Na Universidade dos Açores vai arrancar um mestrado em Psicologia Clínica e de Saúde já no ano lectivo 2024-25. Um mestrado que, segundo Pedro Dias, professor universitário e Director deste mestrado, vai dar a hipótese aos alunos licenciados em Psicologia pela Universidade dos Açores a concluir a formação do 2.º ciclo (mestrado) na Região, em vez de o fazer fora do arquipélago. Para exercer a profissão de psicólogo, é necessário concluir a licenciatura e o mestrado em Psicologia. Ao Correio dos Açores, Pedro Dias explica a importância da introdução deste mestrado, os objectivos que pretendem atingir e os detalhes de como será o novo curso.
Correio dos Açores – Qual a justificação para a criação deste mestrado?
Pedro Dias (Professor universitário e Director do mestrado em Psicologia Clínica e de Saúde) – A criação do mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde dá resposta a duas necessidades essenciais. Por um lado, o departamento de Psicologia volta a oferecer uma formação de 2.º ciclo (mestrado) em Psicologia, após vários anos em que só foi possível assegurar a licenciatura. Durante esse período, os licenciados em Psicologia pela Universidade dos Açores tinham obrigatoriamente de se deslocar para fora da Região para concluir os estudos que lhe permitissem aceder à profissão de psicólogo, uma vez que é necessário concluir uma licenciatura e um mestrado em Psicologia. Por outro lado, ao apostar na área da Psicologia Clínica e da Saúde para esta formação, a Universidade dos Açores procura responder à necessidade de qualificação, na Região, de futuros psicólogos capazes de avaliar e intervir no domínio da Saúde e da Saúde Mental, cada vez mais reconhecida como uma temática com fragilidades e necessidades, globalmente, mas também na Região Autónoma dos Açores.
Quais são os objectivos do mestrado em Psicologia Clínica e de Saúde? Que candidatos pretendem atingir e que público-alvo existe na Região?
O mestrado tem vários objectivos, que se poderão resumir em três fundamentais: O aprofundando conhecimentos já adquiridos na licenciatura, dotar os estudantes de competências de avaliação e intervenção psicológica em contextos clínicos e da saúde; desenvolver, integrando os estudantes em equipas de docentes e investigadores seniores, projectos de investigação originais na área da Psicologia Clínica e da Saúde, que respondam a necessidades da Região e consolidar, nos estudantes que o frequentem, as competências pessoais e profissionais necessárias a uma actuação profissional suportada empiricamente e eticamente responsável.
Os candidatos que o mestrado pretende atingir são todos e quaisquer licenciados em Psicologia que desejem prosseguir os seus estudos na área da Psicologia Clínica e da Saúde. Consideramos que existem na Região vários potenciais candidatos, maioritariamente pessoas que, por diversas razões, não tiveram oportunidade de frequentar um mestrado no continente ou na Região Autónoma da Madeira, após a conclusão da sua licenciatura, bem como alguns dos estudantes que terminaram este ano a sua licenciatura na Universidade dos Açores. Naturalmente que estamos também interessados em atrair bons candidatos de fora dos Açores, que nos procurem para a frequência deste curso.
Quais são as competências que os alunos vão adquirir com este mestrado?
Dando resposta aos objectivos já referidos, procura-se que os estudantes desenvolvam competências técnico-profissionais e científicas, de nível aprofundado, na área da Psicologia Clínica e da Saúde, assumindo-se um perfil de formação alinhado com o disposto, ao nível da formação inicial, no referencial europeu de certificação de psicólogos (Europsy). Paralelamente a uma oferta curricular mais prototípica daquilo que é a formação, noutras universidades, em Psicologia Clínica e da Saúde, procurámos incluir unidades curriculares mais orientadas para temáticas emergentes, de que são exemplo as unidades curriculares de Desafios Tecnológicos em Psicologia Clínica e da Saúde, Psicologia, Crises e Catástrofes ou Psicologia, Ambiente e Saúde.
Que professores que vão fazer parte do mestrado?
A leccionação do mestrado será assegurada por docentes do departamento de Psicologia da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade dos Açores, contando ainda com a colaboração, numa unidade curricular, de uma docente do departamento de Matemática.
Quem pode fazer candidatura?
Podem candidatar-se a este mestrado licenciados em Psicologia, por universidades nacionais ou estrangeiras.
Quantas vagas vão estar disponíveis?
O processo de acreditação do curso prevê o número máximo de 20 estudantes por edição do curso e é esse o número de vagas que a Universidade disponibilizou este ano.
Há alguma parceria no âmbito deste mestrado? Por exemplo, no estágio curricular?
Sim, no âmbito dos estágios curriculares, que terão lugar no 2º ano do curso, os estudantes poderão desenvolver competências práticas em contextos diversificados na Região. Temos já diversos protocolos de colaboração, para este fim, com várias instituições de relevo, como hospitais, IPSS e entidades privadas que prestam cuidados ao nível da saúde. Naturalmente que, à medida que o curso for avançando, outras instituições poderão juntar-se ao conjunto de contextos de estágio, não só em São Miguel, pois existe todo o interesse em alargar a rede de parceiros a toda a Região.
Quais são os prazos de inscrição do mestrado?
A primeira fase de candidaturas terminou no dia 23 de Junho. À data de hoje (24 de Junho), temos indicação de uma procura que excede largamente as vagas disponíveis para a primeira fase, mas ainda não procedemos à seriação de candidaturas. Caso existam vagas sobrantes, haverá lugar a uma segunda fase (com inscrição a decorrer entre 8 e 12 de Julho).
Há cada vez uma maior importância da Psicologia Clínica e da Psicologia da Saúde na Psicologia?
Eu diria que a importância da Psicologia Clínica e da Psicologia da Saúde é, desde o início da profissão e do estabelecimento da Psicologia como ciência, uma das áreas com maior presença social e com mais investigação científica a nível básico e aplicado. Os últimos anos, em particular durante e após a pandemia, trouxeram uma ainda maior visibilidade às questões da saúde mental, levando a sociedade a reclamar mais e melhor resposta pública neste domínio, para a qual os profissionais da Psicologia (em particular da Psicologia Clínica e da Saúde) dão um contributo essencial.
Filipe Torres