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Açores e o Futuro – A nuvem da Google e os Açores II

Retomo o tema de domingo passado sobre a hipótese dum projecto de investimento de inegável interesse para os Açores promovido pela GOOGLE. Consiste ele no lançamento de um cabo submarino a partir do Continente Americano em direcção à Europa com “ estações de amarração”, a designação é minha, à superfície nas Bermudas e nos Açores e a terminar em Lisboa.
O que é que fundamenta a relevância do projecto?
Os “data centres” beneficiam muito da sua instalação na proximidade das “estações de amarração”, como facilmente se compreende. As “estações” convertem-se, assim, em verdadeiras infra-estruturas para os “data centres”.
Hoje, o fluxo de dados entre a Europa e outros continentes depende quase 100% da utilização de cabos submarinos.
Acresce que a vida útil dos cabos submarinos é de 25 anos, ponderável longevidade. Escasseiam “estações de amarração” de cabos submarinos – como numa auto-estrada sucede com o aumento de tráfego que obriga à construção de mais faixas de rodagem – novos tráfegos de comunicações (de serviços e de aplicações), exigem inevitavelmente mais largura de banda disponível. Além disto, que já é bastante relevante, o acesso oportunamente facilitado às “estações de amarração” e aos “data centres” impulsionarão a globalização, o crescimento dos actuais agentes (operadores e fornecedores) e a adesão de muitos outros novos. Por fim, a fiabilidade do processamento e a velocidade das comunicações são nos dias que correm um dos motores principais da modernidade, do progresso e de novas invenções.
Esgotando-se progressivamente a produtividade da Terra em vários domínios é necessário olhar o Céu de modo a concluir como ele poderá contribuir para prolongar a longevidade deste nosso astro que ainda parece ser o único habitado no Universo, mas não desprezar o enorme contributo que o mar e os seus fundos podem dar com idêntica finalidade.
Presumo com este entendimento com o qual me identifico, a Fundação Oceano Azul entregou em Abril passado no Parlamento Europeu, recentemente renovado, um “manifesto” no qual se pode ler: “a abordagem da União Europeia ao tema dos oceanos irá moldar uma parte significativa do futuro do Velho Continente”.
Tiago Pitta e Cunha, um dos nossos maiores especialistas em matéria do mar, como é amplamente reconhecido em entrevista ao jornal económico: “Há aqui uma questão que está na origem de tudo que é a questão geográfica: geograficamente, a Europa é o continente mais marítimo do Mundo porque está rodeado pelo Atlântico e pelo Ártico e por quatro mares. Só por causa disso, a Europa é quase o cabo da Ásia, rodeado por penínsulas e por ilhas (…) este continente pode ser a superpotência económica dos oceanos a nível mundial”.
Os Açores dispõem de competências específicas que fundamentam a preferência da Google. Desde logo, a sua localização no Atlântico Norte: equidistância dos continentes Europeu e Americano e da Gronelândia. Uma espécie de lugar geométrico nesta porção superior do Oceano Atlântico.
A localização – equidistância – dos Açores assume a natureza dum valioso contributo para a redução da “latência” que é o tempo de processamento + tempo de propagação da transmissão de dados.
Constituem igualmente um factor com considerável significado as condições naturais do Arquipélago para a produção de energia geotérmica, fonte recomendável para o funcionamento dos “data centres” que consomem energia em abundância.
Os Açores podem proporcionar condições para que Portugal surja como plataforma Atlântica de amarração de cabos de interligação principal e central do Atlântico à Europa ou até de alavancagem para a Rede Europeia de “Data centres”.
A matéria justifica que o Governo Regional constitua uma “estrutura ou unidade de missão” para se ocupar desta matéria e que nela integre um representante do regulador, a ANACOM – Autoridade Nacional de Comunicações que tem acompanhado quer o projecto CAM que os passos já dados em relação ao projecto da Google. (Continua)

Por: Álvaro Dâmaso

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