Tentou seguir por outro caminho, mas o bichinho foi maior do que ela. Mafalda Nunes formou-se na Escola de Formação Turística e Hoteleira e desde então tem entrado em algumas competições, as quais já lhe valeram alguns prémios. Ao ‘Correio dos Açores’ fala da sua primeira experiência em concursos televisivos, o que a levou a ser bartender e assume: “vou continuar a competir”.
Correio dos Açores – Como tem sido o seu percurso?
Mafalda Nunes (bartender) – Comecei por entrar na Escola de Formação Turística e Hoteleira. Frequentei durante três anos, de 2018 a 2021. No meu último ano de curso conheci o Hermano, dono do bar Résvés. Ele era formador lá.
Quando acabei o curso, fiz estágio T no Hotel Açores Atlântico, onde conheci a Filipa. Fiquei lá um ano e meio. Quando sai, estive a trabalhar no Louvre durante cerca de três meses e quando eles, o Hermano e a Filipa, chamaram-me para vir trabalhar para eles não pude recusar.
Eles são os meus “pais” do bar. Ensinaram-me tudo e inclusive patrocinaram-me. Em Novembro de 2023 fui a Londres durante uma semana, com a Filipa e o Hermano que me patrocinaram a passagem e a estadia, para poder fazer um estágio em dois bares: Little Bat e Callooh Callay. São dois bares completamente diferentes, mas que pertencem à mesma companhia.
Neste mesmo ano, venci o concurso da Garcia’s, cá em São Miguel, e eles patrocinaram-me com uma viagem de um dia a Lisboa para ir ao Cocktail Team.
Este ano fui ao Lisbon Bar Show e participei no Mistura Beirão.
Então, podemos concluir que já está habituada a competir…
Não foi a minha primeira experiência, mas todas tiveram experiências diferentes. Cá foi uma festa, no aniversário do Garcia’s. Para mim foi a sério, onde consegui vencer um troféu pela primeira vez. Foi muito bom, tanto que a minha confiança também aumentou a partir deste momento.
Na televisão é uma experiência completamente diferente. Havia sempre muitas câmaras apontadas e não sabia como iria ficar na televisão. Estou habituada a competir, mas foram concursos completamente diferentes.
Como classifica a sua experiência no programa Mistura Beirão?
Se fosse de 0-20 daria uns 30 (risos). Foi mesmo muito boa. Posso não ter ganho a competição mas ganhei experiência, conhecimento e aprendi com outras pessoas da mesma área. Com a experiência também fiquei mais à vontade na área.
Se tivesse que mudar algo na sua experiencia no programa, o que mudaria?
Se fosse para mudar algo, tentava dar mais a minha opinião, uma vez que foi esta a razão que ditou a minha expulsão. Tentava estar mais activa dentro da equipa. Fiquei um pouco de pé atrás e mudaria isto.
Em sua opinião, a que se deveu esse acanhamento?
Talvez por ser mais nova que os outros participantes ou por não ter tanta experiência como eles. Depois de vermos as coisas, vemos que isso poderia ser de maneira diferente. E mesmo que não seguissem o rumo que eu sugerisse, ao menos tentei.
Tenciona voltar a competir?
Sim, sem dúvida. Vou sempre tentar entrar em todas as competições que conseguir entrar. É assim que aprendo. Também é assim que posso ir conhecendo mais pessoas desta área e posso ter mais alguma visibilidade.
O que a levou a ser bartender?
Em primeiro lugar, foi o facto de o meu pai ser chefe de sala num restaurante no Porto. Sempre tive esse bichinho, mas como era muito envergonhada não era uma área que eu considerasse.
Entrei num curso de assistente social, no Liceu Antero Quental e desisti, pois vi que não era algo que me visse a fazer.
Decidi então experimentar a área pela qual tinha o bichinho, e após um primeiro período um pouco mais rebelde da minha parte, decidi que queria mesmo isso e teria que lutar pelo que queria.
Tem algum cocktail com a sua assinatura?
Aqui no Résvés, temos a opção de fazer cocktails fora da carta. Então, por vezes, os clientes pedem-me para fazer um cocktail que não esteja na carta consoante as especificações que o cliente quer. Pode ser mais doce, mais ácido, com gin ou com vodka, por exemplo. Eu sigo as especificações e faço o cocktail que não está na carta, portanto, posso considerar que tenho alguns cocktails meus. Aqui é-nos dada essa facilidade de criação de cocktails.
Onde encontra a inspiração para criar os cocktails?
É uma pergunta difícil, muitas vezes a inspiração surge no momento. Também é algo que vem com a prática. Temos de saber o que existe numa garrafeira.
Para se criar um cocktail é necessário: ter uma parte mais doce, uma parte mais ácida, uma base alcoólica, e podemos depois acrescentar uns beastars ou um licor. E tudo junto tem que ter harmonia.
A inspiração também vem de algo que gosto mais, pode ser mais doce ou mais ácido. Acima de tudo o importante é satisfazer o cliente.
É difícil conciliar o trabalho mais à noite com a vida social?
Por acaso não. Consigo estar com os meus amigos, e fazer o que preciso até entrar às 16h00. Felizmente tenho a manhã e a maior parte da tarde livres. O que pode acontecer é não dormir as oito horas necessárias, mas já estou acostumada.
Recebeu muito apoio quando estava no programa Misturas Beirão?
Recebi mesmo muito apoio, até de pessoas com que não mantinha contacto há algum tempo. Deram-me sempre muita força, mesmo depois de verem que não passei. Fui sempre recebendo muita força para participar neste tipo de concursos. Só tenho 23 anos, e tenho apenas dois anos de experiência. O Hermano e a Filipa sempre me disseram que, para se ser um bartender completo, são necessários 10 anos. Eu com dois anos de experiencia, já consegui vencer um concurso, já estive na televisão e na rádio. Portanto, está a ser um bom caminho.
Tem algum passatempo?
Gosto muito de estudar. Isto é muito importante na minha área, porque é uma área que está sempre em constante evolução e é necessário aprender o que está para vir.
Por exemplo há anos atrás quando se pedia um cocktail, em cima do copo era de costume meter-se hortelã, frutas e muita coisa. Era o que se fazia antigamente, onde os cocktails eram muito elaborados. Hoje em dia temos que ser os mais minimalistas. Basta apenas uma folha de hortelã ou uma jest, que é a casca (de citrinos) para ficar perfeito. É isto que estamos a tentar mudar.
Normalmente, quem trabalha num bar tem um estilo de vida desgastante. Como se consegue combater esse desgaste?
Esse desgaste combate-se tendo um estilo de vida mais saudável. Devemos fazer boa alimentação e fazer exercício. Por mais que estejamos a bater um shacker ou a andar no bar, o nosso trabalho acaba por ser sedentário.
É muito importante fazermos algum tipo de exercício para nos mantermos activos. Por exemplo, comecei a ir ao ginásio em Janeiro e sinto-me melhor, mais bem-disposta e muito menos sedentária.
Às vezes é difícil arranjar tempo, mas com vontade tudo se faz.
É difícil lidar com clientes?
Tendo em conta o bar onde trabalho, não. Conseguimos ter bons clientes e se por acaso virmos que o cliente não está em condições de consumir mais, não lhe servimos. Também faz parte do nosso trabalho saber quando parar, mesmo que o cliente não o saiba. E é por causa disto que ofereceremos sempre um copo de água, mas não é a principal razão. É sempre uma ajuda e também funciona como um limpa- palatos.
Qual é a importância que atribui à troca de experiências para o seu crescimento como Bartender?
É muito importante. Cada um tem a sua experiência que será sempre diferente de pessoa para pessoa. Podemos aprender novas técnicas uns com os outros que nos podem facilitar.
Frederico Figueiredo