Os sistemas de saúdes são complexos, porque interdependentes de variáveis internas e externas, num sistema dinâmico e em constante mudança.
Esta mudança constante acelera com a evolução tecnológica, com a evolução demográfica, com a evolução dos custos, com a evolução da ciência médica nas vertentes diagnósticas, preventivas, curativas, de acompanhamento e manutenção, de paliação; e ainda do fator ainda muito consistente que é o grau de iliteracia em saúde.
Se de um lado estão os utentes e os prestadores de cuidados em saúde, duas variáveis previsíveis, do outro lado estarão variáveis externas imprevisíveis como as pandemias, as catástrofes naturais ou acidentais, como foi o incêndio no HDES; as doenças emergentes; novas tecnologias e terapêuticas que exigem saber agir e capacidade de aquisição, controlo dos custos crescentes, estudo de novas formas de financiamento, e nesta fase a reparação dos danos estruturais e funcionais.
Em Saúde, planificar exige uma complexidade de intervenientes e variáveis próprias do sistema; e o que mais se tem observado foi o agir sem planificar ou o planificar sem agir, causa direta das crises do nosso Sistema de Saúde.
Não se trata de mudanças de paradigma. A saúde é para todos; tudo bem! Mas se não chega a todos é porque algo ainda não mudou, ou não se entendeu ou conseguiu esta mudança.
Sendo um problema de todos nós, relembramos o imperativo de tornar público o plano estratégico para o HDES e Ilha de S. Miguel, suas condicionantes e fontes de consulta, sob pena de se perderem oportunidades se atuarem ao velho modo de “em tempo de guerra não se limparem armas”
Entretanto o que parece é isto. Acampemos; e depois veremos o que fazer. Esta crise assistencial agravada com a fatalidade do incêndio no HDES, deve ser motivo para com maior premência fazermos o que não foi feito; e não interessa o porquê; porque sabemos e admitimos que a saúde que não tem preço, tem um custo. Mas será que alocamos o necessário? Parece que não, ou nunca o fizemos.
Chegados aqui, sem reforma transversal do sistema, incluindo-se uma definição clara das fontes de financiamento, levar-nos-á a questão fundamental da definição de que sistema de saúde queremos ou podemos ter. Não é possível melhorar as condições atuais, nem suportar um sistema que vive de dívidas. A não planificação, o desperdício e o subfinanciamento, têm sido a maior doença crónica da saúde.
O nosso orçamento regional para a Saúde, está refém destas premissas. Está refém da reconstrução e da construção de novas e adequadas instalações sem um orçamento retificativo, está refém das reformas que não acontecem; porque se quisermos ter um Sistema de Saúde adequado à saúde que não tem preço, vamos ter um custo que temos que poder financiar. Ainda não nos explicaram isso!
Por: Dionísio Faria e Maia (médico)