A amizade e a poesia são as duas coisas mais belas da vida. Só lamento que os outros e eu próprio tantas vezes a estraguem.
Li o seguinte poema que exprime o que eu uma vez senti num dia de sol radioso que desceu sobre mim numa terra longínqua
As incoercíveis asas
Da ventura e do amor
Um instante passaram
No céu azul e fino
Rentes rentes de mim.
Sereno e descuidoso
As vi partir.
Vão já de mim distantes
Mas do tempo, sustive
Aquele breve instante
Da apolínea manha
Em que incoercíveis asas
De ventura e de amor,
No céu azul e fino
Voaram sobre mim.
Eu não sou dinamite como dizia o anti-cristo alemão Friedrich Nietzsche. Eu sou um profeta ferido, como Nouwen.
Caro amigo leitor,
O teu maior receio de não seres acolhido.
Está associado ao teu medo de não seres bem-sucedido nesta vida.
E ao teu medo da morte.
E o mundo ser mais profundo que sentes de modo que o melhor é não teres nascido.
E ao teu medo de não seres bem recebido na vida depois da morte
Eis-te mergulhado num profundo combate espiritual,
Vais render-te à força das trevas, segundo as quais não és bem-vindo à vida, ou poderás confiar na voz da libertação daquele que não veio para te condenar mas para te libertar do medo.
O que mais desejas é regressar a casa e ser acolhido pelo teu pai.
Vives num mundo cheio de ambiguidades, no qual o que é verdade hoje é mentira amanhã.
Vives no meio de relativos, o que contraria as tuas tendências absolutistas.
Mas a tua condição é solitária e carregarás sozinho a tua cruz até ao calvário, eventualmente com a ajuda de algum cireneu que te alivie o peso da cruz.
Porque cada ser humano que bebe sozinho o seu cálice é profundamente ferido no seu coração por aqueles que mais afirmam amá-lo, mas que não sabem amar como o criador nos amou a nós e a toda a criação.
Viver não é fácil e morrer para o mundo é apenas deixar de ser visto, é apenas uma banalidade incómoda.
Incomoda os que não acreditam na alma e na sua imortalidade, incomoda aqueles que querem acreditar.
E por hoje cala-se a voz do profeta ferido, mutilado, que não veio trazer a paz, mas a inquietação e a liberdade interior.
Pedro Paulo Carvalho Silva