais somos Europa. Em qualquer edifício, inauguração e estrutura de relevo na região tem a bandeira da União Europeia e é co-financiado com fundos europeus.”
E prosseguiu: “Beneficiamos muito por sermos europeus. Agora, acima de tudo, tem de prevalecer nos Açores um espírito de europeísmo convicto. Temos de valorizar aquilo que é a União Europeia e aquilo que tem feito por todas as nossas ilhas e, acima de tudo, valorizar o Estatuto da Ultraperiferia e aqui faço uma referência ao Dr. Mota Amaral que é o pai deste conceito da ultraperiferia que está afirmado no Tratado de funcionamento da União Europeia no seu artigo 349”, explicou.
Já eleito o para o Parlamento Europeu, Paulo do Nascimento Cabral afirmou que pretende criar um “grupo de deputados açorianos na Europa” e vê a sua experiência como uma “mais-valia para a defesa dos Açores”.
“Conheço as instituições, os processos de negociação, as pessoas que lá estão e os dossiês, quer os europeus, como a revisão do quadro financeiro plurianual, quer das próprias políticas comuns europeias. E também aquelas que são as principais reivindicações dos Açores, através do Governo Regional”, realçou.
Ana Martins diz ir “defender os
interesses das regiões autónomas”
Por sua vez, a eurodeputada da IL, Ana Martins, que foi a segunda eleita pelos liberais, referiu que será uma “enorme honra representar os portugueses, os açorianos e os europeus” e afirmou que pretende, também, “defender os interesses das regiões autónomas”.
“É uma enorme vantagem ter um conhecimento próximo da realidade. Sempre tive muita fé e alguma frustração, sabendo que os Açores podem ser, com todas as dificuldades que a Região tem enfrentado e sabendo todo o seu potencial. Vou ter sempre isso presente durante este mandato”, explicou.
Esta foi a primeira vez que a Iniciativa Liberal conseguiu eleger eurodeputados em Portugal. João Cotrim Figueiredo, cabeça-de-lista da lista da IL, foi o outro eleito.
Os 21 eurodeputados portugueses eleitos para o mandato 2024-2029 do Parlamento Europeu são Marta Temido; Francisco de Assis; Ana Catarina Mendes; Bruno Gonçalves; André Franqueira Rodrigues; Carla Tavares; Isilda Gomes e Sérgio Gonçalves, pelo PS; Sebastião Bugalho; Paulo Cunha; Ana Miguel Pedro; Hélder Sousa e Silva; Lídia Pereira; Sérgio Humberto e Paulo do Nascimento Cabral, pela AD; António Tânger Corrêa e Tiago Moreira de Sá, pelo CHEGA; João Cotrim Figueiredo e Ana Martins, pela IL; Catarina Martins pelo BE e João Oliveira pela CDU.
Filipe Torres