Diz a comunicação social destes dias que, desde Outubro de 2023, o Governo Regional e a Google analisam e ponderam a possibilidade e as vantagens dum sistema de comunicações por cabo submarino a instalar no Atlântico Norte pela Google ter um ponto de amarração nos Açores.
O cabo submarino em referência ligará a costa Sul dos Estados Unidos à Europa através de Portugal (Lisboa).
O governo dos Açores e a Google têm mantido conversações sobre a matéria que é do máximo interesse para o Arquipélago considerando o estado de obsolescência e de degradação em que se encontra o atual cabo submarino.
Não eram conhecidas as conversações por acordo de discrição firmado entre as partes, conforme afirmou o presidente do Governo Regional quando interrogado sobre a matéria. E em boa verdade não necessitariam de o ser. Importa que existam e devam continuar até ao seu final porquanto são extraordinariamente relevantes para o futuro do Arquipélago e o alarde não é o melhor caminho para se concretizar projetos de relevo.
Os Açores pelas suas características de dispersão – 600km de mar em linha recta – e considerável distanciamento geográfico dos continentes europeu e americano não podem desconsiderar sistemas de transportes e de comunicações apropriados e integradores porque ao fazê-lo comprometeriam a sua própria sobrevivência.
Neste domínio, todos os contributos de quem – público ou privado – os possa assegurar com credibilidade, eficiência e sustentabilidade são bem-vindos e têm de ser ponderados.
O sistema de comunicações por cabo submarino da Google, nesta zona do Atlântico, integra uma “amarração intercalar” na Bermuda. A Google considera de interesse comum um segundo ponto de amarração na mesma continuidade linear atlântica nos Açores.
Concretamente, já se realizam, há algum tempo, trabalhos preliminares de prospecção e estudo nas costas Sul e Norte da ilha de Miguel para efeito de localização do ponto de “amarração”.
Os barcos tecnicamente dotados e de construção adequada que se aproximavam da costa há já algum tempo pareciam relacionados com o projecto CAM nacional, há muito anunciado, mas pouco ou nada concretizado. Não é conhecida a sua evolução depois de uma discussão política e pública muito inflamada, mas pouco produtiva, da qual o leitor por certo se recordará. O silêncio tem predominado. Por isso, também a oportunidade das conversações com a Google poderão constituir um estímulo.
A Google, citando a consultora Deloitte, frisa ser necessário que a Europa desempenhe um papel mais relevante na conectividade global, uma vez que grande parte do tráfego de dados ainda não atravessa o Velho Continente. Pode ler-se num recente artigo publicado no website da Google, que acrescenta que Portugal reúne todas as condições, aliás únicas, para ligar a Europa a mercados como a América do Norte e do Sul, África e mesmo Médio Oriente.
Refere mais, que Portugal pode atrair os maiores operadores tecnológicos que precisam de expandir sua oferta no mercado global de dados.
Assevera ainda que vai entrar na Europa continental através de Portugal – que é um dos países mais seguros do Mundo de acordo com estudos feitos e o Global Peace Index.
O projecto em causa não reveste a natureza de uma operação de comunicações complexa ou melindrosa por qualquer prisma que seja observado, mas apenas complementar num arquipélago que dela necessita para se aproximar dos continentes distantes e modernizar o sistema em qualidade e velocidade.
O investimento em causa tem um enorme interesse para os Açores, por variadíssimas razões que tratarei no seguimento deste artigo e numa segunda parte que publicarei no próximo Domingo.
Álvaro Dâmaso