O Partido Socialista dos Açores iniciou recentemente um novo ciclo com a eleição do seu novo líder Francisco César, que personifica um projecto político com novas energias e novo entusiasmo para o futuro dos Açores.
Mas o início de um ciclo pressupõe o fim de outro. E no caso em apreço o fim de um ciclo de 11 anos muito positivo liderado pelo Vasco Cordeiro, a quem o Partido Socialista e a Região muito devem. O próprio não gostará desta afirmação, nem destes termos, mas é um facto inquestionável que pelo trabalho desenvolvido na liderança do Governo e na liderança do PS, com questões muito complexas e circunstâncias muito difíceis, os Açores muito lhe devem.
Vasco Cordeiro foi Presidente do Governo entre 2012 e 2020.
Chegado à liderança do Governo Regional foi, imediatamente, confrontado com um conjunto de circunstâncias externas altamente condicionadoras para o nosso desenvolvimento, que exigiram firmeza, decisões difíceis e proactividade.
A Europa e o país continuavam mergulhados numa crise económica e social sem precedentes, originada pela conhecida crise do sub-prime nos Estados Unidos. Portugal, a nossa principal economia de referência, estava intervencionado pela Troika, com um Governo da República que se orgulhava de ir além da Troika e com pouca ou nenhuma sensibilidade para as especificidades das Regiões Autónomas. O esforço para amenizar os impactos deste contexto económico e social nas famílias e nas empresas açorianas foi tremendo. Recordo-me que no 1º trimestre de 2014 o desemprego atingia os 18% na Região, números que tiveram uma enorme redução até 2020, atingindo valores abaixo de 5%.
Além deste contexto tremendamente negativo, foram vários os assuntos que surgiram e exigiram respostas e acções concretas.
Grave crise no turismo, sector em grande abrandamento devido às circunstâncias económicas e sociais, que exigiu um grande esforço da nossa companhia aérea Azores Airlines e Sata AirAçores, fundamental para aguentar o sector hoteleiro e da restauração nesta fase negra.
O downsizing da Base das Lajes, que tinha como propósitos iniciais dos norte-americanos várias centenas de despedimentos, sem reposições de postos de trabalho, com impactos económicos e sociais enormes no Concelho da Praia da Vitória e na Ilha Terceira que ainda hoje se vivem. Conseguiu-se que não existissem quaisquer despedimentos e que os trabalhadores mais novos fossem reacomodados, violando até os acordos em vigor. Será justo afirmar que se não houve despedimentos na Base das Lajes e se foi possível garantir reformas antecipadas e postos de trabalho para os funcionários mais novos deve-se, em grande medida, ao trabalho diplomático de Vasco Cordeiro.
O fim das quotas leiteiras imposto pela União Europeia, momento de enorme incerteza e angústia para um sector crucial da nossa Economia e que, felizmente, foi ultrapassado com sucesso, em parceria com o sector.
Situação muito difícil no sector cooperativo de São Jorge, fundamental para aquela Ilha, com prazos de pagamento de mais de cem dias, que foi revertido, em parceria com o sector. Apesar das dificuldades e desafios, tem hoje uma situação bem diferente e com grande confiança no futuro.
Várias situações de tempestades, calamidades e catástrofes que exigiram esforço financeiro da Região imediato, nalguns casos por falta de solidariedade da República, como foi o caso das enxurradas do Porto Judeu na Ilha Terceira.
O Furacão Lorenzo, que exigiu um grande esforço de mobilização de recursos para recuperação dos prejuízos e que em vários casos ainda decorrem, como é o caso do Porto das Lajes das Flores.
Ou a Pandemia do COVID-19 que exigiu um grande esforço quer em termos sanitários e de saúde pública do nosso Serviço Regional de Saúde, quer em termos económicos e sociais para amenizar os impactos da pandemia nas empresas e famílias açorianas.
Haveria ainda outras situações para referir mas os limites de caracteres deste artigo não me permitem referir.
Além destes problemas relevantes, foi executado o quadro comunitário em vigor na altura, que garantiu muitos investimentos em todas as ilhas, o sistema de incentivos Competir Mais que garantiu milhões de euros para a competividade das empresas dos Açores, com mais e melhores postos de trabalho, foram incorporados na Administração Pública largas centenas de precários, foram resolvidas várias questões laborais como a contagem do tempo de serviço dos professores, caso único no País, reforçadas as apostas em sectores de charneira como as energias renováveis, a mobilidade elétrica ou a economia do Mar ou garantido, através da negociação com o País e com Bruxelas, o maior envelope financeiro da história em termos de apoios comunitários europeus para a Região, atualmente em vigor.
Tudo isto sob a liderança do Vasco Cordeiro.
Em 2020, quando foi perpetrado o golpe político de cinco partidos derrotados nas eleições, com o patrocínio do Representante da República, que contrariou a vontade popular e afastou o Partido Socialista do Governo, e quando não lhe faltavam convites e oportunidades profissionais, o Vasco Cordeiro preferiu ficar, dar a cara e assumir o seu lugar na liderança da oposição, gesto de uma humildade e grandeza enormes.
O Vasco Cordeiro não fez tudo bem certamente. Cometeu erros obviamente. Mas fez muito e muito bem feito. A realidade mostra-o e, noutros casos, a história encarregar-se-á de o evidenciar.
Vasco Cordeiro sai agora da liderança do PS Açores.
Sai pela porta grande. Ao alcance de muito poucos.
Com um amor aos Açores inspirador.
Com a dignidade intocada e com a cabeça erguida.
A quem os Açores muito devem.
Obrigado e Até Sempre…
Berto Messias