Como é hoje a vida da jovem influencer açoriana Maria Paiva e como tudo começou: “…Reparei que as minhas fotografias começaram a aparecer na página ‘explorar’ da rede social Instagram. A partir daí comecei a ter mais de 100 seguidores novos por dia. Ao princípio fiquei muito assustada e comecei a bloquear tudo. Era um volume muito grande de pessoas, mensagens e comentários e não estava habituada. Aos pouco fui tentando perceber o que era, o que podia e não podia fazer, ou seja, o que estava ao meu alcance. Recebi pedidos de parcerias de marcas e, no início, não sabia como funcionava. Recebi mensagens de pessoas a perguntar de onde era a minha roupa, a pedir conselhos sobre sítios onde visitar São Miguel…”
Correio dos Açores – Como tem sido o seu percurso?
Maria Paiva – Estive na Escola das Capelas até ao 9ºano, uma vez que a minha mãe é educadora de infância lá. Depois, a partir do 10º ano, vim para a Escola Secundária Domingos Rebelo. Foi um grande choque de realidade ao sair de uma escola para a outra. Felizmente, correu bem.
Depois, iniciei na Universidade dos Açores o meu percurso em Psicologia e estou neste momento em Lisboa a tirar mestrado. O meu foco é tirar o mestrado em Psicologia Clínica.
O que te levou a seguir este percurso?
Sempre tive uma ideia muito focada na psicologia, desde o ensino básico. Nem era tanto por aquela ideia de ser boa a dar conselhos, foi mais por querer saber como é que a mente humana funciona. Porque é que existem personalidades diferentes, saber porque é que sou como sou e não sou diferente.
Também queria tentar perceber melhor como funcionam as relações e perceber ao certo o que era a empatia. Era um tema de que se falava muito e queria saber ao certo o que era. Até agora estou muito contente com a minha escolha.
Mencionou que quando foi estudar para Ponta Delgada foi um choque de realidade. Quais foram as principais diferenças que notou?
Em Ponta Delgada senti-me mais à vontade. Moro na cidade e nas Capelas era considerada a menina da cidade (risos). À medida que fui passando para um meio maior, em termos de escolas, consegui fazer transparecer mais a minha personalidade. Consegui estar mais livre e mais aberta. Fui-me adaptando melhor. Não é que tenha sido mau nas Capelas, porque não foi, mas adaptei-me melhor em Ponta Delgada.
Quando foi a sua explosão nas redes sociais?
Esta explosão nas redes sociais aconteceu, ao inicio, um pouco sem querer. Aconteceu há uns Verões atrás. Sempre gostei de tirar fotos, então ia aos sítios e tirava fotos com as minhas amigas ou a mostrar a minha roupa, por exemplo. Depois reparei que as minhas fotografias começaram a aparecer na página ‘explorar’ da rede social Instagram. A partir daí comecei a ter mais de 100 seguidores novos por dia. Ao princípio fiquei muito assustada e comecei a bloquear tudo. Era um volume muito grande de pessoas, mensagens e comentários e não estava habituada. Aos pouco fui tentando perceber o que era, o que podia e não podia fazer, ou seja, o que estava ao meu alcance.
Recebi pedidos de parcerias de marcas e, no inicio, não sabia como funcionava. Recebi mensagens de pessoas a perguntar de onde era a minha roupa, a pedir conselhos sobre sítios onde visitar São Miguel.
Na minha opinião, quando as pessoas ouvem a palavra influencer há automaticamente uma ideia pré concebida de futilidade. E eu acho que vai muito mais além do que isso.
Ser criadora de conteúdo, para mim, é um acto de confiança. Sempre fui uma pessoa extremamente reservada, tentava não dar nas vistas e sempre tive o meu grupo de amigos muito restrito. A partir do momento que tive esta plataforma e este público, comecei a expor-me bastante e a expor a minha vulnerabilidade, as minhas coisas boas e más. Sem duvida que é preciso ter confiança. Apesar de ser só uma fotografia, tento sempre lembrar-me que são cerca de 15 mil pessoas a ver o que eu publico. No fim, é muito gratificante. Eu gosto realmente de fazer isto. Ao princípio, como era muito envergonhada, as pessoas pediam-me para falar nas histórias e nos vídeos. Depois de algum tempo fui falando, mostrando os sítios e agora é das coisas que mais gosto de fazer.
É um trabalho muito gratificante quer seja para 10 mil ou para 20 seguidores. A partir do momento em que, quando posto fotografias, as pessoas me reconhecem na rua ou pedem recomendações, faz com que seja gratificante. As criticas construtivas são óptimas, e os elogios também, pois é sinal que as pessoas gostam do que eu estou a fazer mas, ao mesmo tempo, as criticas negativas fazem com que possa crescer e ter uma evolução.
Que tipo de apoio teve quando se deu a sua explosão nas redes sociais?
Tive muito apoio da minha família e dos meus amigos. Foi algo que não estava habituada e contei a eles o que se estava a passar. Não comecei logo a ser super profissional e fui dando passinhos pequeninos. Comecei a retingir a minha conta, porque também houve muita coisa desnecessária. Metia uma foto e via que tipo de comentários tinha, metia uma história e via o tipo de engajamento tinha. Fui retirando restrições à medida que fui evoluindo. Não me expus completamente quando comecei a ver que tinha seguidores. Foi tudo muito cauteloso porque já sabia de outras influencers as consequências que isto poderia ter, então sempre fui muito cautelosa me relação a isto.
É difícil lidar com as criticas que surgem?
Ainda é difícil. Apesar de haver pessoas que lidam melhor e outras pior, não fim e ao cabo, somos todos humanos, portanto vai sempre acabar por nos afectar de alguma maneira. Ao princípio era muito mais sensível em relação a isto. Se tinha algum comentário negativo, ficava a remoer um pouco. Se me falavam sobre uma situação específica eu tentava, inconscientemente, mudar essa situação. Agora sinto-me feliz pela maneira como lido com esta situação. Quando há uma critica, agora penso que é apenas a opinião da pessoa em questão. Sei qual é a minha verdade e tento interpretar a critica negativa como uma oportunidade de evolução e não como uma oportunidade para me mudar a mim mesma.
Como define a palavra influencer?
Mais que tudo, acho que a palavra está ligada a confiança. É preciso ter muita confiança. Acima de tudo é preciso ter, mais do que à vontade, felicidade. É uma felicidade poder mostrar não só qual é a minha realidade, mas também quem eu sou e o gosto de fazer. É uma oportunidade de partilhar as minhas paixões e tudo o que sinto que tenho de bom para partilhar, com o resto das pessoas.
As definições podem ser interpretadas de ene formas. Há todo o tipo de influencer e a sua definição e o porquê de o fazerem, difere de pessoa para pessoa. Se me sinto bem, gosto de partilhar isto com as pessoas. Também sentia a necessidade de tentar me procurar em outras pessoas, ou seja, via pessoas com quem me poderia identificar. Acho que também vai um pouco por ai.
Que tipo de parcerias já conseguiu fazer através das redes sociais?
Este foi um mundo completamente diferente dentro da criação de conteúdo. Faço isto totalmente por diversão e comecei a fazer por diversão. Apesar de ter acedido a alguns pedidos, como por exemplo o falar mais nas historias, faço sempre as coisas pensando em mim, no que gosto de fazer. O que me faz feliz.
As parcerias aparecerem na explosão que tive. Quando chegaram os seguidores, também chegaram emails a pedir parceria. E eu, confesso, que fiquei um pouco desconfiada.
A primeira grande parceria que tive foi com uma marca internacional, a Zaful. Ofereceram-me uma quantia monetária e eu não estava à espera. Ser criadora de conteúdos vem com auto-estima e eu pensei porque me queriam. Oferecem uma quantia monetária em que podemos gastar em produtos da marca para produzir conteúdos e depois envia-los por email.
Por acaso, ficaram felizes com os conteúdos que criei e continuei a fazer muito mais parcerias. Depois, outras marcas viram os conteúdos que criei para a Zaful e foi sempre em crescendo. Agora, para além de parcerias online, já comecei a fazer parcerias presenciais, por exemplo em salões ou serviços de estética, já estive em ante-estreias de cinema, ou seja, é de tudo um pouco. Mas também tento ser genuína e coerente com os meus conteúdos. Por exemplo, não tenho nada a ver com fitness e, por isso, não aceito coisas que não tenham a ver com o meu nicho.
Já teve alguma parceria local?
Já tive com um salão de estética e também quando apareceram as bicicletas da AtlanticBikes, perguntaram-me se queria estar nas fotografias da publicidade e foi uma experiência de que gostei bastante. Foi algo diferente e muito agradável.
É difícil conseguir conciliar estudos, trabalho e vida familiar?
É difícil num ponto: se não publico frequentemente conteúdos, sinto que há um certo desinteresse e visto que é uma coisa que gosto de fazer, sinto um certo nível de preocupação. Mas também existem aqueles momentos em que… Por exemplo, fiz anos há pouco tempo e durante o meu dia de anos quase não estive nas redes sociais porque estive a aproveitar. Gravava sempre uma coisinha ou outra, mas publicava sempre dias a seguir. E quando estou a estudar, antes de um teste, estou em casa e penso que não há nada tão interessante naquele preciso momento para estar a fazer para ser gravado. Então, admito que algumas vezes sinto que poderia estar afazer mais um pouco, mas ao mesmo tempo tento não forçar.Tento ser o mais genuína possível.
Ou seja, é um bocado complicado no ponto em não conseguir estar sempre a ir ao encontro da expectativa das pessoas, mas assim considero-me feliz porque acho que não vou chegar a um ponto em que me vou sentir sobrecarregada com tudo e consigo estar presentes tanto nas redes sociais como na minha vida pessoal.
Há influencers que lidam mal com a perda de seguidores… Como lidaria se perdesse um número significativo de seguidores?
No início, estaria preocupada. Não vou mentir. Aliás, já aconteceu. Já tive mais do que 15 mil seguidores e numa semana perdi alguns.
Já estou numa fase em que a minha mentalidade é: desde que haja uma pessoa que goste do meu trabalho e que me responda e diga que gostou; desde que haja uma pessoa que se identifique e dê um feedback positivo, para mim já valeu a pena, já é gratificante. Acho que o número de seguidores não tem… até porque pode haver situações em que haja um número enorme de seguidores e não haja aquele sentido de interacção, não haja conexão com as pessoas que seguem. Portanto, acho que a parte da conexão e da familiaridade com as pessoas tem muito mais a ver com os seguidores e significa muito mais, pelo menos para mim, do que ter 40 mil seguidores por exemplo.
Especificamente, que tipo de conteúdos faz?
Sempre mostrei um bocadinho do local onde vivia, na ilha de São Miguel, só que desde que fui estudar para fora percebi que havia uma enorme curiosidade acerca de onde venho. Por exemplo, eu digo que vou passar as férias de Verão a casa e perguntam-me o que faço lá, e vinha-me tanta coisa à cabeça que eu não conseguia explicar. Por exemplo, vou com um amigo que tem um drone e vamos para a Caldeira Velha. Eu tento mostrar principalmente a beleza natural da ilha porque é algo a que se dá valor quando se está longe de casa. Sinto que em São Miguel temos uma qualidade de vida que é difícil ter em muitos sítios.
Eu faço vídeos e costumo ir ao mar o ano inteiro. Por exemplo: a preparar-me para ir tomar banho à Caloura e mostro sempre os sítios. Até agora tem sido um feedback muito bom e há pessoas que me mandam mensagens a dizer que não faziam ideia que São Miguel era assim. Para além da beleza da ilha, tento mostrar o meu dia-a-dia que é muito diferente do dia-a-dia de uma cidade grande como Lisboa. É totalmente diferente. Tento até um vídeo que sou eu, o meu namorado e os meus amigos a irmos para uma praia, fizemos mergulho, apanhámos o jantar e fomos para casa fazer o jantar. Entretanto, isso tudo a ir visitar vários sítios lindíssimos, tudo verde. Tento mostrar de tudo um pouco para conseguirem perceber o quanto eu gosto de morar cá. Toda a gente sabe que os Açores é muito bonito, só que quando chego lá fora e digo que estou inquieta para regressar a casa, perguntam-me o motivo e dizem que lá é muito melhor e eu fico… “é, eu vou mostrar-te.” Quando começo a mostrar tudo, as pessoas começam a perceber.
Quando terminar o mestrado, tenciona regressar aos Açores?
Gostaria muito. Se eu puder escolher, definitivamente sim. É uma qualidade de vida que não dá para encontrar noutro sítio. Pelo menos, eu até agora não encontrei.
Onde houver oportunidade é onde eu vou, mas se puder escolher, definitivamente regressarei a São Miguel.
Que mensagem gostaria de transmitir a influencers que estão a começar?
Pensem mais em vocês mesmo e não no que os outros vão pensar. Ainda me dizem isso hoje em dia porque ainda me preocupo muito com as opiniões de terceiros, mas acho que é importante. Críticas negativas vão estar presentes em qualquer altura, em qualquer situação da nossa vida e está tudo na forma como interpretamos e utilizamos as críticas negativas para uma coisa melhor.
Façam o que vos faz feliz se é isso que vos faz feliz. Se é a fazer um vídeo, um tiktok, uma fotografia, façam porque ninguém perde nada a fazer o que os faz feliz.
Frederico Figueiredo