O Largo do Colégio, em Ponta Delgada, acolhe hoje, às 21h30, o festival Música no Colégio do Coral de São José, um evento gratuito decorrerá ao longo de três noites temáticas. Nesta noite de estreia, a Filarmónica Nossa Senhora das Neves trará o tema ‘Ritmos Latinos’, com destaque para a ópera tango ‘Maria de Buenos Aires’. No sábado, Helena Oliveira e os seus convidados assinalam os 50 anos do 25 de Abril com temas que marcam papel da música na defesa da liberdade. O festival encerra no Domingo com a noite coral sinfónica ‘Do Rio à Broadway’, onde o coro, acompnhado pelo pianista Nuno Margarido Lopes e músicos convidados, interpretará peças icónicas da música brasileira e norte-americana, como ‘Garota de Ipanema’ e ‘New York’.
Correio dos Açores – Quais são as expectativas para o festival Música no Colégio deste ano? Há novidades?
Ricardo Botelho ( vice-presidente do Coral de São José) – Nesta 12º edição do festival, teremos três noites temáticas. Na primeira noite (hoje) — ‘Ritmos Latinos’ —, a Filarmónica Nossa Senhora das Neves, da freguesia da Relva, junto com alguns convidados, vai trazer-nos um ambiente sonoro muito próprio da América Latina, tendo como peça central uma ópera tango intitulada ‘Maria de Buenos Aires’.
A protagonista da noite de Sábado é a cantora Helena Oliveira que, ao lado de alguns músicos convidados, fará uma evocação às celebrações dos 50 anos do 25 de Abril com um conjunto de peças musicais não só portuguesas, mas também espanholas e latino-americanas — numa tentativa de viajar por alguns dos países que também viveram períodos de ditadura. O intuito também é o de espelhar a importância da música na luta pela liberdade e pela democracia. E, como bem sabemos, na revolução do 25 de Abril foi a música que deu o mote aos avanços militares, para não falar de toda a poesia que está por detrás das músicas que dão voz a essa temática da liberdade do 25 de Abril.
No domingo encerramos o festival com a noite coral sinfónica, um programa também muito refrescante intitulado ‘Do Rio à Broadway’, em que vamos ter peças conhecidas da música brasileira e peças dos Estados Unidos da América, numa versão coral. O nosso coro será acompanhado pelo grande pianista Nuno Margarido Lopes e outros músicos convidados sob a direcção de Luis Felipe Carreiro, o nosso maestro titular. Faremos uma viagem entre o Brasil e os Estados Unidos com músicas que todo o público conhece, como a ‘Garota de Ipanema, o ‘Tico-Tico No Fubá’, ‘New York’ e May Way.
Este tem sido sempre o grande desafio do nosso festival: manter uma programação ecléctica, cuidada, transversal e essencialmente gratuita, porque no nosso interesse é que os mil lugares que se encontram no Largo do Colégio sejam abertos a todo público. Esperamos três noites magnificas.
Qual é o segredo do Coral de São José para manter os seus membros motivados?
Neste momento, o coro tem 50 membros efectivos e é este o número que se vai apresentar em palco na noite de Domingo. O Coral de São José é um coro amador na sua essência, no sentido em as pessoas não auferem comparticipação financeira pelo seu trabalho, ou seja, fazem-no por amor à camisola. De resto, tentamos ser o mais profissionais possível no nosso trabalho. E a verdade é que nós tentamos sempre estimular os nossos cantores no sentido de terem programação regular, diferenciada e arrojada. Para além disso, tentamos proporcionar um ambiente familiar e amigável entre todos. É muito bom vermos que estes 50 coralistas são todos amigos e que também fazem programas fora do coro. E, portanto, estes são pontos salutares na manutenção de um grupo tão grande e muito heterogéneo, pois temos pessoas de várias faixas etárias, de meios profissionais completamente diferentes, de vários pontos da ilha, e até pessoas que são de fora da ilha, mas que cá residem.
Essencialmente é este o segredo para manter os nossos membros: termos projectos ambiciosos em que o coro se sente desafiado, as boas relações interpessoais e o apoio do público que nos segue, aplaude, acarinha e que enche o Largo do Colégio e todas as outras casas de espectáculo por onde passamos. É precisamente isto que nos faz sentir que estamos no caminho certo e que promovemos actividades com valor.
Naturalmente, há momentos que nos marcam imensamente, como a nossa ida à Madeira para tocar na Sé, em Março deste ano; os momentos vividos no ano passado, quando acompanhámos a digressão dos The Gift nos Açores e fizemos uma ópera no Teatro Municipal de Matosinhos; e, em 2019, quando representámos Portugal no festival internacional de Praga.
Depois do festival Música no Colégio que outro evento tem a destacar?
Depois do festival, o coro entra no seu período de férias habitual que irá até ao final de agosto. Regressamos em setembro para preparar os nossos concertos de Natal. Este ano, faremos três concertos nas freguesias e Ponta Delgada — Arrifes, Fajã de Cima e Feteiras — e um em Vila Franca de Campo. Por fim, o evento chave da temporada será o tradicional concerto de clássicos de natal, no Teatro Micaelense.
Os apoios que têm recebido para o festival são os ideais?
A missão do Coral de São José é a de proporcionar um serviço público no campo da cultura. É este o nosso objectivo quando promovemos projectos, especialmente o Música no Colégio, um festival onde todas as pessoas podem tomar o seu lugar e assistir a concertos de grande qualidade de forma gratuita. É importante referir esta questão porque o coral vê-se persistentemente perante a necessidade de ter de negociar e de pedir apoios para que o festival seja possível. Esta é uma situação que nos entristece muito, pois o Coral não é uma empresa e não vivemos para arrecadar lucros. Pelo contrário, tudo aquilo que fazemos é para que as pessoas usufruam da cultura. Neste sentido, nós gostávamos que houvesse um maior entendimento disso e uma maior atenção aos apoios na cultura porque efectivamente temos de persistir e lutar muito para que este festival continue a acontecer. E a prova disto é que a escassez de recursos financeiros nos levou a ter de reduzir os dias de festival – este ano, faremos apenas três noites, em vez das quatro e cinco a que já estávamos habituados.
A nossa teimosia é o que nos faz persistir porque acreditamos que este é um projecto verdadeiramente merecedor. E a nossa maior satisfação é ver que estas noites estão sempre repletas de público e também perceber que já temos reconhecimento a nível do estrangeiro: as pessoas já conhecem o festival Música no Colégio fora dos Açores.
Se sentíssemos um verdadeiro apoio para a concretização deste projecto, eramos todos mais felizes, nós e o publico que também teria mais qualidade e mais programas para poder assistir de forma gratuita. Tudo isto não descura o nosso agradecimento aos apoios que temos do Governo Regional dos Açores, da Câmara Municipal de Ponta Delgada, da Junta de Freguesia de São Sebastião, da Junta de Freguesia de São José e de outras entidades privadas que são apoios essenciais, mas os mesmos têm vindo a diminuir gradualmente e isso leva-nos a tomar mediadas de contenção na nossa programação, mas é uma pena pois projectos como este têm um grande valor para todos.
Daniela Canha