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Prostituição, sem-abrigo e tráfico de estupefacientes são os maiores problemas da freguesia de São Pedro

“A insegurança, a falta de estacionamento, as questões relacionadas com o trânsito, a higiene e limpeza e a consciencialização cívica, o desinteresse na participação cívica – típico das freguesias mais urbanas –, a manutenção de vias e a existência de muitos “monstros”, ou seja, espaços que ainda não se sabe o que deles fazer, sendo disto exemplo, a antiga fundição, os terrenos da antiga fábrica de lacticínios Loreto”, a par com os sem-abrigo e a prostituição, são apontados pelo Presidente da Junta de Freguesia de São Pedro, José Leal, como os principais problemas que a freguesia enfrenta actualmente.

Correio dos Açores – Que retrato faz da freguesia de São Pedro?
José Leal (Presidente da Junta de Freguesia de São Pedro) – São Pedro é uma freguesia cosmopolita, com muita actividade e onde intensidade não falta, onde o progresso é constante, com todos os aspectos positivos e negativos que isso acarreta. A freguesia possui uma dicotomia populacional, onde uma população tradicionalmente residente se mistura com uma população mais recente, em termos residenciais, o que se pode constatar pelo edificado, por exemplo, da zona da Calheta, Laranjeiras e parte da Mãe de Deus, em oposição à Avenida Dom João III, parte nova, arruamentos por detrás do Hotel VIP, São Gonçalo e zona da Levada mais a Sul.

Qual tem sido a evolução socio-económica da freguesia?
A evolução tem sido muito positiva e típica de uma freguesia com a maior concentração hoteleira dos Açores, uma porta de entrada para os turistas que nos visitam pelo mar (cais de cruzeiros e marinas) e onde estão sedeadas dezenas de empresas de pequena e média dimensão e algumas de grande dimensão. Muitas associações e grémios, em geral, também possuem a sua sede nesta freguesia. A par disto, existem muitos serviços da Administração Pública em São Pedro.

Quais são os investimentos mais significativos que têm sido realizados em São Pedro?
Uma grande maioria destes investimentos é de natureza privada, como por exemplo os hotéis, o que se está a passar na zona das famigeradas galerias da Calheta, muita habitação – zona da Avenida Natália Correia e Levada, por exemplo. Outros são de natureza pública, como o Parque Urbano, as Portas do Mar, etc. Enfim, poderia citar exemplos de vária ordem, mas quero destacar a aposta do sector privado no turismo e nos serviços em geral.

Quais são as principais dificuldades que a freguesia enfrenta actualmente?
O progresso acarreta aspectos positivos e negativos. A insegurança, a falta de estacionamento, as questões relacionadas com o trânsito, a higiene e limpeza e a consciencialização cívica, o desinteresse na participação cívica – típico das freguesias mais urbanas –, a manutenção de vias e a existência de muitos “monstros”, ou seja, espaços que ainda não se sabe do que deles fazer, sendo disto exemplo a antiga fundição, os terrenos da antiga fábrica de lacticínios Loreto.

Em sua opinião, o que se poderia fazer para solucionar estes problemas?
A meu ver, parcerias público-privadas, onde tanto o sector privado como o público ficassem a ganhar.
Pelo facto de este tipo de soluções, num ou noutro caso, nacional ou regional, não terem dado certo, não significa que sejam de descartar. Muitos casos de sucesso existem pelo país fora. Em São Pedro, por razões diversas, muitas delas já por mim apontadas, este tipo de modalidade é possível e aliciante e trará, de forma regrada, muito e bom investimento para a freguesia com contrapartidas excelentes para quem nela reside e para quem nos visita ou aqui exerce a sua actividade.

Em que ponto de situação se encontram os terrenos do Loreto?
Numa incerteza lamentável, por enquanto. Ouço muita coisa, mas nada em concreto. Aliás, este é um dos problemas desta freguesia. Muito se diz, mas pouco se concretiza ou o que se faz é feito de forma muito lenta.

Quanto ao Relvão, o acesso ao público continua impedido. Quais são as perspectivas para este local?
No entender da Junta de Freguesia, o Relvão deveria ser um espaço que solucionasse dois dos principais problemas desta freguesia urbana. Deveria manter-se um espaço verde de lazer, honrando a história desta freguesia e, por outro lado, deveria possuir um ou dois pisos subterrâneos para estacionamento. Tudo isto é possível e resolvia o problema de estacionamento naquela área, onde existe o Campo de Jogos Municipal e a Universidade dos Açores, entre outros. Deste modo, seria possível manter aquilo que sempre foi, um espaço onde as famílias podem passear e ter contacto com a natureza.

Qual o ponto de situação da obra de prolongamento da Avenida D. João III para a Avenida João Bosco Mota Amaral?
Em projecto. Nada mais posso dizer, por enquanto.

O tráfico de estupefacientes e o número de toxicodependentes tem vindo a aumentar na freguesia?
Curiosamente, e ao contrário do número de sem-abrigo, que tem várias origens, o número de toxicodependentes não está a aumentar, apesar de também não estar a diminuir de forma significativa ou visível. O que se passa é que, devido a um maior policiamento – mesmo que muito insuficiente devido à falta de recursos das autoridades competentes –, as zonas mais tradicionais de concentração deste tipo de pessoas estão ocupar lugar noutras zonas da freguesia. Estou em crer, também, que o facto da acção desta Junta de Freguesia em vedar, de imediato e sempre que pode, legalmente falando, espaços devolutos, ajuda a criar esta sensação de menor tráfico.
Contudo, alerto que não tenho números que possam comprovar o aumento ou a diminuição desta situação, pelo que qualquer fala sobre o assunto irá sempre carecer de estudo e análise de quem de direito, sob pena de estarmos a gerar ilusões à população que, em vez de combater este flagelo social, irá apenas possuir aproveitamentos políticos. Só posso dizer que muito existe a fazer nesta área, muito mesmo…

A criminalidade tem aumentado como consequência da toxicodependência?
Não possuo números que comprovem o que quer que seja. Contudo, da percepção que tenho, apesar de a insegurança ter diminuído nalgumas zonas, aumentou noutras. É uma questão de análise adequada de quem possui este tipo de competência e capacidade ao nível dos recursos.

Há um sentimento de insegurança por parte da população devido a esta problemática?
Ainda existe a sensação de insegurança junto da população. Por isso, referi que muito ainda há a fazer até atenuar esta sensação. Fazemos a nossa parte, dentro das restrições e limitações que temos, mas, sem a eficaz intervenção de outros poderes e organismos, a nossa acção será sempre considerada como uma espécie de “gota no oceano”.

A questão da prostituição continua a ser um problema em São Pedro?
Neste aspecto, podemos dizer que se não aumentou, garantidamente não diminuiu. É um problema complexo e é muito difícil combatê-lo, por diversas razões. Não se pode chegar junto a determinada pessoa e prendê-la porque se pensa que está a exercer prostituição ou porque alguém assim o disse. Isto requer trabalho de campo e provas irrefutáveis e, nesta área, diz quem sabe, é muito difícil. A verdade é que considero, a par dos sem-abrigo e do tráfico de estupefacientes, é um dos maiores problemas desta freguesia. E, à semelhança do resto do mundo, difícil de combater.

Qual a dimensão da pobreza em São Pedro? Com o aumento do custo de vida, notou que o número de pedidos de apoio à Junta aumentou?
Aumentou, mas estou em crer que na época da “troika” foi pior. O país estava em falência, digamos assim. A Junta soube dar resposta aos muitos problemas que apareceram sem, contudo, resolver de forma minimamente satisfatória, por não ter capacidade ao nível dos recursos para tal, o eterno problema da habitação. É uma tristeza o que se passa nesta área. Sei que melhores dias virão. Apelo aos poderes públicos, que possuem esta capacidade e competência, que aproveitem o momento dos fundos europeus e façam o que a população há tanto espera nesta importante área da vida do nosso povo, principalmente dos mais jovens.

Qual é a abordagem da Junta de Freguesia ao desenvolvimento do turismo?
A animação sócio-cultural, as Verbenas de São Pedro, que estão a decorrer, a manutenção de espaços verdes e zonas históricas, a Feira das Traquitanas, os diferentes concertos musicais e apoios a tunas e outras entidades do género, enfim, tentamos fazer o que podemos, tendo em conta a capacidade que temos, mas queremos sempre mais, apostando numa área que muito traz à freguesia.

As Festas de São Pedro começaram Quinta-feira. Qual a importância destas festividades para a freguesia?
São Pedro é o único santo popular desta cidade. A sua importância é enorme e traz a estas festas, agora recuperadas e em nova modalidade e espaços, dezenas de milhares de pessoas. Estamos no primeiro ano desta nova versão. As festas irão desenrolar-se no Parque Século XXI (arraial) e Avenida Dom João III (marchas). Penso que iremos falar muito destas festas no futuro e poderão passar, com a ajuda de todos, a ser uma das maiores referências a nível de ilha.

Quais são as principais prioridades de desenvolvimento nos próximos anos?
Aponto a habitação; melhoria de vias e criação de novas vias; novos e actualizados programas e apoios sociais; maior aposta na cultura e turismo; resolução dos problemas de espaços sem perspectivas para o futuro; maior desenvolvimento comercial e de serviços, apesar do muito existente; manter o cosmopolitismo actual; colmatar os problemas que este mesmo desenvolvimento – que se quer harmónico –, acarreta. Muito existe para fazer, com a certeza de que sozinhos pouco ou nada faremos. Com os outros poderes e organismos públicos, com o sector privado e com o aumento do interesse e participação cívica da população, muito se poderá fazer. Acredito que bons tempos virão.

Carlota Pimentel

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