Escrever um artigo sobre o tema da educação, sem falar eduques, no sentido de Marçal Grilo, não é tarefa fácil.
Uma estratégia de criação de riqueza definida para um território se não for baseada em recursos humanos qualificados, atuais e futuros, de nada servirá.
A legislação da Educação Inclusiva, em vigor há cerca de um ano, reforçou o “puxar os alunos para baixo” para tal nível que coloca(rá) em causa o desenvolvimento social e cultural e a criação de riqueza da nossa região.
Estamos por estes dias a finalizar o ano letivo 2023/2024. Os resultados deixam crianças felizes e pais contentes – os interessados; Governo em júbilo, pelas taxas de sucesso elevadas e os professores, das disciplinas específicas e os das Necessidades Educativas Especiais, que, cumprindo o seu programa, forçados pelas medidas de universais e seletivas(eduques), também atingem o seu sucesso. Portanto, todos felizes, à sombra da macieira.
Numa turma de 15 alunos, atingem as competências significativas, envolvendo-se, empenhando-se efetivamente no seu percurso académico, e desbravando até ao seu máximo, cerca de 20% dos alunos, ou seja, 3 a 4 alunos. Os restantes esperam pelo sistema. Que território cria riqueza com 20% do universo escolar? Talvez aqueles que possuam milhões de alunos. Nós temos cerca de 40.000.
Exportamos políticas públicas de países com outras culturas e estruturas de ensino, sem nos preocuparmo-nos com a nossa realidade. Desde o perfil da família, à elevada taxa de alcoolémia e de toxicodependência familiares e a violência doméstica condicionam, e muitíssimo, o desempenho cognitivo e social das crianças, continuando a criar ciclos de pobreza. O facilitismo da maça cortada não os impulsiona a sair deste ciclo.
Na escola de hoje, estamos a descascar e a cortar a maçã, levando-a à boca do aluno, em vez de a dar inteira para ser comida pela mão da criança à dentada ou por esta cortada (na gíria educativa, a mação descascada na boca representa a aplicação de medidas universais e seletivas para a esmagadora maioria dos alunos. Numa turma média de 15 alunos, quase todos possuem medidas universais e cerca de 50% têm medidas seletivas) – esta reflexão não se adapta às crianças que “verdadeiramente” necessitam de medidas inclusivas. A maçã descascada e cortada [esta decisão] retira à criança competências a desenvolver: descascar, cortar e o levar a maçã à boca, no fundo, e no eduques, o tempo de estudo, o empenho, o raciocínio, a abstração e a sua melhoria contínua.
O rigor académico não deve ser confundido com autoritarismo ou inflexibilidade. Trata-se de estabelecer altos padrões de desempenho e incentivar os alunos a alcançarem seu pleno potencial. Um sistema rigoroso desafia os estudantes a pensarem criticamente, resolverem problemas e desenvolverem uma forte ética de trabalho. Habilidades são essenciais, não apenas para o sucesso académico, mas também para a vida profissional e pessoal.
Será aceitável que dezenas de alunos efetuem a prova de matemática e de português de 9º ano, em salas individuais, e necessitem que esta seja lida pelo professor? – 9 anos de escolaridade após, no ensino regular, o aluno não tem competência para ler, interpretar e relacionar textos?
Vivemos um sucesso falso num sistema educativo que não desenvolveu as competências básicas deste aluno, mas aplicaram-se medidas adaptadas rumo ao sucesso, dito de outra forma, empurrando com a barriga. No fundo, estes alunos, entrarão no mercado de trabalho sem saber ler e redigir um texto.
O sucesso escolar é, em média, de 90% em todas as escolas. E as consequências deste ensino na sociedade, na criação de riqueza, na saúde física e mental dos alunos?
O sucesso educativo (o efetivo) tem ramificações de empoderamento inúmeras na criança. Há quem ainda se admire com os números elevados das taxas de pobreza, de violência doméstica, de alcoolémia e de toxicodependência, de obesidade, de depressão(….) e que contrastam com as baixas taxas de PIB per capita nos Açores, abaixo do nacional e da média UE, da taxa de Produtividade aparente do trabalho, a mais baixa do país, de 36%(2016), e das avaliações anuais externas dos alunos.
Até hoje apenas a maça na cabeça de Newton gerou inovação. Continuar à sombra da macieira não é solução.
Sónia Nicolau