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O reconhecimento da UNESCO trouxe vida a vinhas abandonadas e revolucionou uma actividade que estava moribunda

Fez ontem 20 anos a classificação da paisagem da vinho do Pico pela UNESCO. A paisagem da vinha do Pico, que hoje em dia é um dos principais cartazes turísticos da ilha e dos Açores, ocupa uma área total de 897 hectares e abrange uma faixa de território apresentando como referência emblemática as zonas do Lajido da Criação Velha e do Lajido de Santa Luzia, dois locais classificados por constituírem excelentes representações da arquitectura tradicional ligada à cultura da vinha, do desenho da paisagem e de elementos construídos pelo homem como casas solarengas, ermidas, portinhos e poços de maré.

A classificação da vinha do Pico como património da UNESCO permitiu ao longo dos últimos 20 anos uma transformação total da paisagem. O reconhecimento da UNESCO trouxe vida a vinhas abandonadas e revolucionou uma actividade que se encontrava a moribunda desde o século XIX, quando o oídio e a filoxera destruíram as áreas em produção.
“Havia cerca de 200 hectares em produção na área de Património Mundial, classificada agora como Património Mundial, e em 2024 temos neste momento mais de 800 hectares em produção, o que é mais que quadruplicar a área que existia na altura”. Não menos importante, segundo Vasco Paulos, presidente da Comissão Vitivinícola Regional dos Açores, são as marcas comerciais certificadas que passaram de duas em 2004 para as actuais 68.
“É, portanto, o sinal de que classificação e reconhecimento como Património Mundial por parte da Unesco da paisagem e vitícola da Ilha do Pico foi uma pedra basilar, um alicerce para todo este desenvolvimento. Não só ou não foi exclusiva, mas contribui imenso para o crescimento que se tem verificado no sector”, como referiu à Antena-1 Açores.
Já o presidente da Cooperativa Vitivinícola da Ilha do Pico destaca a importância da classificação para manter uma paisagem viva e humanizada, onde sobressai uma rede infinita de currais de pedra erguidos para proteger as videiras de água do mar e também do vento.
“Os incentivos que foram dados não só à implementação, como a manutenção dos currais, é um importantíssimo contributo para que a paisagem se mantenha viva, humanizada e trabalhada.”
Apesar do muito trabalho já realizado, os desafios estão imensos. Losménio Goulart diz ainda à Ante-1 Açores. e alerta para o desânimo que começa a surgir no sector e apela uma revisão total dos apoios.
“Estamos agora a cair aqui nalgum desânimo e nalgum abandono. Era importante reflectir sobre os apoios atribuídos, uma vez que não são reajustados desde 2009. E os valores por hectare teriam que ser revistos e actualizados. As coisas evoluíram, a economia evoluiu muitíssimo nos últimos 15 anos, especialmente nos últimos 10, a inflação subiu galopantemente, os custos de mão da obra subiram exponencialmente em relação ao que eram há 20 anos atrás. E, portanto, todos os valores atribuídos por hectare teriam que ser revistos.”
Esta classificação trouxe também vários novos agentes para o sector vitícola. A Azores Wine Company é uma das empresas que se instalou na ilha do Pico construindo uma adega e produzindo vinhos que têm conquistado prémios nacionais e internacionais, colocando os Açores nos melhores restaurantes do mundo, como salienta o empresário Filipe Rocha
“Exportamos para mais de 30 países. Ainda ontem, uma pessoa amiga mandou uma mensagem a dizer que tinha ido jantar o Eleven Madison Parkem Nova Iorque, um dos melhores restaurantes do mundo, com três estrelas Michelin, o Arinto dos Açores da AzoresWine Company, está no menu de degustação, estamos no George Sankem Paris, estamos na alta restauração, no melhor que se faz no mundo, acho que é isto que mudou nesses últimos 20 anos: deixou de ser apenas uma paisagem bonita, única para passar a ser novamente uma indústria, uma paisagem viva, onde as pessoas trabalham, onde as pessoas vivem da vinha, vivem do vinho.”
Este boom do sector, motivado pela classificação da Unesco, criou também uma nova indústria, a do enoturismo, que hoje traz milhares de pessoas para visitar a paisagem da vinha do Pico e provar os vinhos produzidos no meio de vinhas únicas no mundo.
“Nós sentimos aqui na nossa adega uma visita de imensas pessoas do mundo do vinho que veem propositadamente ao Pico, querem ver o sítio onde se produzem estes vinhos que são de facto únicos e que os surpreendem a todos, que surpreendem toda a gente que os prova.”
O crescimento do sector vitícola, associado a uma paisagem de currais de pedra, construídos pelo homem, permite que, à semelhança do que acontecia no século 19 se volte a viver exclusivamente da produção de uva e de vinho.
“A incipiência do sector que havia há 20 anos atrás era impensável, nessa altura, haver famílias dedicadas à vitivinicultura, esta era sempre um complemento às outras actividades existentes. Neste momento, existem famílias no pico que vivem exclusivamente da vitivinicultura e deve-se obviamente grande parte a esta distinção e à pujança que o sector possui neste momento.”
Tal como o presidente da cooperativa Vitivinícola, Filipe Rocha diz que os desafios são gigantes a começar pela produção de vinhos biológicos sem descurar a promoção internacional dos vinhos que não podem ser colocados no mesmo patamar.
“Apesar de haver um branding de Marca Açores, os vinhos dos Açores não estão no mesmo nível que muitos dos produtos da marca Açores, é um facto, é uma realidade, nem na notoriedade, nem na qualidade, nem no posicionamento, nem onde estão à venda, nem onde estão se for de viver essa experiência e por isso não podemos, se calhar, estar todos no mesmo saco.” A paisagem da vinha do Pico, que hoje em dia é um dos principais cartazes turísticos da ilha e dos açores, ocupa uma área total de 897 hectares e abrange uma faixa de território apresentando como referência emblemática as zonas do Lajido da Criação Velha e do Lajido de Santa Luzia, dois locais classificados por constituírem excelentes representações da arquitectura tradicional ligada à cultura da vinha, do desenho da paisagem e de elementos construídos pelo homem como casas solarengas, ermidas, portinhos e poços de maré, como adianta a Antena 1- Açores.

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