Correio dos Açores – Pode falar um pouco sobre a história da freguesia de Santo António?
Marco Oliveira (Presidente da Junta da Freguesia de Santo António) – Reza a lenda que, por volta de 1525, a imagem de Santo António deu à costa nesta zona e foi depois levada para a ermida do Rosário por populares.
É uma freguesia da costa norte de Ponta Delgada, onde sempre houve pessoas trabalhadoras em várias áreas, desde baleeiros, pescadores, agricultores e camponeses.
A agricultura, nomeadamente, a pecuária de gado bovino, ocupa um papel muito importante na economia da freguesia, mas nos últimos anos houve uma evolução no sector do turismo, em especial com a crescente criação de alojamentos locais e com o melhoramento das zonas de lazer. Para além disso, a freguesia tem pontos turísticos que são cada vez mais frequentados, nomeadamente o parque de merendas do Rosário, com a ligação entre as zonas balneares do Rosário e o Porto de Pescas, o miradouro e parque de merendas da Fonte Grande, o miradouro da Grota do Inferno, inserido na Mata do Canário, o Largo da Mourisca, a recuperação das pias, o miradouro da Mãe de Deus e o miradouro de Santo António, na Estrada Regional.
Em termos de infra-estruturas colectivas, temos um polidesportivo, sendo que o clube desportivo de Santo António tem cerca de 100 atletas, um salão paroquial com diversas infra-estruturas de apoio, uma escola primária, um centro cultural, que alberga o centro de dia de idosos e o Grupo de Escoteiros, o Campo de Jogos das Figueiras e o edifício polivalente, onde está inserida a Junta de Freguesia, a Casa de Povo e o Posto de Saúde.
Dos vários restaurantes, cafés, snack-bares e minimercados, destacam-se o restaurante 4 Plátanos e o Clube Desportivo de Santo António.
Que retrato faz da freguesia neste meio século de existência?
A freguesia esteve muitos anos isolada porque não existiam os meios de comunicação de hoje. Por exemplo, para ter electricidade dependíamos de motores que produziam energia através da corrente marítima, mas mesmo assim não chegava para tudo. As primeiras instituições a ter electricidade na freguesia foram a igreja e uma moagem.
Quais as celebrações que têm preparadas para amanhã?
Há cerca de três anos atrás, o 13 de Junho foi decretado, em Assembleia, como Dia da Freguesia de Santo António. Há dois anos, inauguramos uma imagem do nosso padroeiro na Rua 13 de Junho, localizada nos bairros novos. No ano passado fizemos uma homenagem às lavadeiras, que são figuras características da nossa freguesia.
No dia 13 de Junho (hoje), vamos realizar, às 17h30, uma eucaristia em homenagem ao padre David Botelho do Couto, que faleceu há dois anos. O senhor padre esteve na nossa paróquia durante quarenta anos e deixou um grande marco na nossa comunidade. E, claro, gostaríamos que essa homenagem tivesse sido feita em vida, mas não foi possível.
Depois da eucaristia, vamos fazer uma sardinhada tradicional das festas populares.
Uma vez que celebramos 500 anos de existência, as comemorações não acontecem apenas no dia 13 de Junho, mas vão acontecer ao longo do ano. Vamos ter dias de folclore ou de filarmónica, por exemplo. Mas, à medida que os programas estiverem concluídos, vamos partilhar nas redes sociais da Junta de Freguesia.
Actualmente quais são as maiores preocupações da freguesia?
O maior problema da freguesia é, sem dúvida, a falta de habitação. Para além disso, temos um problema grave de falta de parques de estacionamento e também temos uma situação de uma casa mortuária que está por acabar as obras há três anos. É uma situação que me preocupa bastante, porque desde o início do nosso mandato que estamos a tentar finalizar este processo, mas não há uma resposta da Câmara e do Governo.
Como é que descreve a qualidade da habitação e a qualidade de vida em Santo António?
Temos vários alojamentos locais e algumas casas que estão arrendadas. Mas, por um lado, não há habitação suficiente e, por outro lado, a que há pratica valores demasiado elevados nas rendas. Ou seja, para quem recebe o ordenado mínimo, pagar 700 euros de renda é impossível. Há cerca de quarenta anos, fez-se um bairro de casas para 56 famílias. Mas, desde então que recebemos promessas, mas não acontece nada.
Neste momento, precisávamos de 30 a 40 moradias. Isto porque em 10 anos, a nossa freguesia perdeu cerca de 400 pessoas, porque os nossos jovens estão todos a sair e ficamos com uma freguesia envelhecida.
Quais são os projectos a desenvolver para o futuro da freguesia?
Os nossos planos futuros passam por resolver as três questões que mencionei. Quanto à questão da habitação, estamos a tentar adquirir um terreno para futuro loteamento. Quanto à questão da casa mortuária e da falta de estacionamento na freguesia, também estamos a tentar ver o que podemos fazer. Para além, disso, também queremos focar-nos na zona balnear do Rosário que, por ser uma zona turística, necessita de ser melhorada.
Daniela Canha
Comunidade homenageia
padre David Botelho do Couto
A comunidade paroquial de Santo António completa amanhã 500 anos de história e vai homenagear o padre David Botelho do Couto, numa clebração que será presidida pelo Vigário-geral da Diocese, cónego Gregório Rocha. O sacerdote, que teria agora 89 anos, faleceu em Março de 2022.
Natural de Santo António, ouvidoria de Capelas, no concelho de Ponta Delgada, o padre David Botelho do Couto nasceu a 3 de Março de 1935, foi prefeito de estudos no Seminário de Angra, onde também foi docente, foi pároco e leccionou Educação Moral em diversas escolas.
O sacerdote empenhado na própria formação, frequentou formações em música sacra, cursos de actualização pastoral e humana no arquipélago e no continente, e no final do seu apostolado foi nomeado assistente para a capelania das Irmãs Clarissas.
A ele e aos seus estudos se deve muita da investigação histórica sobre a vida da comunidade.
Não é possível datar com precisão a criação da igreja paroquial de Santo António, do mesmo modo como não há possibilidade de identificar com exactidão a data da criação da freguesia de Santo António.
Contudo, de várias leituras comparadas se infere que a igreja paroquial de Santo António é anterior a 1524, pois nessa altura já existia igreja com cura que prestava assistência religiosa a parte das actuais Capelas, Santo António e grande parte da actual Bretanha, embora como é óbvio sem as características actuais, não passando de uma pequenas ermida, feita de materiais rudimentares, refere a investigação do sacerdote e de Miguel Soares da Silva, que é apresentada na página on-line da Junta de Freguesia.
“O cronista Gaspar Frutuoso, no seu livro IV, 3.º Volume, referia-se à freguesia de Santo António dizendo, “… e logo sai uma ponta pequena ao mar onde está o logar de Santo António, assim chamado por ter a Igreja paroquial do mesmo Santo…”.
Aliás, se atendermos à época, facilmente se compreende a necessidade e urgência de pessoas simples do povo que ainda viviam fanaticamente a fé medieval. Não as podemos imaginar sem aquilo que lhes fazia tanta falta: a sua ermida, com o seu santo protector. As ermidas, surgiam onde havia um pequeno aglomerado.
Das várias alterações que a ireja paroquial sofreu, destacam-se os melhoramentos promovidos entre 1712 e 1730 e um pouco mais tarde, entre 1741 e 1747″.
I.A.