A Banda Harmonia Mosteirense comemorou 141 anos no dia 24 de Junho, no São João da Vila. Para celebrar o aniversário, a banda está a organizar um festival de bandas filarmónicas, “I Festival de Bandas Filarmónicas Tenente Francisco José Dias”. Há quatro bandas participantes, uma delas a Sociedade Filarmónica Corvalense, do Alentejo. Em entrevista ao Correio dos Açores, Manuel Fernando Almeida, presidente da Banda Harmonia Mosteirense, explica o motivo que levou à realização deste festival, como surgiu a oportunidade de convidar uma banda do Alentejo e conta quais foram os mais recentes projectos da Banda, entre os quais contaram com a colaboração de José Cid e Dulce Ponte.
A Banda Harmonia Mosteirense está a realizar agora um festival de bandas, “I Festival de Bandas Filarmónicas Tenente Francisco José Dias”. Qual é o motivo para esta realização?
Estamos numa freguesia de música. É uma freguesia que tem uma tradição muito longa com a música. Fizemos 141 anos este ano e queríamos festejar com o primeiro festival de bandas para homenagear o Tenente José Dias, que era uma pessoa conhecida no mundo da música, foi maestro de bandas militares, maestro de bandas civis e maestro da Banda Harmonia Mosteirense. Na altura em que esteve com a banda, ganhamos consecutivamente dois concursos de bandas. Foi com ele que se projectou a escola de música. Por essa razão, fazemos esta homenagem.
Quais são as bandas que vão participar? Como está a ser a preparação?
Vamos contar com a participação de quatro bandas neste primeiro festival: Banda Harmonia Mosteirense (organizadora); Sociedade Filarmónica Corvalense, do Alentejo; Filarmónica Estrela do Oriente, da Algarvia, e Sociedade Musical Sagrado Coração de Jesus, do Faial da Terra.
No dia 7 de Junho, no Domingo, vamos ter um desfile de bandas, às 16h30, até ao centro da freguesia dos Mosteiros. Posteriormente, vamos fazer uma cerimónia de discursos, com uma pessoa designada para falar sobre a história de vida do Tenente Francisco José Dias. Cada banda vai fazer o seu concerto, que vai durar entre 35 minutos a 45 minutos. Após os concertos, vamos entregar uma lembrança do festival, conviver e depois um grupo vai actuar para fechar o dia de Domingo.
Esta festa começou no dia 4, ontem, e apenas terminará no dia 8, Segunda-feira. Vamos ter grupos a actuar em todos os dias da festa.
O festival vai contar com uma banda do Alentejo. Como surgiu esta oportunidade?
Está inserida no intercâmbio que fizemos no ano passado, quando fomos ao Alentejo. Como este ano seria a vez da Sociedade Filarmónica Corvalense de vir cá, escolhemos a data do festival para a chegada deles.
Como foi a preparação do festival?
Recebemos uma banda aqui em quase todos os anos. Foi uma preparação normal. Fomos buscar a banda do Alentejo ao aeroporto e já foram ao Quintal dos Açores, ao miradouro Vista do Rei, à Lagoa das Sete Cidades, às Furnas, à Fábrica do Chá e ao Ilhéu dos Mosteiros. E voltam para Portugal Continental esta Segunda-feira.
A Banda Harmonia Mosteirense fez 141 anos no dia 24 de Junho. Como foi comemorado na altura?
Comemoramos no dia 24 de Junho, que é, curiosamente, o dia do São João. Este ano, comemoramos o São João a tocar nas marchas da Vila Franca do Campo. Foi muito engraçado! Durante toda a marcha, as pessoas só nos davam os parabéns.
Como a banda do Alentejo só conseguiria vir no primeiro semana de Julho, decidimos juntar o útil ao agradável: juntar o festival e o aniversário dos 141 anos. Por isso, estamos a comemorar os 141 anos este fim-de-semana.
Neste momento, quantas pessoas fazem parte da banda?
Estamos com 67 elementos, com 10 elementos de direcção e quatro estandartes. É uma banda grande que tem feito grandes projectos, como o projecto que fizemos com um dos maiores maestros de Portugal, Délio Gonçalves, maestro da Banda da Marinha Portuguesa (Banda da Armada Portuguesa), o concerto que fizemos no Teatro Micaelense, em Dezembro de 2023, com a Dulce Ponte, e o espectáculo que fizemos também no Coliseu Micaelense, em Março de 2024, com o músico José Cid.
Este Verão, vamos agora no primeiro fim-de-semana de Agosto às festas do Faial, à Semana do Mar, onde vamos estar durante uma semana, e também vamos estar nas festas. Temos um grande projecto em Novembro, que é o ‘Açores, Terra do Mar e de Fogo’, que engloba artistas dos quatro cantos do mundo: vamos ter uma artista que vem de Buenos Aires, Argentina; uma artista que vem da China e um artista que vem de Cabo Verde. Temos um elenco de luxo. Em Outubro, teremos um estágio intensivo com o maestro para nos preparar. É um projecto que vai ser muito caro, principalmente com as viagens da Argentina e China. Não é fácil, mas vamos em frente!
Somos uma banda muito activa e já muitos projectos para o futuro. Tem que ser assim para atrair os músicos para virem aos ensaios e ensaiarem músicas novas. Por ano, ensaiamos quatro ou cinco repertórios diferentes para vários projectos.
Qual é a faixa etária predominante da banda?
Temos muitos jovens. É uma banda que 90% dos elementos são jovens até aos 30 anos.
Acredita que o gosto pela música está incutido aos jovens?
Está incutido derivado a esses mesmos projectos, que os obriga, no bom sentido, a estar aqui na sede a estudar. Fazemos um trabalho físico que não é reconhecido: tirar os jovens dos cafés e dos maus vícios e trazê-los para a banda. Não há preço que pague por este trabalho.
E como surgiu o gosto pela música?
Sempre tive gosto pela música. Comecei a tocar música com 14 anos e já estou com 55 anos. Já são 41 anos nesta vida. Sou presidente da Banda Harmonia Mosteirense há 15 anos. Digo que quase já não vivo sem a música. E esse bichinho está cá dentro. Temos que ter por trás uma grande família que nos compreendem e que nos percebem quando ficamos impedidos de ir passear ou passar a tarde na praia nos fins-de-semana, porque temos um serviço para fazer. Faço e faço porque tenho uma grande mulher por trás que me ajuda nestes momentos.
Como tem sido o percurso da banda nos últimos anos? Houve momentos complicados?
A pandemia, por exemplo, foi muito complicada para nós e para todas as bandas. Durante esse período, também não paramos. Fazíamos gravações em casa e depois juntávamos tudo num vídeo. Era uma forma para não se esquecerem como se tocava os instrumentos. A partir daí, continuamos com a nossa escola de música.
Afirma que os Mosteiros é “freguesia de música”. Há grande apoio dos residentes dos Mosteiros em prol da banda?
Sempre foi assim! A população apoia muito a sua filarmónica. Costumo até a dizer que os Mosteiros é um viveiro de músicos!
Filipe Torres