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Crónica da Madeira – Liberdade, liberdade … Dramaturgia e encenação de Roberto Merino

“A Luta de Conquistas na construção de um mundo melhor, um País melhor e uma melhor e mais rica Autonomia.”

Quando inesperadamente o encontrei, numa das ruas do Funchal a cidade iluminou-se na força de um abraço de amizade que conta com 47 anos de existência. Uma longa ausência que apesar de tudo o que nos rodeou, de bom, de mau, de ilusões e desilusões, a amizade, entre mim e Roberto Merino, não se alterou. Porque cada um de nós fez-se homem na evolução, na comunicação, na relação e no amor. Fortalecidos os sentimentos mantem-se sempre viva a amizade, mesmo quando não se conviva, todos os dias. O amor e a amizade dão todo o sentido à vida.
Conheci Roberto Merino, há anos, quando Pinochet, roubando a liberdade aos chilenos organizou, com os seus tirânicos generais, o derrube de Salvador Allende, com o seu assassinato. Quando o Chile vivia essa época dolorosa, trágica, de perseguições, assassinatos, com cenas e atitudes horripilantes de torturas e desaparecimento de pais e filhos, a mando de oficiais, Roberto Merino, porque recusou vender a alma a Pinochet, veio para a Madeira viver e aqui desenvolveu um trabalho notável em prol do teatro, ao tempo uma atividade praticamente inexistente. Ligado aos Serviços Culturais da Camara do Funchal, dirigidos pelo saudoso Fernando do Nascimento, Roberto Merino assumiu a direção artística e como encenador no Grupo do teatro Experimental do Funchal, introduziu uma produção universal, diversificada, incluindo o teatro infantojuvenil, tão esquecido, naquela altura.
Roberto Merino impôs-se no meio local não só pelo seu excelente trabalho, uma valiosa colaboração, que abriu novos horizontes, mas também pela sua simpatia, pela sua honestidade, pelo respeito que sempre teve pelos demais. Durante os cinco anos que esteve no Funchal, acompanhei-o, admirando-o justamente pelo seu profissionalismo, pela sua determinação em colaborar com os outros na sua valorização. Durante anos, em tertúlias, na esplanada do café do Teatro, convivíamos: Virgílio Pereira Presidente da Camara do Funchal, Maria Aurora e Fernando Nascimento. Algumas vezes, juntavam-se a nós o Jornalistas, Tolentino de Nóbrega e o Poeta Jornalista José António Gonçalves.
Roberto Merino, esteve no Funchal em abril passado, a convite do TEF/ATEF para montar a sua peça “Liberdade, Liberdade”. O texto e uma encenação que mereceram os maiores encómios do público, nas suas quinze representações. Um sucesso merecido. O contexto histórico da peça assenta em cenas que vão de Spartacus, à Revolução dos Cravos, passando por Júlio Cesar, Joana D´Arc, Damiens, A revolução francesa, Adelitas, A Guerra Civil Espanhola. Por fim As Revoltas Populares da Madeira. Uma evocação bastante elucidativa.
Com um categorizado elenco de interpretes; Pedro Monteiro, Sara Cíntia, Alice Viveiros, António Plácido, Artur Aguiar, Dâmalis Lobato, Eduardo Luís, Ester Vieira, Francisco Corte, Isabel Parker, Luana Jesus, Luciano Moniz, Marco de Gois, Margarida Gonçalves, Nuno Henriques e Susana Capitão. Felicito todos pelo empenho e entusiasmo postos que resultou no êxito das 15 representações.
Roberto Merino deixou o Funchal em 1982 e fixa-se na Cidade do Porto. Ali criou os primeiros cursos universitários de Teatro e Animação Cultural. Com esta iniciativa ele proporcionou novos conhecimentos aos jovens estudantes. Enriqueceu-os culturalmente. Descobriu novos talentos.
Palavras de Gratidão
“Sempre reconheci a importância que tiveram para mim estes anos de teatro na Madeira, foram anos de juventude de todos nós, de afirmação experiência e experimentalismo, também anos de bondade, sacrifício e partilha.
Hoje o TEF oferece-me uma oportunidade única, uma dádiva, de reencontro com esse passado, mas projetada no presente e no futuro. Não posso deixar de lembrar aqueles que foram um pilar de amizade. Apoio e colaboração na minha gestão artística; os saudosos amigos Virgílio Pereira, Fernando Nascimento e Maria Aurora. Também o sempre amigo João Carlos Abreu.
Hoje junto do Eduardo Luís, Antonino Plácido e Ester Vieira, um grupo de experientes atores e atrizes, e novos valores artísticos, inundam o palco que fará desta Liberdade, Liberdade… uma referência de Teatro, documento inspirado na história da Humanidade, do homem/mulher na luta de conquistas na construção de um mundo melhor, um Pais melhor e uma melhor e mais rica autonomia.”
Meu Caro Roberto Merino reencontrar-te foi uma felicidade; foi um viajar no tempo a 1977 quando em tertúlias de amizades trocávamos ideias, baseadas nas nossas preocupações de uma abertura mental dos madeirenses, para que mais se valorizassem e acreditassem nas suas inúmeras capacidades e talentos; que perdessem muitos dos seus medos e preconceitos.
Felizmente, hoje isso já não se verifica, foram muitas as contribuições para que cortassem as amarras. O TEF com as suas produções ajudou também.
Passados estes quarentena e sete anos, agradeço-te pelo trabalho que realizaste. Nem sempre a tua missão foi entendida, mas com a tua determinação, com o teu amor pelo teatro, demonstrastes quanto esse era importante no contexto da sociedade madeirense.

Valeu a pena, um pedaço de ti ficou aqui.

Por: João Carlos Abreu

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