Foi apenas no Secundário que Margarida Almeida decidiu que ia ser médica. Actualmente vai para o 4º ano do curso de Medicina e prepara-se para deixar os Açores rumo a Coimbra. Gosta de partilhar o seu dia-a-dia através de VLOGS de forma a poder inspirar os seus seguidores com o seu estilo de vida. Ao ‘Correio dos Açores’, fala sobre o seu percurso, quais são as qualidades que um influencer deve ter , qual é a rotina de uma estudante de Medicina na Universidade dos Açores e assume que “gostaria que os meus filhos vivessem o que eu vivi” …
Correio dos Açores – Como tem sido o seu percurso?
Margarida Almeida (Estudante de Medicina e Influencer): – Dividi o Secundário entre a Escola Domingos Rebelo e o Liceu Antero de Quental, tendo finalizado o Secundário neste último. Já tinha decidido que queria estudar na Universidade dos Açores porque já sabia muito bem os benefícios que existem entre a Universidade dos Açores e o Hospital Divino Espírito Santo. Queria entrar em Medicina, e tinha a certeza que o iria conseguir.
Nem sempre quis seguir Medicina. Quando era pequena tinha pânico de tudo o que envolvia o Hospital. A partir do 10º ano é que comecei a interessar-me por Medicina, comecei a perceber que gostava de lidar e falar com pessoas e de me sentir útil na vida delas. Juntar esta parte mais emocional e carismática a uma parte mais científica, que acho que é tão bonita, não tinha como escolher outro curso. Nem me vejo, de todo, a estudar outra coisa que não Medicina. Acho que é mesmo o curso certo para mim.
Como tem corrido a licenciatura?
Tem corrido super bem. Muito difícil, muito trabalhoso, mas não é o que as pessoas acham que é, desde que nós gostemos do que estamos a estudar e não ver como algo que nós vai trazer algo. Medicina, principalmente em Portugal, e nesta fase não pode ser apenas pelo dinheiro. Temos mesmo de gostar e querer fazer o bem maior de ajudar as pessoas senão não compensa.
Infelizmente acabamos por sofrer bastante durante o curso e depois na entrada para o mercado de trabalho, público e no Serviço Nacional de Saúde, acaba por ser mais difícil tendo em conta as condições em que estamos. Por isto é preciso gostar muito.
O incêndio que ocorreu no hospital teve algum impacto junto da comunidade escolar?
Sem dúvida. Basicamente a nossa vida no hospital parou. Nós, alunos do 3º ano, passamos entre duas a três manhãs por semana lá. Há alunos que passam o dia todo, outros que separam em duas ou três manhãs. A nossa sorte, que não é sorte nenhuma na verdade, é que foi no final do semestre, faltavam poucas semanas para acabar.
Todo o tempo que pudermos estar no Hospital é tempo valioso para nós. Sem dúvida que onde podemos aprender mais é com as pessoas que já estão a trabalhar, é na prática mesmo.
Relativamente aos outros anos, também pararam completamente. Não sabemos como vai ser para o próximo ano lectivo relativamente ao Hospital. Sei que as coisas estão a ficar melhores e aos poucos estão a voltar à normalidade, mas tudo o que seja voltar à normalidade dos alunos no que diz respeito aos acessos que tínhamos, não sei como vai ser. Mas, sem dúvida que nos prejudicou bastante.
Está preparada para a mudança que a sua irá ter quando for estudar para Coimbra?
Estou preparada em termos mentais e, obviamente, que quero muito ir. Sabia que isto ia acontecer no fim dos três anos. Acho que é a melhor altura para ir estudar para o continente, uma vez que vou para lá com quase 21 anos. Se tivesse ido aos 17 anos seria muito cedo. Tenho a certeza que vou aprender muito mais sobre o que eu gosto.
Tenciona depois exercer cá?
Sem dúvida nenhuma. Quero viver tudo o que tenho para viver lá fora. Relativamente à minha especialidade não sei quando vai ser e não sei se a consigo tirar no HDES tendo em conta a situação do hospital. Espero que consiga estar normal quando estiver na hora de tirar a minha especialidade. Vir para trabalhar para cá é quase um ponto certo.
Quero constituir família cá em São Miguel e quero que os meus filhos possam ter a oportunidade de viver o que eu vivi.
Como aconteceu o aumento grande de seguidores que tem nas redes sociais?
Eu comecei a produzir conteúdo desde Março. Antes já fazia uns vídeos para a rede social TikTok mas eram algo que acontecia muito raramente.
Na altura peguei num VLOG que tinha feito para o TikTok e coloquei noutra rede social, o Instagram, a pedido de um amigo meu que tinha visto. Ele disse-me para colocar o vídeo e esquecer a vergonha, esquecer as outras opiniões e colocar. Apesar de eu nunca ter ligado muito à opinião que as outras pessoas têm sobre mim e de viver a minha vida consoante quero vivê-la, publiquei. Correu bem e passado uma semana voltei a publicar outro VLOG.
Fui publicando com mais regularidade e inicialmente, o número de seguidores ia subindo devagar. Os VLOGS começaram a ter muito alcance em Portugal e foi a partir de um vídeo, que tem mais de um milhão de visualizações, que comecei a ter um grande número de seguidores. Cheguei a ter mais de mil seguidores novos num dia. Claro que isto não é um crescimento de todo saudável, os vídeos virais não são bons. Para quem quer ter muitos seguidores é óptimo, mas para quem quer construir uma comunidade e passar uma mensagem, nem sempre é bom porque as pessoas podem não estar ali pelos motivos certos.
Agora o número de seguidores está mais estável. Tentei arranjar algumas estratégias para ir controlando estes crescimentos gigantes porque não é de todo o meu objectivo. Quero que as pessoas me sigam para ouvir o que tenho para dizer e não pela minha aparência.
Como lida com a crítica não construtiva e, por vezes, desnecessária?
Não deixo que as pessoas me incomodem através de algo que adquiri com o meu trabalho. Não deixo que perturbem a minha paz. Assim que recebo algo que não seja construtivo ou desnecessário, bloqueio a pessoa que mandou. Não vou permitir que venham contaminar o ambiente que estou a construir. Inicialmente o primeiro comentário tenha me incomodado um pouco, mas levei como aprendizagem para poder lidar melhor com isso no futuro. Sempre me considerei uma pessoa forte psicologicamente e nunca deixei me afectar pela opinião dos outros. Se deixasse não teria começado a fazer isto. Sabia que os comentários iriam acabar por vir e quando as pessoas não dão a cara, diz mais sobre as mesmas do que sobre o comentário que fizeram.
Porque pensa que as pessoas fazem perfis falsos para poder criticar as outras?
Do ponto de vista de quem leva com a crítica acaba por ser mais intimidade quando a pessoa mostra a cara. Significa que a pessoa não se importa do que as outras pessoas irão pensar acerca da sua opinião.
Mas não consigo compreender quem faz um perfil falso para comentar e criticar. Era mais fácil não perderem tempo com isto senão se identificam com o que tenho a dizer.
Que tipo de conteúdo produz?
Acabo por fazer um pouco de tudo uma vez que o meu essencial é lifestyle, mostro o meu estilo de vida. Quando estava em época de exames, que acabou recentemente, mostro tudo o que tem a ver com a minha rotina como estudante de Medicina. Mostro a minha realidade que é diferente da realidade de outros estudantes de Medicina.
Também faço vídeos relativos a saúde, bem-estar, alimentação e ginásio. Também vou mostrando um bocadinho da minha vertente com os estudos. Acho que devido a esta parte que as pessoas começaram a se interessar mais e desconstruir a ideia de que o aluno de Medicina passa a vida a estudar. Passa a vida a estudar se quiser, senão tem tempo para fazer muitas outras coisas.
Algo que tenho vindo a aprender desde que tenho uma alimentação mais regrada, com fazer vídeos e ir ao ginásio é que quanto mais preenchermos o nosso horário aprendemos melhor a dividir as coisas. Acabamos por conseguir fazer mais coisas.
É difícil conciliar os estudos e a produção de conteúdos com uma vida social activa?
Eu acabo por não descansar. O meu tempo de descanso acaba por ser a produção de conteúdo. O meu descanso é a dormir ou nos meus passatempos. Nas últimas quatro semanas passei 10 horas por dia a estudar para os exames. Durante o semestre as coisas não são assim tão lineares. Os estudantes de Medicina são as pessoas que, por saberem que têm de estudar muito mais para o fim do semestre, são aqueles que aproveitam melhor as celebrações. Claro que há quem não o faça, porque não se identifica.
Como define a palavra influencer?
Do meu ponto de vista acaba por ser quase o que disse relativamente à Medicina. É querer, através do meu conhecimento, ajudar o outro sem receber nada em troca. Através de mostrar o que faço a inspirar o teu estilo de vida para algo melhor.
Eu só tenho este estilo de vida porque houve pessoas a produzirem conteúdos e que me motivaram a ter este estilo de vida. Se eu gosto de consumir estes conteúdos, porque não fazê-los também? Para haver pessoas que se sentam a consumir, tem de haver pessoas a produzir.
Que características deve ter um bom influencer?
Tem de ser completamente genuíno. As pessoas ficam pela autenticidade e pela genuinidade. Temos de mostrar quem somos. Depois temos de trazer algo que acrescente à vida da pessoa. É preciso dar o nosso toque pessoal, seja qual for o tema. Também, é muito importante usarmos a nossa voz. Ser verdadeiro e dizer quais são as nossas opiniões. Isto vai fazer com que muita gente não nos siga, mas também o contrário acontece porque partilham a nossa opinião.
Que tipo de parcerias já estabeleceu?
Neste momento estou a trabalhar com a Prozis. É a maior marca de Portugal e é uma marca de vestuário e nutrição desportiva. Também vou recebendo algumas ofertas de marcas mais pequenas portuguesas, que é o que tento aceitar para promover o que é nosso e ajudar novos empreendedores. Já recebi jóias e acessórios para desporto.
Dos Açores ainda não aconteceu estabelecer alguma parceria, mas gostava. Tenho muito orgulho de viver nos Açores e faz todo o sentido.
Que conselhos tem para quem pensa ser influencer?
Têm que trazer alguma coisa e têm de vir pelos motivos certos. Eu não comecei com o objectivo de tornar isto um trabalho. Tenho como objectivo ir modelando este perfil até ser médica para começar a promover medidas de saúde e fazer literacia para a saúde. É importante serem verdadeiros e honestos. Se fizerem isto, vão haver sempre pessoas que se identificam com o que têm para dizer.
Frederico Figueiredo