(Apontado ao coração do homem falo com uma agulha de sangue a coser-me todo o corpo à garganta.) – Luiza Neto Jorge.
No passado dia 1 de julho, foi inaugurado uma nova exposição de Rita Anjos, na Casa João de Melo na Achadinha, Nordeste.
A este propósito, Vítor Teves, elaborou um texto que a seguir se transcreve: A pintura de Rita Anjos segue o espírito do nosso tempo, ou seja, é uma pintura que simultaneamente realça os dados biográficos do seu autor e, ao mesmo tempo, realça, homenageia e destaca o papel da mulher dentro e fora da pintura. A pintura de Rita Anjos facilmente seduz o seu espectador, quer ele seja masculino ou feminino. Os espetadores são rapidamente envolvidos no poder sensual das suas rápidas pinceladas e cores. A pintura de Rita Anjos é uma pintura da sensualidade, do encanto, da magia; em última instância do próprio Glamour.
As obras escolhidas para esta exposição podem ser separadas, muito sucintamente, em três grupos de obras: o primeiro grupo, o mais extenso, e aquele que Rita Anjos encontra o seu verdadeiro “estilo” (a sua marca), é constituído por seis telas de mulheres de corpo inteiro, em que o que se destaca, sobretudo, a fluidez dos seus grandes e glamorososvestidos. Os corpos dessas mulheres apresentam três características singulares: silhuetas bem definidas, ombros e braços muito finos, e cabeças sem rosto (ou apresentadas apenas esquematizadas). Esta ausência do rosto dá ao espectador, segundo a pintora, a possibilidade universal de cada uma pessoa se colocar na pela da imagem representada, segundo sugeriu na recente entrevista dada ao programa de radio “Aqui Perto”, em junho deste ano. Esta ausência de definidos rostos denota uma direta influência dos croquis e dos desenhos preliminares do Design da Moda.
Ao observarmos com mais atenção essas telas, verificamos que muitos dos quadros de Rita Anjos parecem evocar, muito subtilmente, desenhos de Yves Saint Laurent, Christian Dior ou até de Andy Warhol (sobretudo os seus primeiros desenhos ligados à moda). Esta minha observação, não só enriquece o trabalho de Rita Anjos,como aponta um dos pontos essenciais da sua pintura e também da sua personalidade: o seu fascínio pela Moda e pelo Glamour – aquilo que transpira na sua personalidade e bom gosto. Dessas linhas, entende-se, assim, o fascínio que a sua pintura impõe sobre o espectador, que, sem querer, acaba envolvido nos seus “cetins da magia”. Na sua pintura sobressaem a beleza, a rapidez de pincel, o poder da cor e também o brilho – esse último criado, muitas vezes, através de pequenas e delicadas pinceladas de muitas cores. E aqui tanto podemos pensar na chuva dourado de uma Dânae, de um JonGossaert (1478-1531), como em alguns trabalhos criados por Yves Saint Laurent para a sua principal musa – ZiziJeanmaire (1924-2020).
O segundo grupo, por sua vez, é constituído por apenas três obras (“Criativa”; “Companheira” e “Maternal e divina”). Apresenta soluções plásticas diferentes do primeiro grupo: aqui neste grupo as figuras ou são apresentadas a meio corpo ou acompanhadas por outras figuras. Nestas três telas, a intenção da pintora – a meu ver – foi realçar os três domínios primordiais da mulher: a mulher enquanto mãe (amor maternal, fraternal); a mulher enquanto companheira (amor romântico e amizade); e a mulher ícone – onde é representada uma “silhueta” de Frida Khalo (amor incondicional, um ícone a seguir). Além desse realce à volta da mulher, convém destacar, de uma forma geral, a unicidade de todos os títulos das obras: “Amiga e protetora”; “Ousada”; “Livre”; “Sonhadora”; “mística”, etc… todos estes adjetivos associam-se ao papel e importância da mulher na sociedade atual. É através deles que se unificam todas as obras desta exposição.
Por último, aquilo que chamo o terceiro grupo, culmina com um “retrato” – real ou imaginado – de uma mulher cujos cabelos despenteados ganham enorme relevância plástica, tem por título:“Emancipadora.Esta mulher com cabelo despenteado foge de tudo o que a pintora apresenta e, simultaneamente, apresenta-se como uma típica fotografia de modelo, dessas que encontramos nas revistas de moda. Este trabalho, creio, aparece aqui na exposição como “uma prova de talento” que a pintora não precisa seguir – pois é claro o seu talento, uma vez que, em si, já apresenta um estilo que é inconfundível seu.
Rita Anjos consegue, de uma forma impressionante, “reciclar” o seu fascínio pela moda e criar, ao mesmo tempo, um estilo muito pessoal, colocando-o sempre ao serviço do seu principal foco: o Poder e a Liberdade da Mulher na sociedade contemporânea. Que o brilho da noite e do cosmos continue a ecoar sobre os sonhos de magia de Rita Anjos.
Vítor Teves