O anúncio, sexta-feira, dos eventos desportivos para a próxima época com relevância turística e que têm como finalidade a promoção dos Açores no exterior, está a provocar estrondo.
A secretaria regional do Turismo, Mobilidade e Infra-estruturas, liderada por Berta Cabral, definiu quais as modalidades e as equipas dos clubes a serem alvo de contrato de promoção.
Com as subidas à I divisão nacional das equipas de futsal do SC Lusitânia e de hóquei em patins do Candelária SC, da ilha do Pico, ficaram de fora as formações açorianas que vão militar na II divisão. São o SC Barbarense, da ilha Terceira, no futsal, e o Marítimo SC, de Ponta Delgada, no hóquei em patins.
Na época que termina a 30 deste mês de Junho, o Barbarense foi apoiado em 60 mil euros porque estava na II divisão. O mesmo valor foi entregue ao SC Lusitânia e à CP Livramento, que jogaram na mesma divisão. A equipa micaelense baixou e ficará sem contrato e o Lusitânia ao ser promovido vai receber 127 mil euros, o montante que é afecto às equipas dos principais escalões do andebol (Sporting da Horta), do voleibol (Fonte do Bastardo, masculino, e do Clube K, feminino) e do basquetebol feminino (União Sportiva).
No hóquei em patins nesta época de 2023/24 o Candelária foi a única equipa a jogar na II divisão. Recebeu 40 mil euros, o mesmo valor da temporada de 2022/23. Idêntica verba foi válida para o Marítimo SC, quando há dois anos esteve na II divisão. Baixou e conseguiu, com um campeonato da III divisão de bom nível, ser a vencedora da série e subir de novo à II divisão.
A secretaria do Turismo levou à letra o que está definido em lei e não deu azo a que Barbarense e Marítimo, por estarem na II divisão, assinassem contratos programa.
TUDO RUIU E O FECHO DE PORTAS IMINENTE – As direcções dos dois clubes vêm há algum tempo sensibilizando as estruturas decisórias do Governo e os elementos ligados às estruturas partidárias na Assembleia Regional dos Açores, com argumentos válidos, para não deixarem de figurar na lista de clubes aptos a serem incluídos no argumento de “especial relevância turística”.
Sentiram concordância e esperança. Sexta feira tudo ruiu. Um desalento nas hostes do SC Barbarense e do Marítimo SC. Os principiais responsáveis pelas modalidades de ambos os clubes anunciaram que vão encerrar a prática do futsal e do hóquei em patins, respectivamente, em todos os escalões.
A levarem por diante a decisão, será um rude golpe para centenas de crianças, adolescentes, jovens e seniores que estão a praticar as duas modalidades, proporcionando-lhes ocupação em largos períodos do dia, retirando-lhes das tentações que minuto a minuto são alvo de gente sem escrúpulos.
Quando se legislam leis sem consultarem quem sabe e o histórico, sem olharem ao que definem os clubes para as épocas, acontecem situações que atropelam o desiderato de afirmações políticas que na prática os vento as leva.
Com equipas fortes, como Barbarense e Marítimo estavam a planear, mesmo na II divisão, o retorno da imagem e dos impactos directos e indirectos têm mais relevância do que em modalidades que têm direito ao apoio.
PLANO DE EQUIPAS FORTES – Na verdade, com o elevado nível que se joga na II divisão de futsal e de hóquei em patins, as equipas têm de se apresentar fortes para poderem ombrear, sem sofrerem goleadas. Para que isto aconteça têm de recorrer a jogadores do exterior.
Quer o Barbarense quer o Marítimo já tinham compromissos com alguns jogadores porque estavam certos de que não seriam varridos do lote de clubes com direito ao que se designou chamar de “apoio pela utilização da palavra Açores nos equipamentos”.
É mais do que sabido que equipas, mesmo nas segundas divisões, apenas com jogadores açorianos, estão condenadas à descida e a figuras que desprestigiam o desporto açoriano.
Há duas temporadas o Caldeiras Hóquei Clube, mesmo na III divisão, só com jogadores micaelenses, teve uma participação horrível na série que integrou no campeonato. Perdeu os 22 jogos, com apenas 31 golos marcados e 262!!! sofridos. Um saldo negativo de 231 golos. De certo não querem repetir…
DOIS PESOS E DUAS MEDIDAS- A determinação das divisões e dos apoios com o fundamento da “especial relevância turística” tais como “as competições nacionais, o que lhes confere especial capacidade para divulgar, no exterior, e de forma relevante, a Região Autónoma dos Açores” e “tem forte impacto junto das populações e grande divulgação nos órgãos de comunicação social, potenciando a relevância turística da Região Autónoma dos Açores” que justifica o contrato, tem dois pesos e duas medidas.
Se efectivamente pretendem ter um critério de acordo com o que apregoam, o que sucede na nova época com o basquetebol do Lusitânia, inserido na Proliga (equivalente ao segundo escalão), com o futebol do Operário, inserido no Campeonato de Portugal (quarto escalão) e com os sub 19 de futebol do Lusitânia e da equipa de futsal feminino da CP Livramento, não tem grande impacto, apesar de umas mais do que outras são faladas e vistas com maior dinâmica e maior frequência quer na comunicação social, mas especialmente nas redes sociais.
São menos quatro as entidades que em 2024/25 obedecem aos critérios que foram definidos pela secretaria comparativamente com 2023/24. Foram 20 e em 2024/25 serão 16.
SEM NECESSIDADE é o que se passa desde que resolveram passar para a Direcção Regional do Desporto (DRD) a parte da atribuição dos valores e da assinatura dos contratos programa.
A única vantagem foi a de que os clubes assumem compromissos para cumprirem, inscritas em cláusulas contratuais, o que não acontecia quando era a Direcção Regional do Turismo a conceder os valores.
De resto, só mais burocracia, o que é hábito.
A secretaria do Turismo define quais as divisões das sete modalidades. Recebe instruções da DRD porque Berta Cabral sabe lá em que escalões competem a maioria das equipas. O processo passa para a DRD para as etapas seguintes, nomeadamente a definição dos conjuntos e os contratos.
A DRD recebe a verba do Turismo para poder pagar. O Turismo fica com a responsabilidade do contrato de promoção desportiva apenas do desporto profissional, leia-se Santa Clara Açores, Futebol, SAD. Que enredo sem necessidade.
Contudo, louve-se a antecedência do anúncio. Aqui a promessa está cumprida. A 25 de Junho, antes do início oficial da nova época.
MANUEL FERNANDES partiu desde mundo na noite de quinta-feira. Aos 73 anos de idade. Era um desfecho esperado face à gravidade da doença oncológica e à quebra que se lhe seguiu após um período em que a esperança de melhoras surgiu.
A história do jogador e do treinador andam à volta do Sporting.
No entanto, o nome de Manuel Fernandes estará sempre ligado à revolução do futebol açoriano, através do arrojo dos dirigentes do CD Santa Clara de há 25 anos quando o contrataram para treinar a equipa na antiga II Divisão B, onde foi campeã, com subidas seguidas às II e I Ligas. Por duas vezes esteve ao leme do Santa Clara. Com mais êxitos do que fracassos.
José Silva